A breguice cultural que ocupou, de forma quase totalitária, várias reservas de mercado, usando o discurso da "cultura das periferias" e o "combate ao preconceito", criou novos e mais cruéis preconceitos.
A música de qualidade bastante duvidosa, mesmo a pretensamente sofisticada - como os arremedos de MPB feitos por ídolos veteranos da "geração 90" de "sertanejos" e "pagodeiros românticos" - , usou o discurso politicamente correto do "combate ao preconceito" para forçar o apoio da opinião pública e abocanhar novas fatias do mercado, atingindo públicos de maior poder aquisitivo.
Daí que, durante mais de uma década, entre 2003 e 2014, prevaleceu, na grande mídia, o discurso de que os chamados "sucessos do povão" representavam a "cultura popular autêntica" foi propagado de maneira tão insistente, forjando uma pretensa unanimidade, que praticamente acostumou mal o gosto dos jovens que passaram a ouvir música de péssima qualidade.
O preconceito passou para o lado da MPB. Ela só é aceita quando tem o filtro da grande mídia. Se está na trilha de novela da Globo, é o tema de um núcleo romântico ou está relacionada a uma minissérie, aparece no Domingão do Faustão etc, a MPB é "aceitável", entra no cardápio auditivo do grande público.
Se a MPB aparece nas FMs comerciais, ela tem vez. Caso contrário, não há como insistir aos jovens que aquele bossanovista teve um grande valor artístico no seu tempo, que aquele músico mineiro criou coisas geniais, que o emepebista menos badalado tem um som de primeira que o jovem só reagirá com desprezo e até com esnobismo.
GERAÇÃO NASCIDA ENTRE 1978-1983 ERA AINDA MAIS PRECONCEITUOSA
Nomes como Turíbio Santos, Toninho Horta, Sylvia Telles, Zimbo Trio, Guinga e outros de grande valor é que passaram a ser vítimas de preconceitos. Eles é que são rejeitados pela "juventude transada", até mesmo pelos universitários que, pasmem, preferem ídolos do nível de Wesley Safadão e companhia.
A ruindade musical passou a ser associada a supostos conceitos de "rebeldia", "intuição artística" ou então é vista sob o prisma do coitadismo. Tudo virou desculpa para creditar o folclore do futuro ao jabaculê musical dominante nas rádios e TVs.
A geração de jovens nascidos entre 1978 e 1983 era ainda mais preconceituosa, fechada no tempo (nada mais antigo do que o que ouviram na infância), só ouviam breguices e o pop-rock de seu tempo e custaram a reconhecer que o mundo girava antes deles nascerem, sendo preciso conviver com pessoas mais velhas assim que entraram no mercado de trabalho, aos 25 anos de idade.
Quem nasceu depois de 1983 é que parece mais flexível, mas mesmo assim não abre mão de curtir a breguice, apenas aceitando algumas brechas de qualidade só para não parecer tão "radicais" e "intransigentes" do que a geração imediatamente anterior. Mesmo assim, a preferência às músicas de gosto duvidoso continua de pé.
Portanto, não é o preconceito cultural que acabou. Ele, na verdade, está ocorrendo agora, quando os valores culturais autênticos é que passam a ser rejeitados, criando injustiças nos grandes emepebistas, sobretudo os que não transitam na órbita da Globo.
Acusados de "elitistas", "meritocratas" ou, pelo menos, "chatos", os grandes emepebistas não conseguem sair de seus redutos cada vez mais fechados, que já nem podem chamar de espaços alternativos, porque o underground é tão restrito e fechado que mais parece uma maçonaria. Pudera, vivemos a cultura medieval da Idade Mídia.
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