Um depoimento de um delator abalou as estruturas da Operação Lava Jato.
O advogado Rodrigo Tacla Duran, considerado foragido da Justiça e vivendo na Espanha, deu um depoimento por vídeo conferência na CPI da JBS, fazendo inúmeras revelações.
As maiores delas estão relacionadas ao envolvimento do advogado Carlos Zucolotto Jr., amigo de Sérgio Moro e padrinho do casamento deste com Rosângela Moro, com esquema de propinas.
Duran já foi cliente de Zucolotto e tentou acertar um acordo de delação premiada para o Ministério Público Federal.
Esse acordo acabou sendo recusado pelo próprio Rodrigo, porque lhe imputaram crimes que ele afirma não ter cometido.
Tacla Duran foi prestador de serviços do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht. Também trabalhou para outra empreiteira, a UTC.
No acordo de delação, tentou-se negociar o valor da multa que Tacla Duran teria que pagar caso fechasse esse acordo.
A negociação envolveria um pagamento "por fora" de R$ 5 milhões de Tacla a Zucolotto para que ele reduzisse em 1/3 o valor da multa de US$ 15 milhões.
Zucolotto teria se proposto a "ver com DD se ele melhora isso".
Aparentemente, as iniciais são um mistério porque Duran disse não saber quem é o tal DD.
Mas muitos desconfiam se tratar de Deltan Dallagnol, membro da força-tarefa da Lava Jato, o homem a intermediar o referido acordo.
Sérgio Moro confirmou a amizade com Zucolotto, mas desmentiu que seu compadre tenha tido relações com Tacla Duran.
Segundo Tacla, Zucolotto já defendeu Sérgio Moro, além do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, e foi sócio num escritório da esposa de Moro, Rosângela Moro.
Duran também divulgou uma planilha que seria uma lista de pagamentos feitos ao escritório de Zucolotto, divulgada pela coluna Radar, da revista Veja.
A planilha foi incluída na declaração de imposto de renda de Duran, que teve Zucolotto como correspondente seu no Brasil em ações na Justiça.
A lista inclui o nome da advogada Rosângela Wolf de Quadros Moro, ninguém menos que a esposa do juiz Sérgio Moro.
Tacla Duran afirma ter recebido propostas ilegais de delação premiada do então procurador do MPF, Marcelo Miller, que chegou a atuar na Lava Jato, mas foi acusado de manobrar as delações premiadas dos donos da JBS e J&F, em troca de vantagens.
Sérgio Moro também tentou desmentir que Zucolotto atuasse em área criminal. O próprio compadre defendeu Moro num caso do tipo, e Tacla afirmou terem registros públicos sobre isso.
Tacla também gravou as fotos da conversa com Zucolotto através de um aplicativo, Wickr, que apaga os arquivos depois que são enviados.
CARLOS ZUCOLOTTO, O CASAL MORO E UMA AMIGA COM INTEGRANTES DA BANDA MINEIRA SKANK, QUANDO SE APRESENTOU EM CURITIBA.
Há uma foto que circula na Internet com o casal Moro e o compadre Zucolotto, mais uma amiga, prestigiando o Skank num dia em que a banda mineira se apresentou em Curitiba.
Nas mídias sociais, Zucolotto tentou apagar esta e outras imagens que mostravam ele com Sérgio Moro.
Tacla Duran denunciou também que a Odebrecht, talvez sob pressão da Lava Jato, teria adulterado dados de propina, apagando o sistema original de registros para dificultar a perícia.
Outra denúncia de Tacla Duran é que Sérgio Moro rejeitou o pedido dos advogados de defesa de Lula para que o delator atuasse como testemunha de defesa.
Moro usou como desculpa desconhecer o endereço de residência de Tacla, mas este afirmou que o endereço é de amplo conhecimento de autoridades brasileiras e espanholas.
Tacla fez um depoimento de três horas e meia.
A grande mídia tentou minimizar o episódio, que denuncia acordos ilegais de delação premiada da Operação Lava Jato.
O Globo noticiou, mas deu a palavra final para Sérgio Moro, que disse que Tacla Duran "não merece crédito", e Carlos Fernando, que acusou o delator de ser "mentiroso contumaz".
A Folha e o Estadão interpretaram as adulterações da Odebrecht enfatizando a "fraude nas provas contra o presidente Michel Temer", como se Tacla quisesse salvar a pele do temeroso governante.
Os dois periódicos paulistas também deram pouco destaque ao caso.
Voltando às denúncias, Tacla disse que os depósitos estrangeiros do casal que atuou na campanha de Dilma Rousseff, João Santana e Mônica Moura, foram omitidos pela Operação Lava Jato.
As duas contas não foram bloqueadas, criando uma suspeita de que o casal, que delatou contra Dilma e são duas peças-chave na campanha jurídico-midiática contra o PT, foi favorecido por procuradores.
As denúncias de Tacla Duran podem ter seus pontos discutíveis ou que precisam ser investigados, mas ele de alguma forma mostra os bastidores sombrios da Lava Jato.
A Operação Lava Jato anunciou que 2018 será o ano de sua batalha final, o que se subentende que isso inclui banir Lula de concorrer à Presidência da República.
O que se pode concluir é que o depoimento de Tacla Duran caiu como uma bomba para aqueles que imaginam que a Operação Lava Jato era uma medida comprometida com a transparência e o fim de práticas ilícitas na política e na economia do Brasil.
E muita coisa ainda aparecerá a partir desse depoimento, que gerá muitos desdobramentos.
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