O ensino superior brasileiro, que deveria ter um tratamento do mais alto respeito e cuidado, está sendo sucateado.
Não são só as universidades públicas. As particulares, também.
E não se fala da falência da Universidade Gama Filho, instituição carioca na qual comecei a cursar Comunicação Social, hoje um prédio abandonado na Piedade, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro.
Aquilo tinha sido um caso isolado, e olha que a UGF foi muito apoiada pela ditadura militar. Seu fundador, Luís da Gama Filho, foi político e, durante a ditadura, era filiado à ARENA.
Fala-se no atual contexto, que os aloprados, bitolados e desavisados de 2016 acreditavam ser maravilhoso.
Com as "novas" regras trabalhistas, as universidades privadas estão demitindo muita gente.
A Universidade Metodista, de São Paulo, anunciou a demissão de 60 professores.
As Faculdades Metropolitanas Unidas, também em São Paulo, anunciaram a demissão de pelo menos 200 docentes.
A Universidade Uniritter, no Sul do país, afirmou a demissão de 100.
As Faculdades Anhembi-Morumbi, da capital paulista, anunciou a demissão de, pelo menos, 150.
A Universidade Estácio de Sá, de origem carioca mas espalhada pelos vários cantos do Brasil, anunciou a demissão de 1.200.
Tanto a instituição Anhembi-Morumbi quanto a Estácio de Sá foram famosas, nos anos 1980, por rádios alternativas de rock, a Brasil 2000 FM e a Estácio FM.
As duas rádios foram, aos poucos, desmontadas.
A Brasil 2000 sucumbiu a ser uma clone fajuta da já fajuta 89 FM, que, atualmente moribunda, hoje reduzida a uma espécie de Movimento Brasil Livre das rádios rock.
A Estácio, combatida pelo marketing de guerrilha da Fluminense FM (cujos órfãos se recusaram a fazer o mesmo com a canastrona Rádio Cidade, trinta anos depois), virou uma raquítica FM de pop adulto.
Os desmontes já sinalizavam para a reestruturação, mas era compreensível que as college radios tenham fracassado no Brasil, diante da imbecilização cultural dos anos 90.
Mas não se imaginava que esse desmonte viria para as universidades particulares, aparentemente as vedetes dos temerosos tempos que muitos acreditavam que iriam salvar o país.
Imaginava-se, sim, que as universidades públicas fossem sucateadas.
Condução coercitiva para reitores e ex-reitores, corte de luz, ameaça de outras sanções por causa de dívidas das instituições públicas.
Em ambos os casos, há, nas universidades públicas e privadas, o estrangulamento do saber e da qualificação profissional.
Pelo menos na ditadura militar, se pensava na qualificação profissional, embora sufocasse o lado do conhecimento crítico e da compreensão aprofundada e objetiva da realidade.
Isso era ruim, e a forma com que se estrangulou um lindo projeto como foi a Universidade de Brasília é um fato que ilustra esse drama.
Mas se a coisa era repressiva naqueles tempos, hoje está mais caótica.
O ensino superior privado também passa por um desmonte, tido como "reestruturação".
Demissões em massa para darem lugar a contratações sob condições precarizadas de trabalho.
Salários menores, perda de encargos, trabalho intermitente que é uma pegadinha.
Afinal, é um trabalho sem horário fixo, mas que traz um rendimento mensal menor, somadas todas as tarefas designadas.
Isso força o "trabalhador sem horário fixo" a aumentar a carga horária em até 12 horas diárias para ter um salário próximo do quase digno.
Será horrível, afinal os professores das universidades particulares não poderão ter tempo livre para se reciclarem.
O ensino superior se deteriorará, tanto nas universidades públicas quanto nas particulares.
Quem perde é o Brasil.
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