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UNIÃO PELO CENTRO OU PELA ESQUERDA? E OS INFILTRADOS E A DIREITA FLEXÍVEL?

MARCELO FREIXO E MC LEONARDO, ESTE REPRESENTANTE DO "FUNK CARIOCA", RITMO PROTEGIDO PELAS ORGANIZAÇÕES GLOBO.

A declaração de Marcelo Freixo em entrevista à Folha de São Paulo, de não acreditar na união das esquerdas em 2018 abriu espaço para muitos debates.

Freixo abriu a parte da Caixa de Pandora do esquerdismo que a queda de Dilma Rousseff não abriu.

Fez muita gente pensar até que ponto as esquerdas devem se unir entre si ou entre não-esquerdistas aparentemente solidários.

Culturalmente, acreditou-se que o "funk" iria unir as esquerdas, o que foi um grande engano.

O "funk carioca" se inspirou na cena musical-comercial de Miami, um reduto anti-castrista no qual nem o cenário do miami bass, ligado aos subúrbios da Flórida, se identifica com o esquerdismo.

O "funk" cresceu porque seus empresários-DJs se aliaram à Rede Globo e à direita política fluminense, que investiram muito neste ritmo que, nos anos 90, se ascendeu estranhamente mantendo um rigor estético sonoro, nivelado por baixo.

O discurso "esquerdista" do "funk", difundido desde 2002, foi só uma falácia para fazer o "funk" arrancar dinheiro das verbas públicas do Ministério da Cultura, via Lei Rouanet.

Nos bastidores, os funqueiros falam mal das esquerdas, eles querem amestrar os esquerdistas, acham que a pauta dos movimentos progressistas é radical demais, usam o "funk" para desviar a agenda esquerdista de certos assuntos incômodos, como a reforma agrária.

Os maiores divulgadores do "funk", aliás, eram pessoas nada relacionadas com o marxismo.

Esses divulgadores são ninguém menos que Alexandre Frota, Luciano Huck, Casseta & Planeta, Xuxa Meneghel, Juliana Paes, Susana Vieira, Nelson Motta, Ana Maria Braga.

Sobretudo os dois primeiros. E as esquerdas acham que podiam se unir "balançando o popozão".

Mas o "funk" é só um aspecto do contexto em que Lula criou uma grande frente ampla na qual obteve vitórias eleitorais se aliando à direita, isolando apenas partidos como PSDB e DEM.

Houve um tempo em que Eduardo Cunha, Edir Macedo, Marco Feliciano e até Jair Bolsonaro eram "aliados" de Lula.

Sério. Foi em 2005. Partidos como o PMDB e os de direita de médio ou pequeno porte apoiaram o governo Lula. O desembarque político ocorreu aos poucos.

Com o golpe consumado contra Dilma Rousseff, perguntou-se se vale a pena apostar novamente nessa mesma medida de buscar alianças ecléticas.

Em quem os esquerdistas que apoiam Lula para a Presidência da República devem contar para se fortalecerem?

Será suficiente a união das esquerdas? Acredita-se que sim.

Mas e os infiltrados que se dizem de esquerda e fazem o jogo da direita? Existem vários desse tipo, inimigos internos que convidam as esquerdas para um chope, conquistam a total confiança, para depois armarem o bote e apunhalarem pelas costas.

E fazem isso sem dar a impressão de que cometem traição, pois continuam sendo os "sinceros amigos das horas difíceis".

Há intelectuais "bacanas", por exemplo, que exercem "bom esquerdismo", mas inserem valores culturais que nada tem a ver com esquerdismo, por mais que apelem para aparentes transgressões comportamentais.

Teremos que apoiar uma figura duvidosa, como Pedro Alexandre Sanches, que despejou os preconceitos da Folha de São Paulo nas esquerdas, sem uma visão de esquerda que fosse visceral, só porque ele fez aquela entrevista correta com o grande letrista Aldir Blanc?

Na Bahia, o barão da mídia Mário Kertèsz tomou para si a chave da visibilidade das forças progressistas locais.

Será que as esquerdas terão que se associar a Kertèsz, em troca de visibilidade e projeção, a exemplo dos roqueiros do Rio de Janeiro que, órfãos da antiga emissora Fluminense FM, foram forçados a aceitar em 2014 a Rádio Cidade para "fortalecer mercado"?

Em que ponto teremos que ir? Seguir Freixo e apoiar Boulos dentro de um contexto esquerdista muito mais contido? Ou, se for o caso, apoiar Luciano Huck em segundo turno?

Ou, mediante a reconciliação de Renan Calheiros com o ex-presidente Lula, vermos nele uma exceção como se viu na senadora Kátia Abreu, que se arrependeu do antigo reacionarismo e tornou-se, surpreendentemente, uma opositora sincera e, à esquerda, ao governo Temer?

O contexto mostra que o caminho está mais para um nó do que para uma encruzilhada.

O contexto mostra que existe uma Kátia Abreu, que foi do DEM, anti-petista histérica que inicialmente se opôs a Dilma Rousseff, mas que depois se tornou sua sincera aliada enquanto o papel de traidora foi trocado com Marta Suplicy, mais tarde apoiadora do governo Temer.

Mas o contexto não é assim tão simples. Não acredito, por exemplo, que Kertèsz e Sanches possam fazer algum papel relevante para o esquerdismo.

Da mesma forma que MC Leonardo, cujos escritos lembram os de Cabo Anselmo, aquele "marxismo de Washington"...

No âmbito da política, também não resolve as esquerdas apoiarem Marcelo Bretas ou passarem a apoiar Deltan Dallagnol ou Sérgio Moro, ou, por outro lado, Gilmar Mendes.

Ainda não sei qual o caminho rigorosamente certo para flexibilizar as alianças em prol de Lula.

Claro que não será o mesmo de 2002 nem de 2006.

A princípio, acharia mais razoável se PSOL e REDE fossem para o lado do PT.

Talvez uma aliança entre PSOL, REDE, PC do B, PCO, talvez chamando até PSB e PV, apesar de seus acenos direitistas.

Ou chamar setores progressistas que, até pouco tempo atrás, estavam no PMDB, hoje MDB. Ou ainda estão, esperando saída do partido, como o senador paranaense Roberto Requião.

Ainda há muitas dúvidas quanto ao cenário político, que só esperando 24 de janeiro para começar a se desenhar o quadro eleitoral.

Se Lula for condenado e preso, as esquerdas terão um novo desafio pela frente e novas questões a respeito de alianças eleitorais.

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