O radialismo rock está em crise desde os anos 1990.
É claro que essa crise não parece evidente, para muitos. Mas ocorria e continuava ocorrendo.
Mesmo quando grunge, poser, poppy punk e o "rock engraçadinho" brasileiro faziam sucesso e as rádios autoproclamadas "rock" pareciam ter grande audiência, o segmento estava decadente.
Nos anos 1990, rock era coisa de roqueiro, sim, mas fora da mídia. Dentro da mídia, rock era coisa de comediantes ou apresentadores mauricinhos. Meio Pânico na Pan, meio Luciano Huck.
Embora essas rádios vendam uma falsa imagem de "roqueiras" até em revistas como Rock Brigade ou em portais como o Whiplash, elas nunca passaram de meras rádios pop convencionais, que apenas tinham o rock como opção exclusiva do "vitrolão".
No caso da Rádio Cidade, não é a Política da Boa Vizinhança iniciada pelo aval da mídia musical séria como Internacional Magazine e consagrada pela complacência dos herdeiros da Maldita (Maldita 3.0 e Cult FM) e de rádios que iniciaram um bom caminho e desviaram dele, como a Kiss FM, que irá fazer da rádio dos 102,9 mhz uma rádio de rock séria.
Embora o repertório pareça quase esforçado - se bem que o fôlego inicial de fevereiro-maio já começa a diminuir - , a Rádio Cidade mais parece um canal de áudio da TV por assinatura.
Falam tanto que a Jovem Pan fase 102,9 era vitrolão, as rádios pop que atuavam nessa frequência eram vitrolão, mas o que se vê na Rádio Cidade de 1995 para cá, descontando hiatos diversos, não é outra coisa senão VITROLÃO DE ROCK.
O chamado estado de espírito roqueiro simplesmente inexiste. Na Rádio Cidade, só o toca-CD e o pen drive são roqueiros.
É irônico que Maurício Valladares não tenha gostado do radicalismo roqueiro do saudoso Alex Mariano, da Fluminense FM, mas sonha em ver um locutor poperó como Demmy Morales vestindo um jaquetão de couro.
E é também gozado que, para justificar a presença de Demmy na Rádio Cidade, tenha que superestimar seu currículo de radialista, com "larga experiência" em várias emissoras.
Aí percebemos que é um dos poucos casos em que um currículo errado vira garantia de emprego.
Tanta gente manda currículo cheio de funções que nada têm a ver e não arruma emprego.
Mas Demmy Morales tem currículo com várias passagens em rádios pop e isso é critério para ser contratado numa rádio que, em tese, quer soar como "rádio rock séria"?
Afinal, que diferença faz para o público roqueiro se um locutor tem experiência na Jovem Pan, na Mix FM e outras rádios pop?
Demmy pode ser do tipo que entende a posição certa do locutor diante do microfone, para sua voz estar no volume padrão.
Mas, como locutor de rock, ele é um incompetente. É um cara de fora, tem talento no seu meio, mas não no rock.
Daí que a experiência da Rádio Cidade em vestir novamente sua jaqueta de couro não está dando certo.
Tudo virou um faz-de-conta, com a Rádio Cidade fingindo que é rock e seus ouvintes fingindo que são roqueiros.
Enquanto isso, em São Paulo, a 89 FM virou uma Jovem Pan com guitarras, um meio-termo radiofônico entre Kim Kataguiri e Caio Coppolla. A 89 FM virou uma rádio "coxinha", comandada por Tatola, que veio dos mesmos círculos roqueiros do Ultraje a Rigor.
E como a Kiss FM agora se "jovempanizou", então não dá mais para ouvir rock no rádio, porque, salvo exceções, os microfones poperorizaram geral.
Tem programa de sexo, game show, roda-roda, piadas e futebol - na Kiss FM, Lélio Teixeira, o carrasco que derrubou a 97 Rock, tenta galvãobuenizar a cultura rock - , etc.
Rock, do bom e fora da obviedade do hit-parade, quase nada.
Mas como no Brasil a "cultura rock", dos anos 1990 para cá, virou uma masturbação de jovens bonitinhos, bolsomínions e reaças enrustidos, então prefiro ouvir rock no YouTube e ficar na minha.
E imaginar que, em 1983, eu me considerava muito careta para ouvir a Fluminense FM. Depois do Luiz Antônio Mello e seus parceiros mais diretos, eu sou um dos poucos a saber o que realmente é o radialismo rock.
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