Pular para o conteúdo principal

2019 FOI O ANO DA SUPREMACIA DO ULTRACOMERCIALISMO MUSICAL

ANITTA, WESLEY SAFADÃO, KEVIN O CHRIS E SIMONE E SIMARIA - ALGUNS NOMES DO ULTRACOMERCIALISMO MUSICAL BRASILEIRO.

Está se encerrando o trágico ano de 2019, que a mídia venal tenta minimizar dizendo que foi o ano "de tirar o fôlego".

Não. Foi um ano de arrepiar, porque "tirar o fôlego" pode trazer uma conotação positiva que o ano que termina quase não teve, ainda mais com um Brasil sob o comando de Jair Bolsonaro.

No momento, me vêm à mente duas notícias.

Uma, que o testamento de Gugu Liberato traz um aspecto estranho de não incluir sua companheira, Rose Miriam, com quem tinha uma relação conjugal que parece informal.

Rose, apesar de não ter sido oficialmente esposa de Gugu, o acompanhou nos momentos difíceis, cuidou dos três filhos do casal e esteve presente na agonia final do apresentador, que sofreu um grave acidente quando tentou fazer uma reforma em sua casa.

Outra é o vocalista da banda punk Olho Seco, Fábio Znovar, que andou muito reacionário (diferente de João Gordo e de Mao, este dos Garotos Podres, que viraram progressistas).

Znovar aprovou o ataque terrorista na sede do grupo humorístico Porta dos Fundos, agredido por causa de uma sátira de Jesus Cristo.

O veterano punk chamou o grupo de "pseudo-humoristas" e disse que eles "fazem filmes ridículos" porque "perderam a mamata da Lei Rouanet".

Sádico, Znovar acrescentou a sugestão para o Porta dos Fundos parodiar os fundamentalistas islâmicos para sentir a vingança que, em janeiro de 2015, atingiu a equipe do Charlie Hebdo, na França.

A mensagem repercutiu mal e Znovar apagou em seguida. Mas muita gente já gravou em print screen e foi espalhar na Internet.

Esse é um ano difícil, onde perdemos tanta gente famosa em quantidades industriais.

Até minha mãe eu perdi, e isso quando ainda estava digerindo as mortes de Paulo Henrique Amorim e João Gilberto, duas pessoas que admirava.

É um ano sombrio, que ao menos derrubou a suposta profecia do farsante "médium de peruca", a tal da "data-limite", deixando seus seguidores um tanto confusos.

Houve engraçadinhos dizendo que a "profecia" foi "mal-compreendida" e ela seria, "na verdade, um começo de um processo de reconciliação da humanidade e da promoção da paz e fraternidade entre os povos".

Pausa para as gargalhadas.

Um ano muito difícil para o mundo e, sobretudo, para o confuso Brasil, onde as pessoas parecem ainda estarem presas a 1974.

Aqui vigora o "complexo de vira-lata", ou seja, o orgulho de ser errado, atrasado e medíocre. Isso fez o Brasil virar o país dos quenuncas.

Para quem fala "coxinglês", o idioma que explicarei mais tarde, e está passando a falar boy em vez de garoto e continua falando a intragável gíria "balada" (© Jovem Pan) com direito a cacófato ("vou pra balada c'a galera"), eu explico o que é o "quenunca".

"Quenunca" é aquela pessoa que erra muito e fica se achando, alegando que se tratam de naturais imperfeições humanas e tem mania de dizer ou escrever "Quem nunca?... Quem nunca?...).

E aí vivemos a mediocrização cultural que as esquerdas passam pano, tão complacentes que estão.

Elas andam sobretudo consentindo com o governo Jair Bolsonaro, reclamando dele pelas costas, até apresentando ideias consistentes, mas sem agir energicamente para derrubá-lo.

As esquerdas andam tão "boazinhas" que acabam perdendo o protagonismo até depois de Lula sair da prisão. Mesmo sem querer, Lula acabou sendo não um ativista, mas um contador de estórias.

E aí também temos a cultura popularesca, que culminou no ultracomercialismo musical que se ascendeu há uns cinco anos, e que jogou a MPB autêntica no limbo.

Anitta, Wesley Safadão, Pabblo Vittar, Kevin O Chris, Simone & Simaria e tantos outros conquistando o mainstream consagrando oficialmente as regras do hit-parade estadunidense, agora absolutas em terras brasileiras.

E aí vemos a onipresença de Anitta, que pelas plásticas virou uma sósia menos interessante da Sofia Carson.

Mas vemos também Kevin O Chris fazendo a arriscada iniciativa de samplear os Beatles, no caso a música "Day Tripper".

Para piorar, esse sucesso veio com o refrão arrasador (no mau sentido): "Senta, senta, senta, senta, senta, senta, senta, senta".

Para a intelectualidade "mais legal do Brasil" (Pedro Alexandre Sanches, Ivana Bentes, Gustavo Alonso etc), Kevin O Chris deve ter lido duas obras para realizar a "façanha sonora".

Segundo essa admirável intelectualidade "sem preconceitos", mas muitíssimo preconceituosa, Kevin O Chris leu antes o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade antes de samplear os Beatles.

E, para escrever suas baixarias, Kevin teria lido a poesia de Gregório de Matos, poeta do século XVII.

Vá entender esses intelectuais. Mas eles têm doutorado, mestrado, visibilidade, são aplaudidos até quando espirram etc. Daí que Milton Moura, da UFBA, pode escrever besteiras sob o aparato de monografia, não é mesmo?

E assim vemos 2019 terminar meio que melancolicamente. E com videntes prevendo que as tragédias continuarão. Preparem os cintos de segurança.

Espero que, pelo menos para mim, meu pai e meu irmão, 2020 seja um ano bom.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

OS CRITÉRIOS VICIADOS DE EMPREGO

De que adianta aumentar as vagas de emprego se os critérios de admissão do mercado de trabalho estão viciados? De que adianta haver mais empregos se as ofertas de emprego não acompanham critérios democráticos? A ditadura militar completou 60 anos de surgimento. O governo Ernesto Geisel, que consolidou o Brasil sonhado pelas elites reacionárias, faz 50 anos de seu início. Até parece que continuamos em 1974, porque nosso Brasil, com seus valores caquéticos e ultrapassados, fede a mofo tóxico misturado com feses de um mês e cadáveres em decomposição.  E ainda muitos se arrogam de ver o Brasil como o país do futuro com passaporte certeiro para ingressar, já em 2026, no banquete das nações desenvolvidas. E isso com filósofos suicidas, agricultores famintos e sobrinhos de "médiuns de peruca" desaparecendo debaixo dos arquivos. Nossos conceitos são velhos. A cultura, cafona e oligárquica, só defendida como "vanguarda" por um bando de intelectuais burgueses, entre jornalist

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

MAIS DECEPÇÃO DO GOVERNO LULA

Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações. Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele. O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo document