Quando eu estava lendo um texto do blogue Cinegnose, de Wilson Roberto Vieira Ferreira, me deparei com uma foto parcialmente lida, porque eu ainda não havia descido a página.
A qualidade da foto lembra anos 1940, talvez 1945, com uma biblioteca de livros velhos, paredes, estante e porta de laranja.
Um homem lendo o livro poderia sugerir um antigo personagem dessa época, desses que estão hoje muito idosos, se continuam vivos.
Aí eu desço a página e tenho a surpresa.
Trata-se de uma foto deste ano, com o novo presidente da FUNARTE, o maestro Dante Mantovani.
Ele é um dos membros que passaram a compor o comando em autarquias, secretarias e outras instituições vinculadas à Secretaria Especial da Cultura.
Para quem não sabe, a Secretaria Especial da Cultura é o que restou (se é que algo restou) do Ministério da Cultura.
Eu culpo, aliás, a intelectualidade "bacana" e sua campanha pelo "combate ao preconceito", empurrando o popularesco da Globo-Folha-SBT para as esquerdas que eram induzidas a evitar debater a cultura popular.
Não debateram a cultura e aceitaram a bregalização. Com isso, abriu o caminho para o contraponto e a direita se apropriou do debate que as esquerdas evitaram, iludidas com o populismo do brega e derivados (sobretudo o "funk").
O sonho dourado que supunha que funqueiros e ídolos cafonas do passado trariam a revolução socialista no Brasil acabou abrindo caminho para o golpe.
E aí não foi o preconceito que acabou. Ele se tornou mais forte, até mesmo entre a "turma sem preconceitos" que acabou perdendo a compostura.
Daí Ivana Bentes não vendo problema se os homens querem apalpar a bunda da Anitta. Ivana desconhece que sua declaração faz a alegria dos bolsomínions.
E aí veio o pesadelo bolsonarista, e a Secretaria Especial da Cultura (que de "especial" só tem o nome, deveria se chamar "Secretaria Ispecial de Cultura", soa mais terraplanista) é o resultado disso.
O titular da secretaria é Roberto Alvim, dramaturgo e ex-diretor da FUNARTE, xingou a renomada atriz Fernanda Montenegro de "sórdida" e "mentirosa", só por se manifestar contra o governo Bolsonaro.
E aí vemos esse governo "sem ideologia" aprelhando e ideologizando o setor da cultura, com dirigentes que, em parte, se dedicam à música erudita e só.
É como o caso de Dante Mantovani, na foto acima, que já traz um cheiro de mofo.
Também pudera. Descontada a forma hardcore com que manifestam suas ideias e reações, os bolsonaristas desejam que o Brasil volte ao passado. Não aos anos 1940, mas muitíssimo antes, os tempos do Brasil-colônia.
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