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O PROBLEMA É QUE O "FUNK" PRECISA DA POLÍCIA PARA SE "ESQUERDIZAR"


O "funk" é tão somente um ritmo comercial. Um ritmo dançante, feito para mero entretenimento, sem grande relevância artístico-cultural.

É algo como a dance music europeia, do mercado da Itália e da Bélgica. Ou o miami bass da Flórida anti-castrista, de imigrantes cubanos e porto-riquenhos neoconservadores.

No entanto, a cada repressão policial, o "funk" se aproveita da situação e monta seu coitadismo.

E aí o "funk" virou a "menina dos olhos" da intelectualidade "bacana", que confunde libertinagem com libertário.

É um discurso que se repete feito um disco pulando sempre no mesmo trecho. E que recentemente foi repetido pela matéria da sucursal brasileira do jornal El Pais.

E aí fala-se que o "funk" sofre hoje tanto quanto o samba de outrora, e, embora haja similaridade nas repressões, os contextos são muito, muito diferentes.

O "funk" tem um rigor estético, por sinal bastante inflexível, não pode ser comparado artisticamente com o samba.

O samba era originalmente apenas percussivo, mas foi receptivo a instrumentos acústicos, como violão e viola, e instrumentos de sopros.

O samba gerou uma variedade de ritmos. Tem até uma forma em que os instrumentos percussivos são menos enfáticos, o lundu.

E o lundu se juntou aos instrumentos de sopro da música erudita e se transformou em chorinho.

E o "funk"? Durante 15 anos uma única batida era feita para todo mundo. Era uma relação hierárquica, o DJ era o dono do espetáculo e os MCs faziam karaokê.

Se aparecesse um jovem pobre, que achou uma gaita perdida no subúrbio e quer incluir um solo de gaita no "funk", o DJ lhe expulsava do espetáculo, achava que o MC iria estragar tudo.

É muito diferente de um samba acolhendo flautas para formar o chorinho, ou assimilar o jazz e se transformar no samba de gafieira. Ou pegar o reggae jamaicano e virar o samba-reggae da Bahia.

O "funk" só "muda" de maneira calculada, não tem a menor criatividade, adota uma batida padronizada que vale para todos os intérpretes, só se "transforma" de maneira tendenciosa e sem espontaneidade. E mesmo quando "muda" a batida, é sempre um som para todo mundo.

Não dá para comparar com o samba, que tão rapidamente se transformava espontaneamente. E, no século XX, dois mestres do samba, Paulinho da Viola e Martinho da Vila, são artistas completamente diferentes entre si, só para entender o nível de criatividade que o samba é capaz de fazer.

Como se vai comparar o "funk" com o samba, com uma retórica que ninguém aguenta mais?

Ela só funciona porque imprensa, intelectuais e alguns esquerdistas simpáticos ficam transmitindo, entre si, o mesmo discurso.

É a mesma choradeira, o mesmo coitadismo.

Vale lembrar que o "funk" é um mercado controlado por empresários que eram relativamente pobres no passado, mas ficaram ricos. Alguns, creio, viraram até fazendeiros.

A choradeira criou um lobby que apenas aumentou a reserva de mercado do "funk". E o ritmo, do contrário que se imagina, não "melhora" por conta do público, mas da vontade dos DJs.

Somente nos últimos anos o "funk" sofreu uma cosmética, porque agora a choradeira funcionou e o ritmo tem penetração fácil nas festas da burguesia juvenil brasileira. Eu observo isso nas festas de condomínios e prédios de classes abastadas.

Recentemente, toca até um "funk" sutilmente num comercial da Chanel, o famoso produto "Chanel Nº 5". O comercial é estrelado pela atriz e modelo Lily-Rose Depp, filha do ator Johnny Depp.

O produto, cujo número foi escolhido por ser o número da sorte da estilista e empresária Coco Chanel, foi popularizado por Marilyn Monroe, quando ela declarou ser este seu perfume favorito.

Constrangedor colocar num mesmo contexto a graciosa Marilyn com Valesca Popozuda.

O que surpreende é que o coitadismo do "funk" é sempre trabalhado a cada repressão policial.

A repressão atinge o público, que aprecia o "funk" pela influência da mídia corporativa que sempre difundiu o gênero, principalmente as Organizações Globo, que empurraram o "funk" em tudo quanto era atração, veículo e público entre 2003 e 2005.

Ver que as esquerdas naturalizam muita coisa que "aprenderam" da Globo é assustador.

É um vício das esquerdas acolher quem simbolicamente está associado a pobres supostamente alegres.

Isso porque o próprio "funk" é uma Disneylândia das periferias. Ele cria um "mundo paralelo" que acaba estimulando a violência policial.

E os policiais violentos acabam sendo propagandistas maiores do "funk", não a intelligentzia que fica blindando o ritmo sob a choradeira pelo "fim do preconceito".

Daí que dá para perceber como as esquerdas deixaram Dilma Rousseff cair e o Brasil caminhar para um governo Jair Bolsonaro que ninguém se encoraja a derrubar.

(P. S.: HOJE NÃO TEM TV LINHAÇA, PORQUE NOS ÚLTIMOS DIAS ESTOU COM PROBLEMAS DE GARGANTA)

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