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O LAMENTÁVEL ATAQUE À SEDE DO HUMORÍSTICO PORTA DOS FUNDOS

EVANGÉLICOS BOLSONARISTAS FICARAM FURIOSOS EM VER JESUS CRISTO SENDO ABORDADO COMO UM HOMOSSEXUAL E SEM DISPOSIÇÃO PARA "PREGAR O EVANGELHO".

O grupo humorístico Porta dos Fundos foi alvo de um atentado na sua sede, no bairro de Humaitá, Rio de Janeiro.

Um motociclista e uma camioneta passaram pelo local e seus ocupantes jogaram bombas de coquetel molotov que atingiram a entrada do edifício. Ninguém se feriu.

No entanto, a atitude deve ser vista como advertência para o fundamentalismo religioso que cresce através de religiões que haviam crescido durante a ditadura militar.

E não se fala apenas das religiões evangélicas, chamadas "neopentecostais", que obtiveram seu protagonismo com o golpe político de 2016 e lutaram para ter Jair Bolsonaro na Presidência da República.

Flaamos também do chamado "Espiritismo à brasileira", esse engodo religioso que mais parece um Catolicismo medieval de botox.

A religião é mais antiga, remete ao fim do Segundo Império, mas ela também foi blindada pela ditadura militar e, da forma que hoje conhecemos, se ascendeu no regime dos generais.

Antes rivais, neopentecostais e "espíritas" se aproximaram no golpismo político de 2016. Mas hoje os "espíritas" parecem ensaiar um distanciamento dos novos aliados, se aproximando do "ativismo de mercado" do Renova BR.

É irônico que Gregório Duvivier e Fábio Porchat, integrantes do Porta dos Fundos e intérpretes do casal gay (sendo Gregório o intérprete de Jesus Cristo), tenham feito ponta naquele filme sobre o abominável "médium de peruca".

Eu vi esse filme, em 2010, quando eu estava iludido com essa religião neo-medieval travestida de "espiritualismo futurista e racional". Larguei a religião "espírita" em 2012.

A inclusão dos dois humoristas deve ser por conta de um arranjo da produção do filme. E os dois apareceram naquela cena do avião, que foi roteirizada com linguagem cômica.

O "médium de peruca" é oficialmente tido como "símbolo maior de paz e fraternidade", e dizem que ele "só fez caridade".

Só que a "caridade" feita por ele é uma tese tão ridícula quanto as acusações de corrupção contra o ex-presidente Lula.

Essa tão festejada "caridade" - celebrada por uma estranha perspectiva na qual o valor da "caridade" não se mede pelos resultados, mas pelo prestigio do suposto benfeitor - não é muito diferente do Assistencialismo fajuto dos programas de televisão.

Se essa "caridade" tivesse realmente ocorrido e dado resultado, o Triângulo Mineiro teria se transformado na Escandinávia brasileira. Mas a região nunca saiu dos níveis medíocres comparáveis ao reacionário interior paulista, por exemplo.

E esse "médium de peruca" se projetou com literatura fake, e o quanto muitos brasileiros foram tolos por aceitar a lorota de que, numa só tacada, os espíritos dos mais consagrados escritores brasileiros e portugueses iriam se reunir num caipira para difundir, do além, "mensagens de paz".

É bom demais para ser verdade. E ainda mais num livro, com título parnasiano numa época em que o Parnasianismo estava caduco, que sofreu estranhas reparações editoriais (ué? não era uma obra acabada trazida por benfeitores espirituais?).

Nasce um otário a cada minuto, disse o empresário de circo estadunidense Phineas Taylor Barnum, precursor dos mesmos espetáculos ilusionistas que, no Brasil, foram introduzidos pelo "médium de peruca" (hipnotismo, leitura fria, falsa materialização etc).

As esquerdas não podem rejeitar as fake news estimuladas pelo bolsonarismo e aceitar um Humberto de Campos fake que lembra mais um acovardado padre de paróquia do interior do que o vigoroso escritor que havia sido em vida.

Por indicação da Internet, li as obras originais do Humberto e as comparei com as "psicografias" sob seu nome. As diferenças de estilo são gritantes.

E o pior é que jogaram o nome do Humberto para aquela obra ridícula, Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, cujo conteúdo de História do Brasil se nivela aos piores livros didáticos que só falam de fantasias ufanistas e pretensos heróis.

Sem falar que o título desse livro lembra muito o lema bolsonarista "Brasil, Acima de Tudo, Deus Acima de Todos", como já se alerta na Internet e nas redes sociais.

Muitos falam maravilhas da tal "pátria do Evangelho", mas o que é isso senão a maligna fusão de Estado com Religião, que nem por ter o selo do "Espiritismo", deve ser considerada saudável?

O "nosso Espiritismo" é apenas uma repaginação do mesmo projeto que o imperador Constantino havia feito com o Catolicismo medieval. Ele falava também em "paz, união e tolerância", mas sua religião gerou cruzadas e lançou métodos sanguinários de punição dos hereges.

Dizer e fácil e até nossa ditadura militar veio com a promessa de "pacificar o Brasil" e "promover a democracia e a liberdade dos brasileiros".

O "Espiritismo" que aqui se pratica fugiu dos ensinamentos do Espiritismo francês para abraçar uma forma atualizada do Catolicismo da Idade Média.

Mas, infelizmente, muitos brasileiros confundem embalagem com conteúdo, e aqui o Espiritismo francês só serve como fachada, como embalagem, para enganar as pessoas que, ao aderir, depois descobrem que a religião brasileira tem mais a ver com o medievalismo católico.

Será que os "espíritas" aprovariam a paródia de Jesus Cristo como um homossexual e como alguém menos disposto a "militar pelo Evangelho"?

E será que os "espíritas", que têm um moralismo punitivista, da culpabilização da vítima, creditaria o atentado à Porta dos Fundos como "ato triste e lamentável, mas fruto de resgates morais a serem encarados pelas vítimas"?

Os neopentecostais já foram os "espíritas" dos anos 90: adotavam bom mocismo, faziam vitimismo e conseguiram seduzir as esquerdas para seu apoio.

Os "espíritas" serão os neopentecostais de amanhã, explicitando suas ideias não muito diferentes aos valores pagãos golpistas como a reforma trabalhista, reforma previdenciária, Escola Sem Partido, cura gay e submissão aos mandões.

O "médium de peruca" - que pregava para os sofredores aceitarem tudo calados e conformados - era tão reacionário que foi premiado pela Escola Superior de Guerra pela colaboração que ele prestou à ditadura militar.

Não podemos subestimar esse fato, se a ESG premia alguém, é porque este foi muito estratégico na sustentação do regime dos generais.

Fico preocupado diante desses ventos reacionários que movimentos religiosos trazem, de maneira explícita (neopentecostais) e implícita ("espíritas").

Isso é sinal de que o Brasil ainda corre o risco de cair nas profundezas do medievalismo. Convém reagirmos a isso, sem ilusões.

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