O negacionista factual é um tipo definido pela sua recusa em admitir a realidade dos fatos. A realidade, para ele, tem que ser sempre a que lhe agrada e ele, posando de “intelectual das redes sociais”, tenta sempre “negociar” (não seria “negacionar”) os fatos com as convicções pessoais dele, para que ele não saia derrotado nas abordagens cotidianas.
Ele geralmente atua como um contínuo da mídia patronal. Ele só muda de opinião com a “permissão” da narrativa que prevalecer nos meios de informação que consome. Caso contrário, pouco lhe importa a veracidade dos fatos, se não lhe agrada é como isso lhe parecesse uma “mentira”, por que só é “verdade” aquilo que não perturba seu sono das opiniões confortáveis.
O negacionista factual está apavorado. O ilusório processo sociocultural de um Brasil ao mesmo tempo triunfalista e precarizado lhe traz ânsia, mas a adversa situação de um Brasil longe de alcançar o Primeiro Mundo, mesmo com as ambições políticas do presidente Lula se autoproclamando “a encarnação da democracia”, lhe causa incômodo.
O menor questionamento lhe causa mal estar. A felicidade conquistada em 2023, ao se revelar transitória, lhe causa aflição. A insegurança de que seu viralatismo cultural enrustido não possa se impor ao mundo lhe revoltam. Daí o seu desejo de boicotar textos que não lhe agradam, por mais fidedignos à realidade que sejam.
Só se os fatos são tramsmitidos pela mídia empresarial lhe são aceitos. O negacionista factual se sente consolado pelo prestígio e pelo status quo de uma mídia”profissional”. O que se observa do negacionista factual é o respeito às instituições dentro dos padrões da velha hierarquia moral, herdada de seus pais e avós que viviam na prosperidade desde o “milagre brasileiro” da ditadura militar.
Perplexo diante do risco do Brasil fracassar no seu ingresso ao mundo desenvolvido, o negacionista se esqueceu de que nosso país está culturalmente deteriorado, com seis décadas de retrocessos profundos. Não há como forçar a barra e virar potência na marra se nosso país está longe de ter as condições objetivas para tanto. Em muitos aspectos, Brasil está culturalmente abaixo do Chile ou mesmo da Argentina governada pelo ultradireitista Javier Milei.
O Brasil não está em condições para ser país desenvolvido, ou então terá que desmontar boa parte do sistema de valores reconquistado pelo golpe de 1964 e consolidado no culturalismo da Era Geisel. Isso vai doer nos corações e mentes de quem acreditou na lorota de que esse culturalismo marcado principalmente pela bregalização cultural e pelo obscurantismo religioso se trata de valores "universais" e "atemporais".
Mas o negacionista factual não quer saber. O que ele quer é o Brasil transformado em parque de diversões, em um continente de sonho e fantasia, para todos os privilegiados apenas consumirem produtos e emoções baratas portando muito dinheiro sob a desculpa de ter "qualidade de vida".
O negacionista factual quer apenas zelar pela liberdade de instintos, pela lucratividade da burguesia, pela estabilidade institucional. Justiça social é apenas um detalhe, com os pobres domesticados e precariamente assistidos de forma a evitar que a "boa" sociedade seja assaltada.
A ideia é sempre fazer dos brasileiros bem de vida turistas do próprio meio no Brasil e que possam ter algum tratamento VIP nos países desenvolvidos através do precipitado status do nosso país como "desenvolvido". País justo e igualitário não é sinônimo de parque de diversões, mas o negacionista factual e sua turma não querem saber disso, ou ao menos fingirão que querem.
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