A declaração do atual presidente do Partido dos Trabalhadores, Edinho Silva, de que o PT tem dificuldade para estabelecer diálogo entre as classes trabalhadoras - ele ainda mencionou os evangélicos e a “classe média” (apesar dos fatos apontarem que Lula prioriza mais as classes abastadas do que os pobres) - , revela uma realidade que os próprios petistas se recusam a admitir.
Desde que Lula passou a esbanjar no seu peleguismo, se associando ao empresariado “democrático” para garantir a vitória eleitoral, a governabilidade e a consagração pessoal do próprio fundador do PT que hoje preside o Brasil, nos últimos quatro anos, o povo pobre da vida real se sentiu abandonado e traído.
Lula hoje trabalha um personagem, principalmente nas reuniões de cúpula (como o COP30, na Colômbia), que quer ser grande por fora, firme para falar contra os abusos de gente como Donald Trump e Benjamin Netanyahu, mas é pequeno por dentro, por não combater os preços caros dos alimentos, crucial para o combate à fome, nem a escala 6x1 do trabalho, que ajudaria na saúde mental dos trabalhadores, já muito castigada pelas adversidades cotidianas.
Soa patético quando a equipe da comunicação do governo se queixar de que o povo “não é informado das grandes realizações do governo”. O povo é o primeiro a sentir a realidade. Se, por exemplo, as ofertas de emprego aumentaram, dado que é um dos ditos “recordes históricos” do “efeito Lula”, e o trabalho ofertado é quase sempre precarizado, o povo percebe. Se há alguma queda de preços dos alimentos, ou é promoção de poucos dias, ou queima de estoque - sobretudo quando se aproxima o fim do prazo de validade dos produtos - , ou então é porque o produto é de baixa qualidade.
O pessoal vê Lula viajando no exterior, em busca de uma “democracia de cúpula” mas formal e institucional do que organicamente popular, e se decepciona. Não se pode exigir do povo um comportamento de corno-manso, a aceitar qualquer desvio de conduta ou de ações de Lula e manter fidelidade a ele. O povo pobre não é ingênuo e sabe que, se um representante deles faz algo errado, como dar pequenos aumentos salariais a cada ano, esse representante perde o apoio.
A oposição ao lulismo ultrapassa os limites caricaturais do bolsolavajatismo e as narrativas fáceis do “luladrão”. E o mais irônico é que a blindagem ao Lula vem justamente daqueles que, há dez anos, alimentavam o discurso antipetista, sobretudo os negacionistas factuais que, de vez em quando, pregam boicote a textos que mostram algum senso crítico considerado incômodo à ordem social vigente.
O povo pobre não tem paciência. É capaz de adotar um jogo de cintura para contornar a baixa renda com um mínimo de sobrevivência possível. Mas não concorda com precários aumentos salariais que impõem o dilema entre se alimentar bem pu ter as contas em dia. Se o presidente deixa de atender essas demandas, mesmo um bonachão carismático como o Lula, o povo deixa de confiar nele. No contexto atual, isso é um caminho sem volta, pouco importando os pesquisismos e relatorismos “motivadores”.
Temos hoje a supremacia de uma narrativa “democrática” que não é menos mentirosa ou tendenciosa que a fábrica de fake news do bolsonarismo. O mundo do faz-de-conta do lulismo requer manter o jogo das aparências e Lula se impõe como dono da democracia. E, agora, ele usa o discurso da soberania de tal forma que até parece que soberano não é o Brasil, mas seu presidente.
A verdade é que Lula e o PT não conseguem entender a realidade. Se nos apegarmos à narrativa lulista, soa um problema muito fácil de se resolver ampliando a propaganda do governo. Mas se vermos a coisa pelos fatos e não por opiniões, veremos que a coisa é mais grave do que se pensa e Lula paga caro por ter feito mas em seu favor pessoal do que em benefício à população.
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