
SUPOSTO FUTURISMO DO ESPIRITISMO BRASILEIRO SOA TÃO VELHO QUE SÓ É APRECIADO, DE FATO, POR VELHAS GERAÇÕES.
O que chama a atenção no Espiritismo brasileiro é seu caráter velho, como se a religião tivesse um forte cheiro de mofo. Na verdade, essa seita não passa de uma embalagem para a reciclagem do antigo Catolicismo da Idade Média, cuja vertente portuguesa vigorou durante séculos no Brasil colonial.
Esse catolicismo resistiu até mesmo após o cancelamento das atividades da Companhia de Jesus portuguesa em solo brasileiro, numa das medidas de austeridade financeira do primeiro-ministro Marquês de Pombal para resolver o prejuízo causado pelo trágico terremoto que atingiu o país em 1755.
O Catolicismo medieval, no entanto, tornou-se obsoleto com as transformações que a Igreja Católica sofreu a partir do século 19. Era interesse, de quem rompeu com o Catolicismo por estar descontente com as mudanças, de que os velhos postulados medievais tivessem um novo abrigo doutrinário e uma nova fachada institucional para se reciclar.
E eis que vemos, no Brasil, a mania do velho usar o novo para se reciclar. Novidades aqui são apenas fachada para o velho se passar por novo e para o obsoleto se passar por inovador ou até revolucionário. E aí vimos que a então novidade da Doutrina Espírita original francesa foi seriamente contaminada pelo igrejismo medieval que se tornou ainda mais obscurantista a partir de 1932, por conta de um “médium” de formação ultraconservadora de Pedro Leopoldo, depois atuante em Uberaba, Minas Gerais.
A partir daí o Espiritismo brasileiro, que chegou a ser levemente abolicionista, nos tempos finais do Segundo Império, passou a ser funcionalmente escravocrata depois de 1932. A influência do coronelismo do Triângulo Mineiro não pode ser menosprezada, pelas raízes sociais dos grandes proprietários de terras que apadrinharam o “médium” que muitos acreditam ser “o maior símbolo de humildade do Brasil”.
O Espiritismo brasileiro é uma das religiões mais conservadoras do Brasil, mas sua fachada que reúne clichês de intelectualismo fajuto associados a paradigmas de humildade, futurismo e ecumenismo, consegue enganar muita gente boa, mesmo aqueles que julgam estar em bom nível de esclarecimento das coisas.
Mesmo assim, a religião “espírita” já teve sua base de fanáticos seguidores, guiados pela mística tendenciosa do “médium da peruca” de Pedro Leopoldo e Uberaba, ele mesmo uma figura das mais retrógradas do país.
Esses seguidores nasceram durante as décadas de 1930 e 1940 e viram nesse “médium” um salvador da pátria naqueles momentos de crise da ditadura militar. Embora erroneamente cultuado pelos setores das esquerdas, o “médium da peruca” confirmadamente se demonstrou um guardião do poder ditatorial.
O moralismo punitivista do Espiritismo brasileiro está muito de acordo com as velhas famílias e pelo pensamento patriarcalista meritocrata, que "premia" crianças obedientes e castiga aqueles que descumprem as regras sociais mais austeras, associadas a um padrão ultraconservador de disciplina e sacrifício humano.
Se existem seguidores relativamente mais jovens desse "espiritismo à brasileira" que não passa de um Catolicismo medieval de botox, eles são geralmente influenciados por familiares, geralmente pais ou avós. Trata-se de algo motivado por vínculos familiares, mas nada espontâneo. Muitas vezes é a "mamãezinha doentia e beata" que faz com que até céticos de carteirinha deixassem de lado esta postura para passar uns generosos panos no "médium da peruca".
Essa influência faz com que o ultraconservadorismo do Espiritismo brasileiro saltasse aos olhos, sobretudo por dramalhões sobrenaturais de conteúdo moralista tão antiquado que o pretenso futurismo de obras medíocres com nomes banais tipo "a viagem" e "nosso lar" soasse tão inconvincente que faz a obra de Jules Verne parecer Matrix.
Mas o que é o futuro para uma sociedade que cultua música brega e aposta no "velho" como se fosse o "novo"? Um país que anda para trás, é claro, vai atribuir futurismo a "médiuns" com figurino dos anos 1930 e ideias do tempo do Onça (e do Amigo da Onça, cuja sádica cordialidade também foi plagiada pelo "médium da peruca", que defendia que os oprimidos deveriam sofrer calados para "encurtar o caminho para Deus).
E assim vemos o quanto o Brasil maquia o velho e o obsoleto como se fosse "novo". Por fora, tudo isso convence e há quem ache isso o suprassumo da inovação revolucionária. Mas é só prestar atenção ao que está dentro e verá um conteúdo apodrecido de tão antiquado.
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