A grande mídia, não só no Brasil como nos EUA, adotou o cacoete terrível de associar as lutas de MMA, que marcam os campeonatos de UFC, à cultura nerd, assim de graça, de forma cínica e um tanto sensacionalista, sobretudo no país sul-americano marcado por uma ideologia pseudo-nerd.
O Universo On Line, no segmento Esportes, fez uma lista sobre as personalidades da modalidade que seriam "as mais nerds", apenas por critérios bastante discutíveis como curtir desenhos japoneses, ter QI alto ou gostar de computador, coisas que podem até ser apreciadas por nerds, mas não são necessariamente caraterísticas deles.
Há de tudo, Ronda Rousey, a lutadora que estreou um dos filmes da franquia Os Mercenários, o lutador Georges St. Pierre, o também lutador Shane Carwin (que foi classificado como "nerd" porque trabalha como engenheiro, vejam só), ou o "não totalmente nerd" brasileiro Anderson Silva, pelo pretexto dele gostar de quadrinhos.
Enquanto isso, o portal de mulheres sensuais Egotastic mostrou uma foto com a "insanamente sensual" Arianny Celeste, no fundo uma mulher insossa de beleza mediana, de corpo siliconado e apelo sensual "morno" (perde até para Maisie Williams, de Game of Thrones), para não dizer coisa pior, aparece de óculos, sendo definida como "nerd" por outro portal do gênero, o Popoholic.
De repente, qualquer um virou "nerd" apenas porque gosta de computador, passa mais de quatro horas no Facebook e escreve textos sobre quadrinhos. Ficou fácil até para aquele bully (valentão) que adorava espancar nerds na infância agora bancar o "verdadeiro nerd" por causa de certos artifícios.
OS LUTADORES RONDA ROUSEY (E) E GEORGES ST-PIERRE E A ASSISTENTE DE PALCO ARIANNY CELESTE: FALSOS NERDS.
A postura chega até ser arrogante. Afinal, os valentões que se acham "verdadeiros nerds" adotam desculpas diversas como "não há regras para ser nerd". Tentam pegar carona no nerdismo, sobretudo no Brasil em que qualquer reacionário retrógrado tenta se passar por moderninho ou até progressista (se bem que hoje voltou à moda ser direitista assumido).
O que está por trás disso é o fato de que, no Brasil, os nerds não podem ser nerds. Quem é "nerd" é aquele valentão que se encanou de comprar uma pilha de revistas de heróis da Marvel e da DC Comics e virar "nerd" de uma hora para outra só porque escreveu sobre quatro capítulos de uma "saga" do Homem-Aranha, por exemplo.
Os verdadeiros nerds, não, só têm direito a essa denominação se fizerem o jogo dos valentões pseudo-nerds - que juram de pés juntos que são "nerds de verdade" porque "não existem regras" - , irem ao Maracanã torcer pelo Flamengo, gostar de lutas de MMA e preferir mulheres siliconadas.
Nos EUA, há um pouco disso também. Vide o vídeo tendencioso em que um nerd caricato - que mais parece um mauricinho franzino e tímido - paquera a insossa Arianny Celeste que "reage indiferente" a ele, fazendo-se de "difícil" num vídeo que tenta vincular a assistente de palco das lutas de UFC estadunidenses ao universo nerd.
É claro que lá os nerds de verdade podem ser nerds de verdade. Vide o seriado The Big Bang Theory, transmitido no Brasil no canal Warner mas produzido pela CBS / Sony, que mostra nerds autênticos que viveram seus dramas e expressaram superação na vida, conseguindo conquistar mulheres excêntricas mas relativamente atraentes (nenhuma delas siliconada ou vulgar).
No Brasil, o verdadeiro nerd terá que se contentar em fazer parte de uma "tribo sem nome". Solitário, humilhado, inteligente demais para ser chamado a se enturmar, rejeitado pelas mulheres e proibido de ser chamado de nerd, porque no Brasil esse nome já foi usurpado por um bando de valentões oportunistas. Até um dos coordenadores do Campus Party parece um pit-boy.
Infelizmente, o que vingou aqui não foi a chamada "Vingança dos Nerds", mas a "Vingança dos Bullies", antigos e talvez ainda praticantes de bullying e que agora ditam as regras sobre o que deve ser nerd no Brasil. "Não existem regras", mas ser nerd no Brasil segue um regulamento rígido ditado pelos valentões. E haja aguentar futebol, UFC e mulheres siliconadas.
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