Nos últimos meses, a intelectualidade "bacana", que apostava num Brasil brega e pautava o futuro do folclore brasileiro através dos fenômenos difundidos pela grande mídia - e isso apesar das falsas posturas contra os barões midiáticos - , que tratam o povo pobre feito caricatura de si mesmo, andou com o crédito em baixa.
De repente os aplausos não são mais tão unânimes assim. Ninguém mais aplaude aquele jornalista cultural, aquele professor polêmico, aquele cientista social porralouca, como antes, em que até espirros atraíram ovações entusiasmadas. Mas foi preciso a blogosfera reagir para tirar essas elites com seus diplomas bronzeados de seus pedestais.
E o que eles queriam para o Brasil? Eles se achavam possuidores de uma sabedoria que não têm, como se entender de séculos de cultura popular bastasse para a intelligentzia levantar a bandeira de um folclore futurista. Mas conhecer a história e matá-la em prol de um "livre mercado" cultural simplesmente nada significa de positivo para essa elite pensante.
Vendo as ideias desses festejados intelectuais, como jornalistas culturais, antropólogos, cineastas documentaristas, historiadores etc, tudo que eles queriam para a cultura brasileira é uma mescla de Woodstock com "milagre brasileiro", com um tempero de "livre mercado" e da "cultura de massa" norte-americana.
Em vez de desejar uma cultura melhor para as classes populares - que a intelectualidade "bacana", com seu horror elitista enrustido, classifica como "visão preconceituosa" - , elas querem a permanência de uma visão midiática que glamouriza a pobreza, a miséria, a ignorância e o que há de grotesco, piegas e ridículo nas classes populares.
Para eles, a cultura popular não pode produzir conhecimento, Só pode produzir dinheiro. A intelectualidade criou um discurso engenhoso para justificar os piores aspectos das classes populares como se fosse algo "positivo", como se "qualidade de vida" para o povo fosse prendê-lo na prostituição, no alcoolismo, nas favelas, na ignorância, no português mal falado e pior escrito.
Os intelectuais usavam a desculpa de que bastavam a Lei Rouanet e o Bolsa Família para melhorar a cultura popular e transformar os pseudo-artistas que primeiro afirmam seu sucesso pelo que eles têm de pior e patético em "gênios visionários".
De reboque, os intelectuais só se preocupavam com a legalização da maconha, com a supervalorização da "liberdade sexual", como a defesa do celibato ou da homossexualidade compulsória para as classes pobres, invertendo a coisa para a discriminação de casais heterossexuais unidos por afinidades pessoais. Queriam uma Woodstock caricata e totalitária para as periferias.
A intelectualidade "bacana" - Paulo César Araújo, Pedro Alexandre Sanches, Hermano Vianna, Denise Garcia, Milton Moura, Eugênio Raggi etc etc etc - queria apenas "liberdade", camuflando seus preconceitos de ordem neoliberal (eles vieram dos porões acadêmicos do PSDB) com um populismo pseudo-progressista e claramente demagógico.
Afinal, é muito fácil esses intelectuais elitistas enrustidos defenderem a glamourização da miséria e da ignorância, para não dizer dos piores defeitos das classes populares marcadas pela pobreza, pela baixa escolaridade e pelo descaso do poder público.
Do alto de seus apartamentos confortáveis, fica fácil defender a ruptura das classes populares com suas próprias raízes, a ser "preservadas" apenas pela burocracia de especialistas e últimos apreciadores. Fica fácil conquistar a opinião pública com suas teses "provocativas" e achar que ser brega é o máximo. Afinal, essa elite pensante vive no seu conforto, no seu luxo "modesto".
Afinal, o esgoto que contamina as favelas não chega nos seus apartamentos. Os barracos não se desfazem, sob deslizamentos dos morros, nas portas das casas desses intelectuais. Os bêbados não brigam nas portas das casas desses pensadores, A raiva das prostitutas em não quererem ficar assim a vida toda não ecoa nos condomínios da intelligentzia bronzeada.
Fica bem fácil defender o brega quando os únicos contatos desses intelectuais com as classes populares se resume às relações quase paternalistas com porteiros de prédios, faxineiros, empregadas domésticas e, quando muito, feirantes que vendem as frutas e legumes que os intelectuais às vezes se acham obrigados a comprar, se caso precisam se virar sozinhos na cozinha.
Eles não conseguiram dizer a que vieram. No primeiro momento, eles até deslumbraram a opinião pública, alegando que o "estabelecido" pelo poder midiático e mercadológico sobre o que oficialmente se entende como "cultura popular" é o futuro do folclore brasileiro: dos glúteos das "boazudas" aos factoides dos breganejos e sambregas, esse era o "futuro" da cultura brasileira.
Não deu certo. Como é que até mulheres-frutas e sub-celebridades teriam lugar no primeiro escalão de nossa cultura, que num passado recente nos deu Oscar Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, Tom Jobim, Clarice Lispector (apesar de nascida em outro país), Cartola e Luiz Gonzaga?
Não havia alegações pós-modernistas que convencessem. O discurso nervoso deturpando ideias de Gregório de Mattos, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e outros não se sustentaria para apoiar tantas aberrações pseudo-culturais, embora tardiamente a opinião pública se convenceu que romper o preconceito não é aceitar qualquer coisa de bandeja, só porque é "popular".
Resultado. Tudo ficou na mesma. O Brasil não melhorou porque uma minoria de intelectuais festejados via no caminho da cultura popular o rumo problemático da bregalização. Hoje as coisas até pioraram e até a mesmice da MPB ficou agravada quando ela virou modelo para o pedantismo rasteiro de neo-bregas.
A situação ficou mais complexa para que esses intelectuais "provocativos" e seu discurso ao mesmo tempo nervoso e porralouca conseguissem convencer de suas visões que nada contribuem para o progresso cultural do Brasil. O país que eles defendem está fora da realidade do povo.
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