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CRISE NO RIO DE JANEIRO E AS VITÓRIAS NO FUTEBOL


Praticamente regionalizamos os problemas referentes à Copa do Mundo e as crises econômicas no Brasil. Muitos ficam felizes quando times cariocas vencem partidas - muitas vezes de forma abertamente irregular ou combinada nos bastidores com os adversários - , e no entanto enfrentam os mesmos problemas e tragédias existentes no Rio de Janeiro e cidades vizinhas.

Há áreas que chegam a ser intransitáveis. O antes atraente bairro do Viradouro, em Niterói, hoje é um bairro sem lei onde tiroteios, assaltos e outras ocorrências - já vi duas mulheres pobres brigando nas proximidades da subida da Estrada da Garganta (Estr. Gen Castro Guimarães) - ocorrem até à luz do dia e bandidos fazem ronda de moto até mesmo em manhãs movimentadas.

Será que vale a pena o Vasco da Gama voltar para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro? Vale a pena Flamengo e Fluminense se mantiverem em pé num jogo de bolas marcadas, garantindo a gritaria de uns brutamontes até mesmo no alto das noites de quartas-feiras?

Enquanto tudo vai bem no futebol carioca, ir e vir da Gávea à Barra da Tijuca e do Galeão ao Centro carioca continuarão sendo percursos arriscados, em que o perigo de uma tragédia assusta até mesmo quem só está de passagem por esses lugares, devido à ameaça de balas perdidas ou falsas blitz.

O Rio de Janeiro vive uma onda de provincianismo e até de neo-coronelismo urbano nos últimos 30 anos. Relações promíscuas entre assaltantes de banco, prisioneiros políticos e torturadores fez com que se organizassem politicamente o narcotráfico, a contravenção e as milícias, enquanto o quadro político-partidário fluminense é contaminado pelo chamado fisiologismo político.

E isso ocorre da pior maneira. Na Bahia, marcada pelo coronelismo político-midiático - comandado por ACM e herdado por barões midiáticos regionais como Mário Kertèsz e Marcos Medrado - , mesmo com esse quadro calamitoso ainda dá para encontrar políticos íntegros e ativistas sérios, que não se vendem em prol da visibilidade fácil ou dos privilégios pessoais.

Já no Rio de Janeiro, se isso existe, é ainda mais raro, porque mesmo entre os movimentos ativistas, a influência do "funk" - que é diversamente patrocinado por bicheiros, narcotraficantes, barões da grande mídia e especuladores financeiros estrangeiros - já é um indício de corrupção, por sabermos que o compromisso dos funqueiros é com o consumismo, não com a cidadania.

O provincianismo carioca influi na bregalização cultural, na qual apenas o bairro de Copacabana se configura como uma das últimas resistências da cultura de qualidade, e mesmo assim já arranhada em parte pela bregalização voraz que só quer reservas de mercado para si. Tudo pela "diversidade cultural" (sic).

Há também o caso do fascismo de internautas, seja ele enrustido ou aberto, Houve, há quase dez anos atrás, a onda pseudo-esquerdista dos "marx-cartistas", gente que se dizia marxista por nada (nem sabiam direito quem era Karl Marx) mas tinham mentalidades dos adeptos do macartismo (a "caça às bruxas direitista do falecido senador norte-americano Joseph McCarthy).

Hoje isso passou e os antigos "esquerdistas" agora são abertamente e neuroticamente de extrema-direita, deixando para trás os momentos em que eles fingiram adorar Che Guevara e colocavam o status de "esquerda-liberal" no Orkut para pedirem prisão perpétua para Lula e Dilma Rousseff, confundindo crítica aos erros do PT com intolerância cega contra o partido.

Essas pessoas defendem o "estabelecido" acreditando que toda coisa que vem do "alto" tem caráter divino. Já vi gente assim ultrarreacionária até entre radiófilos, busólogos e fãs de noitadas. Qualquer coisa que autoridades, tecnocratas e chefes de mídia, ou mesmo famosos (que detém a superioridade da visibilidade) impuserem, por mais nociva que seja, é endeusada ao máximo.

Quem rejeitar tais coisas e apontar os malefícios das mesmas, é ridicularizado por esses internautas, que chegam a se reunir para forjarem chats nos espaços de mensagens dos discordantes e partirem para humilhações e ameaças, enquanto uns se atrevem a criar sites da Internet contra tais pessoas.

Essas pessoas não medem escrúpulos para cometerem crimes, se for preciso, e até o momento que seus abusos revertam em consequências danosas para eles - como o busólogo encrenqueiro que se expõe demais e atrai a desconfiança das "máfias das vans" (a verem qualquer valentão envolvido com transporte coletivo como um "rival" em potencial) - os abusos acontecem abertamente na rede.

E por que essa mentalidade tão provinciana que gera esses fascistas digitais, cegos com suas convicções e com suas visões ao mesmo tempo bairristas, atrasadas e pretensamente pragmáticas? Simples: o Rio de Janeiro vive uma crise de valores e foi vitimado pela imbecilização sócio-cultural, herança da ditadura militar que tornou-se mais intensa dos anos 90 para cá.

Por isso, existe uma séria crise no Grande Rio. Uma crise de valores, de procedimentos, uma falta de qualidade de vida, de respeito ao próximo e até de discernimento sobre se toda decisão vinda de autoridades, tecnocratas, executivos e famosos vale ou não a pena.

O Nordeste já sofreu tudo isso antes e começa a despertar contra tais abusos, erros e omissões. Está na hora do Rio de Janeiro fazer o mesmo, se lembrando das lições das mobilizações contra a Copa. Melhor que, por exemplo, o Vasco continue dormindo na Segundona do que continuarmos a travessia arriscada entre o Galeão e o Centro e perpetuar o fascismo digital dos troleiros do RJ.

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