A estupidez que a "galera irada" das mídias sociais fazia com suas trolagens defendendo de modismos midiáticos, arbitrariedades políticas a valores antissociais como o machismo e o racismo, repercutiu tão negativamente que até as gerações que cresceram bem antes da Internet têm exata noção dessa truculência.
Em entrevista recente, a atriz Fernanda Montenegro, veterana e com muito conhecimento de causa do nosso país, reclamou entre outras coisas, da arrogância e da violência moral na Internet, que ela definiu de maneira apropriada como "convulsão social".
Eu, que fui vítima de trolagens e blogues ofensivos, em 2007 e 2012, vejo as práticas se expandirem para outras pessoas, como recentemente Taís Araújo e Lola Aronovich, e sinto que não estou sozinho nessa.
Os crimes digitais, de humilhação através de trolagens - mensagens publicadas em espaços de discussão ou recados - ou de blogues ofensivos, nos quais o autor, geralmente anônimo, tenta parodiar sua vítima copiando indevidamente seu conteúdo, uma truculência moral feita porque a vítima não concorda com o "mundo perfeito" que o algoz acredita.
Geralmente os valentões digitais defendem tudo que é "decidido de cima": defendem de "mulheres-frutas" a ônibus com pintura padronizada, seus ídolos vão de Luan Santana a Danilo Gentili e as entidades que admiram vão dos tênis Nike à Rádio Cidade.
Eles acham que são as "pessoas perfeitas", que tudo que é decidido pela mídia, pelo mercado, pela política e convenções sociais é o máximo e quem questiona tudo isso é humilhado sem piedade porque pensar diferente, para a "galera irada e tudo de bom", é visto como "ridículo".
Só que o fascismo digital tem suas consequências e os desordeiros digitais começam a mudar sua condição de caçadores implacáveis a caça. Da Polícia Federal às milícias, os valentões digitais estão sendo seguidos em seus passos. Enquanto isso, os amigos cada vez mais evitam contatos com seus antigos companheiros, ao saberem que estes participaram de humilhação virtual.
Márcia Tíburi, intelectual que participou do programa de debates Saia Justa (na mesma temporada que contou com a falecida atriz Betty Lago), da GNT, lançou recentemente um livro, Como conversar com um fascista: reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro, que cai muito bem nesses tempos de truculência virtual.
Oito anos antes eu escrevia que esses vândalos digitais eram fascistas, reacionários, retrógrados. Eles costumavam gracejar quando eram assim definidos, mas não conseguiam disfarçar seu caráter fascista: "se eu sou reacionário, quem é você então, seu comuna?", era a reação mais frequente.
Eles se escondiam em comunidades do Orkut tipo "Eu Odeio Acordar Cedo", mas depois passaram a fazer parte de grupos como Revoltados On Line, Movimento Brasil Livre e tudo o mais. Da "inocente" defesa de gírias da moda, passaram a sentir ódio cego a Lula e Dilma Rousseff, confundindo oposição política ao PT com intolerância obsessiva e perigosa.
Felizmente, hoje se denunciam essas práticas e as risadas desses encrenqueiros digitais não são tão eternas assim. Eles, que achavam que seriam os últimos a rir depois de uma hecatombe ou um holocausto, correm apavorados para apagarem conteúdos que hoje estão no conhecimento até da polícia, enquanto começam também a sofrer humilhações e reprovações severas.
E se a experiente Fernanda Montenegro já toma conhecimento da situação, então o "feitiço" já se volta contra os "feiticeiros". Os "miguxos" da violência digital não precisam mais acordar cedo, até porque perderão o sono diante da consciência pesada de ver o país, e talvez o mundo, se voltando contra eles. Precisarão dormir tarde, com tanta insônia de suas ressacas do mal...
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