O mercado da música, não apenas a brasileira, mas a forma como se divulga a música estrangeira por aqui, é tomado de pessoas atrasadas e sem visão, que não tem a menor noção de contemporaneidade, criatividade, segmentação e raízes sócio-culturais.
É o brega-popularesco em que os "humildes" executivos de ídolos "populares demais" submetem a cultura brasileira às regras de mercado e só tardiamente inserem um e outro elemento "mais brasileiro" para manter as aparências, vide os gananciosos empresários do "forró eletrônico".
A MPB autêntica perde espaços e ainda tem que compactuar com ídolos brega-popularescos mais veteranos, fazendo duetos caça-níqueis em que o ídolo brega, tido como o "coitadinho" da situação, é na verdade o dono do poder pelo qual o artista de MPB depende para tocar em certas cidades e capitais do interior do país ou mesmo nas grandes casas de espetáculos do Norte e Nordeste.
A cultura rock mantém um mercado atrelado aos magnatas dos grandes eventos, inclusive festivais, como a Artplan de Roberto Medina, e eles decidem qual é que vai ser a rádio FM a explorar o segmento rock, sem equipe especializada e com os mesmos locutores engraçadinhos de qualquer FM pop debiloide, como se não houvesse diferença entre um fã de One Direction e um de AC/DC. Daí as Rádio Cidade e 89 FM da vida.
Mas até o pop convencional, seja o pop dançante juvenil, seja o pop adulto em geral, também vive dessa completa falta de visão, desse bitolamento em que o dinheiro e as zonas de conforto dos antigos sucessos consagrados e seus modismos que hoje cheiram a mofo, são as regras tidas como "infalíveis".
Enquanto o hit-parade fica reprisando, no caso do pop adulto, sucessos de 30 anos atrás, no pop dançante a ideia é investir nos mesmos sucessos de dois anos atrás, novidades demoram demais para serem notadas, e o Brasil costuma fazer a festa quando no exterior já ocorre a ressaca.
E o pior é que as novidades musicais têm como "filtros" as trilhas sonoras de novelas da Rede Globo, o que compromete todo o mercado musical. Até as "rádios rock" agora dependem de reality shows musicais para lançar "novas" bandas de rock, com o absurdo que até veteranos como Tianastácia são reembalados como se tivessem surgido ontem.
MPB, pop dançante, pop adulto, rock, tudo isso depende da grande mídia, ela em si já retrógrada e caquética - vide a revista Veja e o Jornal Nacional, por exemplo; mas até a Folha de São Paulo mais parece o Estadão de tão mofada que está - , e isso complica e vicia o público que não consegue mais garimpar para algo além da indigência das paradas de sucesso.
Um claro exemplo de como as novidades custam a vir é a estreia musical da atriz Hailee Steinfeld. Embora ela esteja relacionada a um pop dançante juvenil, ela inicia carreira de maneira metódica, investindo no seu próprio talento vocal, sem sintetizadores, e com músicas consistentes, dentro de seu universo musical.
A atriz lançou boas músicas, como "Love Myself", e tem sua estreia como cantora elogiada lá fora. Além disso, colegas atores andam apoiando muito Hailee, que aqui só é conhecida como a adolescente que protagonizou Bravura Indômita (True Grit), versão de 2010.
O mercado brasileiro é tão hipócrita, que aqui os empresários de pop se acham os descobridores da pólvora quando tentam lançar "artistas" que não passam de clones do que os estrangeiros fizeram há cerca de 20 anos. Anitta, por exemplo, faz hoje o que Britney Spears fez há muito tempo, e o "revolucionário" MC Guimê não passa de uma cópia tardia e blasé do Eminem de dez anos atrás.
Dá para perceber o quanto os casos de Amy Winehouse e Adele são ilustrativos. Primeiro elas fazem sucesso lá fora, e o Brasil ignora. Aí elas entram em trilha de novela da Rede Globo, viram moda no país, e aí só vira "sucesso" quando atores de TV aparecem dizendo que gostam de tais cantoras. Aí elas podem aparecer até nos trend topics (tópicos mais vistos) no Twitter.
Será que vai ocorrer o mesmo com Hailee Steinfeld? Será que ela dependerá de uma trilha de novela da Globo para ser conhecida por aqui, para ter algum lugar no sol nessa mídia retrógrada e golpista que investe em mau jornalismo e que reduz a cultura rock e a MPB a formas caricaturais e amenas?
Como é difícil depender da mídia para se ouvir música, diante desse mercado tão ultrapassado e restritivo...
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