É notória a fragilidade e o imobilismo das forças progressistas de nosso país.
Enquanto assistimos, de braços cruzados, às mobilizações sociais ocorrendo no Equador, Chile, Bolívia e Colômbia, as forças progressistas brasileiras querem apenas exercer a fé religiosa, a energia pelo futebol e o acolhimento à cultura popularesca.
Aqui predominam as chamadas "revoluções populares híbridas" de verniz identitário, totalmente espetacularizadas, midiatizadas e travestidas de "revoluções socialistas".
Marchas LGBTQ estereotipadas, Marchas da Maconha, sem falar da armadilha do "baile funk" de 17 de abril de 2016, feito por um Rômulo Costa amigo dos deputados golpistas e que se fantasiou de "esquerdista fiel" naquele evento.
Esse evento foi um marco negativo: creio ser o ponto zero da desmobilização das esquerdas que atinge o nível crítico de hoje. O "baile funk" minimizou o impacto do protesto, que perdeu sua essência.
As esquerdas pagam o preço pelo triunfalismo, pelo vitimismo, pelo pensamento desejoso.
Não conseguem sair da bolha social em que vivem, e, o que é pior, não conseguem distinguir aliados tendenciosos dos verdadeiros aliados.
Pensam que aliado é aquele que faz textos efusivos demais, que aparece ao lado de povo pobre, que faz supostos elogios às periferias, e que paga cervejinha para os esquerdistas sérios.
Essa atitude das esquerdas lhes dava uma falsa impressão de fortalecimento, mas era uma grande ilusão.
Como a aceitação de intelectuais "bacanas", associados à mídia venal e às agências de entretenimento, podem ser considerados "aliados sinceros" das forças progressistas?
E o que pode estar por trás de um pobre sorrindo, quando este é domesticado pelas elites conservadoras, que tentam enganar as esquerdas com amostras de "bom mocismo"?
Essa atitude complacente das esquerdas, pela ilusão de fortalecimento, lhes dava a falsa impressão de protagonismo.
Isso fazia com que, por exemplo, os esquerdistas que rejeitassem o "funk" fossem marginalizados no meio. Virava um "patinho feio" dentro das forças progressistas.
Só que, com o tempo, gente que buscava protagonismo exaltando o "funk", o "sertanejo", os cafonas do passado e falava em "pobreza linda", perdia o cartaz.
E aí vemos o protagonismo acabando. O povo pobre foi afastado, porque foi empurrado para o entretenimento popularesco, deixando de atuar nos movimentos sociais autênticos.
Os debates das lideranças de esquerda ficaram isolados e o senso crítico foi sequestrado pela direita raivosa, que se aproveitou da complacência das esquerdas para desmoralizá-las.
Afinal, as esquerdas estavam sorridentes, achavam que "funk" e tecnobrega trariam o socialismo de bandeja para o Brasil, e o resultado foi a ascensão de uma "opinião pública" hidrófoba.
Caíram na armadilha do "combate ao preconceito" que, forçando a aceitação da degradação cultural brasileira, abriram caminho para uma sociedade ainda mais preconceituosa.
Eram comentaristas que desqualificavam as esquerdas e fizeram campanha pelo golpe político de 2016.
Isso resultou no cenário político que hoje temos, com Jair Bolsonaro representando a extrema-direita, um semi-fascismo com verniz democrático e com projeto econômico nada nacionalista, mas abertamente entreguista.
E a sorte é que os exageros do bolsonarismo fizeram com que a direita ficasse indignada.
Não somente os moderados desembarcaram, mas antigos apoiadores, como Alexandre Frota e Joice Hasselmann, passaram a ser o maiores críticos de Jair Bolsonaro.
Na direita, nomes como Reinaldo Azevedo e Rachel Sheherazade passaram a ter mais relevância em suas críticas ou denúncias.
A direita hidrófoba passou a ser relativamente consistente no seu protagonismo anti-bolsonarista.
Enquanto isso, as esquerdas, que perderam o protagonismo, ficam sonhadoras, místicas, sem aprender com as duras lições de aceitarem a bregalização apoiada pela mídia venal.
Agora as esquerdas ficam atônitas, não sabem mais o que fazer. Talvez fosse preciso um pouco de autocrítica e de coragem para criticar alguns falsos aliados mais "atraentes", como a intelectualidade "bacana".
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