O "sistema" que prevalece no Brasil, de cultura hipermidiatizada e hipermercantilizada, a "liberdade do corpo" é apenas um pretexto para a objetificação da mulher.
É como se o "sistema" dissesse o seguinte manifesto:
"Mulher, seu corpo é livre, sua mente é que não.
Você só nasceu para provocar, sua sensualidade é sua obsessão.
Se você é pobre, só a prostituição é seu caminho. Você só tem o sexo como afirmação, você é escrava erótica não só de si mesma, mas de machos que não lhe tocam, mas lhe atingem.
Você é obrigada a fazer um faz-de-conta. Afinal, queremos o livre mercado do seu corpo livre.
Faça de conta que o Instagram é o espelho do armário do quarto de sua casa.
Finja que você, mostrando seu corpo sensual para os machos do outro lado da rede, está mostrando seu corpo apenas para você mesma.
Se você é fora de forma, use o mau gosto. Sua sina não é conquistar dignidade, mas provocar por provocar. Você é escrava do escândalo, queremos que seja assim, como naquelas manifestantes do Fémen.
Você não tem sossego. Para você, lhe basta a sensualidade obsessiva, o mau gosto, a obtenção de vaias como um aplauso às avessas.
Você tem empresários homens, mas seu celibato forçado é uma forma de fazer parecer que é emancipada.
Seja desagradável, irritante, polêmica, você só tem esse caminho. Não fale de outra coisa além do sexo, porque esse é o papel que queremos de você.
Só leia livros que se relacionem com liberdade sexual. Mas não queira outras liberdades.
Seu destino só está entre o erotismo e o mau gosto, num aparente ativismo que já nasce mercadoria.
Afinal, você está a serviço de nós, líderes do 'sistema', que usamos você para fazer da polêmica e do escândalo produtos de consumo.
Você se acha livre, só porque seu corpo parece livre. Mas temos o livre mercado e seu corpo livre é apenas uma peça desse mercadão que fabricamos.
Você não sabe, mas a polêmica também pode ser um produto de consumo. O escândalo vende revistas, lacra a Internet, traz audiência para a televisão.
Ah, você não sabe. Pensa fazer socialismo de vagina com seu erotismo a toda hora, sem contexto, sem pretexto, um corpo que se impõe aos outros.
As mentes é que não são livres. Sua mente não é livre. Você é só sexo, mau gosto, desagrado, provocação.
Você é nossa ferramenta para desviar o povo de questões importantes. Você pensa que cria revoluções com sua provocação, mas está, sim, desmobilizando o povo para pautas importantes como qualidade de vida.
Você é só corpo. Seu corpo livre lhe tiraniza. Você é escrava desse corpo que se mostra, e sua mente é submissa a esse corpo que, se ostentando, mostra o seu vazio mental.
Porque tudo é sexo, é erotização, é mau gosto, e sensualismo neurótico, obsessivo, que quer romper contextos, situações específicas etc.
Já não é mais uma questão de usar shorts curtos, calça justa ou vestir um suéter ou um top. Ou uma minissaia ou um biquíni.
É, agora, uma questão de botar silicones, tatuagens, piercings, e usar roupas mais apelativas.
Não é mais agradar, obter simpatia, mas desagradar, usar o mau gosto primeiro e o vitimismo depois.
Enquanto isso, o corpo feminino vira uma mercadoria, uma 'livre mercadoria' para o consumo masculino.
Tudo vira mercado, mercadoria, indústria. E o "corpo livre" é apenas mais um entre os "corpos livres" que nossa indústria produzirá em série.
Para o consumo afoito dos machistas que você pensa não estar agradando com seu sensualismo obsessivo".
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