Num Brasil estupidamente atrasado, oscilando entre um macartismo circense e uma Contracultura de resultados, ainda temos paradigmas muito velhos e mofados.
Um artigo da coluna de Amaury Jr., hospedado pelo Brasil On Line (BOL), de autoria do meu xará Alexandre Taleb, parece bem intencionado ao falar de elegância masculina, mas derrapa ao definir como paradigma de elegância o empresário Roberto Justus.
Justus é definido como "elegante", "refinado" e amante da "simplicidade" e do uso de roupas duradouras.
Só que Roberto Justus não é necessariamente elegante, até porque seu padrão de elegância tornou-se anacrônico, datado, e hoje soa cafona, forçado e nada refinado.
A obsessão por sapatos de couro, caraterística de Justus, já começa a ser uma vergonhosa gafe para os homens com mais de 50 anos, além de ser um símbolo de desconforto, sisudez e falso requinte.
Não é preciso dizer que mesmo muitos aristocratas que tinham os pés presos em sapatos de couro, só faltando dormir com eles, hoje estão, meio que forçados, a trocá-los pelos sapatênis, que sempre existiram mas que só receberam esse rótulo para conquistar a gente graúda e grisalha.
E desde que Roberto Justus manifestou apreço a Jair Bolsonaro e fez um comentário grosseiro contra Dilma Rousseff, que não a queria sequer como sua empregada doméstica, foi infeliz o exemplo dado por Taleb.
Até porque a geração de Justus e outros empresários, médicos, economistas e advogados nascidos nos anos 1950 mas com esposas bonitas e bem mais jovens, não conseguiu provar sua pretensa erudição cultural.
Tão sofisticados esses "mauricinhos da meia-idade" se achavam, só porque "descobriram" o jazz (ou o que acham ser o jazz) depois dos 50 anos.
Mas sua geração não se empenhou para a ascensão de um novo Juscelino Kubitschek, em vez desse desastre que é Jair Bolsonaro. E também não lutou para um Brasil culturalmente melhor.
Sobre a "elegância" de Roberto Justus, a verdade é que ela só fez sentido, quando muito, até 1982, quando se achava requintada essa obsessão por ternos e sapatos de couro.
Mas esse é um Brasil que aprende a ver as mudanças dos tempos. O nosso país está enferrujado. Parece um automóvel que se atolou há 40 anos e custa a sair da areia movediça.
Daí que Roberto Justus é "refinado" num Brasil em que existe o "feminismo de glúteos".
O outro lado da moeda machista que mostra homens compulsivamente "elegantes" é o que mostra mulheres hipersexualizadas como Geisy Arruda.
Sim, aquela que simplesmente usou roupas apelativas quando ia para a Universidade Bandeirantes, em São Paulo, sendo alvo de vaias, há dez anos.
Geisy Arruda foi uma subcelebridade que ultrapassou até mesmo o caminho "natural" dos reality shows, e depois passou a se "sensualizar" como tantas mulheres.
É ilustrativo que durante o primeiro governo Dilma Rousseff houve um sem-número de mulheres que "sensualizavam" em excesso, como se o entretenimento popularesco fizesse chacota com o empoderamento da primeira mulher a presidir o Brasil.
As siliconadas, que se multiplicavam aos montes - paniquetes, BBBs, funqueiras, proibidas, popozudas, preparadas, "musas do Brasileirão", peladonas etc etc etc - , vendiam a falsa reputação de "feministas" só porque não tinham, em tese, sequer um namorado.
Elas repetiam o refrão que era entoado desde os tempos do É O Tchan: "os homens fogem de medo de mim".
Haja exibição de corpos volumosos que não tinham o que dizer.
E eis que Geisy Arruda, quando decidiu ser uma espécie de youtuber erótica - num caminho mais "refinado" (olha a palavra, de novo) do que Mulher Melão, Solange Gomes e a politicamente correta Valesca Popozuda - , se envolveu em uma gafe.
Usando uma técnica de amarrar um parceiro sexual com cordas, que tem o nome japonês de "shibari", Geisy apareceu só de lingerie amarrada com essas cordas.
A repercussão foi negativa. Sete mil seguidores a abandonaram e Geisy sofreu críticas bastante pesadas.
Teve gente que comparou o shibari à escravidão e disse que nada tinha de sexy. Geisy rebateu insistindo que o ato "era sexy".
Este é o país da "liberdade do corpo" e da "escravidão de mentes". Um país cuja religião tida como "progressista", o Espiritismo brasileiro, pede para os sofredores aguentarem as desgraças calados e culpa as vítimas pelos infortúnios que lhes afligem, porque "pagam por faltas passadas".
É um país em que a mais ativa oposição a Jair Bolsonaro vem de seus ex-aliados, como Alexandre Frota, Joice Hasselmann, Arthur "Mamãe Falei" do Val e até Silas Malafaia.
Enquanto isso, as esquerdas mais ingênuas ficam sonhando com a tal "espiritualidade" da religião, apesar das advertências de gente séria como o experiente Leandro Fortes.
As esquerdas brasileiras fecham os olhos e oram, enquanto Paulo Guedes negocia a perda de direitos trabalhistas e a venda de nossas riquezas para as corporações estrangeiras.
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