NA INFÂNCIA, FICAVA DIFÍCIL PERCEBER O CULTURALISMO DOS TEMPOS DA DITADURA QUE, INFELIZMENTE, PREVALECE NOS DIAS DE HOJE.
A empolgação exagerada dos torcedores paulistanos depois da vitória do Corinthians contra o Palmeiras no Paulistão mostra o quanto o futebol é uma preocupante paixão tóxica, tida como a “única alegria dos brasileiros “ como se fosse impossível buscar outras alegrias, que são, por exemplo, as belas paisagens de nossas cidades, em todas as regiões do nosso país.
Muitos brasileiros ainda vivem sob os mesmos condicionamentos psicológicos dos tempos do governo do general Ernesto Geisel. Isso para não falar dos tempos do antecessor Emílio Garrastazu Médici, mais explicitamente repressivo (foi durante o governo Médici que o ex-deputado Rubens Paiva foi morto). O culturalismo conservador dessa época persiste até hoje e é até alvo de nostalgia, como a precarização cultural do brega e os fenômenos popularescos da TV.
Os heróis continuam sendo os da ditadura militar, ou então seus derivados. As nostalgias são focadas em períodos conservadores, mesmo quando o direitismo não é evocado: governos Geisel, Collor e FHC. Os paradigmas são ligados a tradições conservadoras ou a fenômenos da grande mídia. Até a forma de ler notícias é uma herança sobrevivente dos tempos do AI-5. E até o fanatismo pelo futebol remete à herança da histeria da Copa do Mundo do México de 1970.
Muitas pessoas ficam horrorizadas com tal constatação, achando que os tempos são outros e hoje vivemos em uma democracia. A verdade, no entanto, é que muitos dos valores e fenômenos transmitidos pela mídia empresarial durante a ditadura militar eram conservadores, embora muita gente, criança ou adolescente naqueles anos de chumbo, achasse que aqueles valores e fenômenos fossem “acima dos tempos e das ideologias”.
Hábitos, crenças e costumes foram então desenvolvidos através dos condicionamentos psicológicos trazidos pela mídia empresarial. Adotamos uma religiosidade conservadora e paternalista, aceitamos a degradação da cultura popular e convivemos com os “novos normais” de uma vida mediocrizada mas economicamente sustentável e socialmente sem aparentes conflitos.
São condicionamentos psicológicos vindos da ditadura militar, mas houve quem ressignificasse tudo isso para o contexto democrático de centro-esquerda, daí os “brinquedos culturais” que faziam do Brasil uma imitação das novelas das 21 horas da Rede Globo.
O nosso país continua mofado e, portanto, a anos-luz de distância de qualquer chance real de alcançar o Primeiro Mundo, mesmo levando em conta critérios de países desenvolvidos problemáticos.
E ainda nos pautamos numa sociedade que fazia mais sentido nos tempos do AI-5, valores ao mesmo tempo conservadores, pragmáticos e paliativos que não trazem progresso social algum, mas deixa muita gente em suas zonas de conforto emocionais, cognitivas e perceptivas. Assim não há como apostar num mundo novo comandado por um país antiquado.
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