A terrível reforma trabalhista, na verdade o cancelamento de tantas conquistas históricas no mercado de trabalho, pode causar privilégios para os patrões.
Mas a realidade mostrará que não haverá moleza para quem abusar dessa brecha, que é em si uma aberração.
Afinal, situações como a flexibilização das negociações de trabalho parecem "equilibradas", mas revelam uma grande desigualdade.
Patrões ricos se acharão livres e com desculpas de sobra para impor seus interesses aos dos trabalhadores.
Se com a intermediação da lei, os patrões resistem a atender todas as reivindicações dos trabalhadores, cedendo pouco a elas, sem a intermediação eles vão fechar a mão mais ainda.
Só que isso também traz um perigo.
Em época de convulsões sociais aqui e ali, quem acumula demais pode perder alguma coisa, sobretudo devido à violência.
A violência nas cidades aumentou consideravelmente e os ricos se tornam mais vulneráveis.
Vai custar caro para o patrão demitir gente com uma canetada, como se fosse eliminar rivais brincando com jogos eletrônicos.
Muitos desempregados podem se tornar assaltantes em potencial, pela falta de oportunidades de novos empregos.
Além disso, a terceirização impõe um intervalo de 90 dias para quem desempenhou uma função arrumar um trabalho similar.
Nem todo mundo terá essa moleza de deixar um emprego e arrumar outro.
Os trabalhadores vão sofrer, porque essa tal reforma trabalhista envolve uma série de pontos amargos.
E ela vem acompanhada de outras "novidades", como a reforma previdenciária e a redução do salário mínimo.
A mídia hegemônica tenta enrolar sobre a redução salarial, falando em "redução da projeção do salário mínimo".
Ora, sejam diretos! Digam que o salário mínimo vai reduzir e pronto!
E tantas perdas só podem causar irritação nos trabalhadores.
As tais mudanças podem gerar desordens profissionais, agravar o assédio moral, o bullying no trabalho, as disputas predatórias dos colegas de trabalho etc.
Mas, no caso dos desempregados, a situação é delicada.
Não pensem os patrões que, demitindo gente como um passatempo, para garantir a grana para aquela turnê Miami-Orlando-Nova York-Los Angeles nas férias com a família, tudo vai ocorrer tranquilamente.
A situação será tão perigosa que exigirá do rico que dirigir um carro evitar aquela coreografia para entrar na garagem.
Tem que ir direto e tudo, calcular a direção exata para não ficar de marcha a ré, porque o ladrão estará na rua, fazendo plantão.
E aí, diante desses riscos, o patronato que deixar de investir nos trabalhadores de forma digna, por ironia, vai ter que pagar mais por segurança privada.
Só um guarda custa em média R$ 3,2 mil. Fora encargos e outras garantias.
Não se pode reduzir a remuneração porque, senão, o guarda não trabalha. E se a empresa de segurança for clandestina, pode haver represálias.
Chega a ser gozado o patronato não querer pagar muito para os trabalhadores e achar que a crise de uma empresa se resolve com demissão em massa.
Disfarçar a coisa com "programa de demissão voluntária" não compensa.
E aí vemos patrões remunerando empregados com salário de R$ 2 mil, sem encargos, e mesmo assim demitem gente quando a crise atinge as empresas.
Só que, para se proteger da violência, chegam a investir até dez ou quinze vezes mais o valor que evitam com a mão de obra.
Realmente a reforma trabalhista, a reforma previdenciária, a terceirização total e a "redução da projeção" do salário mínimo são verdadeiras atrocidades.
Mas elas também acabam revelando a estupidez e a vulnerabilidade dos patrões.
Estes evitam investir muito dinheiro em mão de obra e querem cortar encargos.
Mas, temendo a ação de assaltantes - muitos deles desempregados que não conseguem voltar ao emprego - , têm que investir muito e muito mais com segurança privada.
Retratos de um Brasil ensandecido.
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