O anúncio da demissão de Moacyr Franco do programa humorístico A Praça é Nossa, envolvido num processo de "enxugamento" do quadro de profissionais do SBT, revela a situação surreal de nosso país.
Moacyr Franco é um patrimônio da televisão brasileira e um dos remanescentes dos tempos áureos de nossa televisão que, apesar de analógica e mais precária, era bem mais criativa.
O irônico disso tudo é que o SBT é de propriedade de outra figura daqueles tempos, Señor Abravanel, o popular Sílvio Santos, hoje muito ranzinza e afinado com os tempos temerosos.
Enquanto Sílvio Santos começava a lançar seus programas, como o Vamos Brincar de Forca?, da TV Paulista (hoje TV Globo São Paulo) de 1961, Moacyr Franco se destacava como o Mendigo de Praça da Alegria, personagem que lançou em 1959.
Sabe-se que a Praça da Alegria era um programa feito pelo humorista Manuel da Nóbrega, pai de Carlos Alberto da Nóbrega, também ativo na época e hoje apresentador do A Praça é Nossa.
É claro que a televisão anda se desgastando, mas ela mesma não consegue acompanhar os tempos e renovar sua criatividade.
Além do mais, a Internet oferece uma gama maior de opções, coisa que a TV não oferece, como a livre escolha de horários de exibição e até a chance de dar uma pausa no play durante a execução de uma atração.
Ironicamente, alguns arquivos que restaram da TV dos anos 1950-1960 estão disponíveis no YouTube.
Quanto a Moacyr, ele não merecia essa demissão. Ele é uma figura histórica que merece respeito.
Embora seu trabalho musical, uma espécie de pop brasileiro com vários ritmos (marchinha, baladas românticas e rock pré-Jovem Guarda) fosse menos destacado, ele era um excelente entertainer.
O maior sucesso musical de Moacyr, que não é de autoria dele, é a marchinha "Me Dá um Dinheiro Aí", gravada em 1960, mas tão popular que, em versões com corais carnavalescos, é tocada até hoje nas festas de foliões por todo o país.
Moacyr Franco foi um dos pioneiros da TV a cores, pois seu programa Moacyr Franco Show, então pela TV Excelsior, foi um dos contemplados pelo teste que houve com a televisão colorida, em 1962 e 1963.
Ele era um dos mais destacados apresentadores da televisão brasileira, rivalizando, em popularidade e carisma, com Hebe Camargo.
É triste ver que uma figura histórica como Moacyr Franco tenha sido vítima da tesoura implacável do cada vez mais sinistro SBT.
O salário que ele recebia nem influía nas despesas do SBT, algo em torno de R$ 40 mil, um valor considerado padrão para profissionais de menor expressão.
Um sujeito que, em outros tempos, tinha um programa de auditório de grande audiência e que fez história na televisão brasileira.
Considero uma falta de respeito, porque Moacyr, pela sua experiência e talento, deveria ser mantido e até tratado com mais destaque.
Numa televisão cada vez mais decadente, Moacyr é uma testemunha viva de tempos brilhantes em que a televisão vivia à base de improviso, era mais precária e quase amadora, mas muito criativa, divertida e mais humana.
Fica nosso pesar pela saída de Moacyr Franco e de tantos outros profissionais do SBT.
Talvez seja hora de Sílvio Santos relembrar dos tempos em que era apenas um ex-camelô estreando na televisão.
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