"A IDADE MÉDIA É O FUTURO", DIZ A CLASSE MÉDIA BRASILEIRA.
Média, mediana, médium, medíocre, medieval.
A classe média brasileira (não toda, mas a maioria que comanda o chamado senso comum e a dita opinião pública) parece confundir Século XXI com Século XII.
Nunca tivemos uma classe média tão atrasada, tão retardada, tão presa aos ditames da mídia e do mercado que, de tão gigantes, não são percebidas por uma sociedade que pensa que culturalmente está mais livre e fluente.
Até em 1960, 1961, portanto, há seis décadas atrás, tivemos uma sociedade mais moderna do que a que hoje acha o Big Brother Brasil a oitava maravilha do mundo.
Nunca senti tanto cheiro de mofo tóxico ao meu redor do que antes. Nunca vi pessoas tão felizes com tanto retrocesso.
Temos uma cultura marcada pela mediocridade tão arraigada que ela tem seus ideólogos patrulheiros, os chamados "isentões", sempre com aquele discurso de "moderação", "imparcialidade", "objetividade".
Fica um discurso cretino, quando se discorda de manifestos de senso crítico: "Eu até concordo com certos pontos da sua abordagem, mas vejo que você está errado em muitos outros pontos".
Tivemos um caso extremo de um Monark forjando pretensa imparcialidade entre nazistas e judeus.
Um caso levado aos limites da imbecilização, da mediocrização, da boçalidade.
Mas temos os "Monark do bem", espalhados em muitos "isentões" que se julgam "tudólogos", internautas sem um pingo de visão de mundo que se acham "juízes" de qualquer coisa.
Gente sempre querendo que a vida "não seja tão isso nem tão aquilo", porque assim se mantém a estabilidade das zonas de conforto em que vivem, em que contradição é entendida, equivocada porém convictamente, como se fosse equilíbrio.
O "equilíbrio" entre o bom senso e o contrassenso é o princípio dessa mediocridade reinante, uma mediocridade que se impõe como suposta genialidade, em que a ignorância é confundida como uma pretensa intuitividade.
E isso deixa a classe mé(r)dia brasileira tão atrasada, parada no tempo, presa no seu atraso cultural, que para ela o "dono do futuro" é um suposto médium (médium, mídia, medíocre, talvez m***a) com visual de anos 1940 e ideias religiosas que parecem ter vindo de algum ano perdido do século XII.
Essa classe é tão medíocre que, como quem troca de roupa, mudando a roupa de gala pelo traje de faxina, votou em 2018 em Jair Bolsonaro e, com a mesma convicção, vota num Lula domesticado, este ano.
Daí que vemos o quanto a mediocrização cultural está atingindo, no Brasil, níveis insustentáveis.
O jornalista cultural isentão, espécie de assessor de imprensa da mediocridade que devasta nosso sofrido país, tem que dizer que "vivemos o melhor momento sociocultural de toda a história brasileira", sob o pretexto da mera "produtividade" de subcelebridades, músicos popularescos e redes sociais.
Apenas temos uma grande movimentação nesses cenários. Aí o isentão arruma uma desculpa: "muitas vozes, muitas narrativas". Vejo mais inteligência em gritos de animais num zoológico.
Nosso mercado literário é um horror. Literatura psicografake, auto-ajuda, diários de youtubers de quinta categoria, dramalhões de meninas perdidas em florestas sombrias, sagas medievais chinfrins, e romances que soam pastiches de seriados de TV da Netflix.
Aliás, sobre sagas medievais, tudo a ver. Afinal a classe média brasileira está com saudades da versão tupiniquim da Idade Média europeia: o século XVII, que tenta ser desesperadamente adaptado para contextos posteriores, como no Segundo Império, na Era Geisel e nos governos Collor e FHC.
Conhecimento? Para que transmissão de Conhecimento? Só se concursos públicos e ENEM exigirem, além da combinação muito forte entre a visibilidade de um autor e o contexto social do momento.
Afinal, "conhecimento", para a classe média (ou medíocre), é um engodo digno de causar vômito a quem tiver um mínimo de lucidez. Não passa de uma mistura de clichês, feito restos de comida misturado com fezes e outras sujeiras.
São misturados clichês de Psicologia, compreensões pedantes de Filosofia, Física e Astronomia, com outros que envolvem Astrologia, Ocultismo, Teologia do Sofrimento e misticismo chinês ou indiano.
Distopia é apenas uma "realidade" distante de seriados sul-coreanos ou do antigo cinema de vanguarda polonês.
Aqui o que vale é a Utopia festiva e com muita positividade tóxica, mesmo que seja na frente das cinzas do Museu Nacional e da Amazônia.
É constrangedor ter que bloquear canais de religião e futebol no meu perfil "clandestino" no Instagram, com muita positividade tóxica, muito fanatismo esportivo, já que os algoritmos despejam esses canais como marimbondos saindo de seus ninhos.
E é assustador que essa classe medíocre prevaleça e insista em impor seus pontos de vista, seus padrões de vida, suas visões de mundo, dentro da perspectiva do "ignorante convencido" da Síndrome de Dunning-Kruger.
Quem vai frear essa classe medíocre que estabelece supremacia no senso comum da maioria dos brasileiros? Quem vai derrubar o sistema de valores por ela impostos, quem vai desmascarar seus pretensos heróis, seus pretensos ídolos? Quem vai neutralizar sua influência?
Essa classe medíocre, apesar da relativa formação educacional, da suposta modernidade e da aparente prosperidade, está levando o Brasil ao abismo. E não será um Lula domesticado por neoliberais que vai resolver isso. Lula virou refém dessa classe média retardada e medíocre.
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