Pular para o conteúdo principal

DEMOCRACIA DECIDIDA "DE CIMA"?

GERALDO ALCKMIN ATRAI AS ELITES CONSERVADORAS A VOTAREM EM LULA

Sim, o bom empresariado existe, mas é muito estranho haver tanto entusiasmo das elites empresariais com a candidatura de Lula para a Presidência da República. A alegação de "defesa da democracia" faz com que o empresariado mergulhasse fundo na luta contra o bolsonarismo. Walter Schalka, presidente da empresa fabricante de papel Suzano, disse: "Nunca vi mobilização tão grande do empresariado na política".

O Manifesto Pela Democracia, lançado recentemente e que sofreu 2.340 tentativas de ataques hackers, apesar de envolver diversos segmentos da sociedade, teve como destaque a participação do empresariado, que, para defender seus interesses, sempre apelam para o termo "democracia", para o bem e para o mal.

Para o bem, temos o exemplo atual da candidatura de Lula, indicando que o petista tende mesmo a aliviar seu programa de governo. Como areia caindo da caçamba furada de um caminhão, Lula já abriu mão da defesa do aborto, da regulação da mídia, da revogação do teto de gastos e da reforma trabalhista, e, agora, afirma que vai instituir um Bolsa Família de R$ 600, não mais turbinado.

Para o mal, tínhamos em 1964 a participação do empresariado nos institutos de fachada IPES e IBAD, que sob um verniz de "racionalidade" - tão decisivo para o golpe de então como o verniz "revoltado" e "moralista" do golpe de 2016 - incitou a sociedade a pedir a queda de João Goulart, tão dramática quanto a queda de Dilma Rousseff.

Assim como em 1964, as esquerdas brasileiras passaram a acreditar na burguesia nacional, que pode ter virtudes inegáveis, sim, mas não segue ideais progressistas, salvo raras exceções. E vendo o que acontece na campanha de Lula, quem está no lado dele é justamente o grosso do neoliberalismo empresarial, a Faria Lima, o pessoal que estava com Michel Temer há pouquíssimo tempo e que com certeza não vai querer essa de Estado forte. Geraldo Alckmin é o representante dessa elite rentista que já aplaudiu de pé o desmonte dos direitos trabalhistas.

Para o empresariado, o Estado tem que ser enxuto. Com Lula, até se aceita garantir o status estatal da Caixa e do Banco do Brasil, ou do BNDES, como financiador de projetos diversos. Ou aceitar que Lula não privatize a Petrobras e tente improvisar o programa Luz Para Todos com o que restou das subsidiárias da Eletrobras que não foram privatizadas. Ou então explorar projetos de grife, como Bolsa Família, Fome Zero, ou investir a parte das verbas públicas da Lei de Incentivo da Cultura, seja com que nome for.

Mas Lula não poderá fortalecer de fato o Estado, porque a iniciativa privada, acostumada a comprar estatais, não vai deixar. E aí vemos o quanto Lula, que prometia tudo de tudo, aos poucos vai transformando seu programa de governo num projeto neoliberal com alguns acenos sociais mornos.

A ênfase do empresariado na adesão a Lula é explorada de forma mais intensa do que a adesão de movimentos sociais. Mas os movimentos sociais e os sindicatos, além de famosos e intelectuais, são apenas a "bolha" de esquerda que apoia Lula, que pelo jeito só fura a "bolha" no lado da direita.

Fora da bolha esquerdista, as classes populares desconfiam de Lula. O petista é visto como um político carreirista, os trabalhadores o veem como um pelego. E Lula, aparecendo ao lado do empresariado, só complica as coisas. Mesmo quando fala em "democracia".

Sim, temos a ameaça de Jair Bolsonaro, que aparentemente está politicamente isolado. Mas será preciso Lula forçar tanto a barra para atrair para si forças divergentes, só para facilitar sua vitória eleitoral em primeiro turno? Tudo isso terá um preço caro para o petista, com toda certeza.

Lula pode ser um negociador, pode argumentar para conseguir algum apoio a uma proposta sua. Mas como em toda negociação, as partes envolvidas cedem e Lula está cedendo, por baixo de suas promessas que fazem as esquerdas e, principalmente, a mídia progressista, flutuar nas nuvens.

Graças a essa "democracia" decidida "de cima", sempre com o empresariado ficando com a palavra final, Lula fará um governo mais fraco do que os dois anteriores. Se ele fizer um governo nos padrões de Fernando Henrique Cardoso, será menos mal. O leite, por exemplo, não ficará muito caro. Mas daí para dizer que Lula vai fazer o Brasil ser feliz de novo é um exagero. Neste contexto distópico, pensar assim é um delírio. Nos contentemos apenas com a reconstrução e não com a criação do paraíso.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

L A “SOCIEDADE DO AMOR”, SEM MEDO E SEM AMOR, APOIA O GOLPE DO BAÚ

  A sociedade brasileira que se diz “democrática”, em boa parte de “esquerda” e que, por ser, em tese, a antítese do ódio bolsonarista, se autoproclama a “sociedade do amor”, tem aspectos muito estranhos que mal conseguem fazer esconder sua condição de elite do atraso. Um dos aspectos remete à vida amorosa, que, infelizmente, tem muito menos a ver com amor do que se imagina. Mas não espalhem isso não, pois nossas elites fantasiadas de gente simples que tomam chope, vão para os estádios de futebol e estão espalhadas e escondidas entre o povo podem não gostar. A verdade, a coerência e a realidade dos fatos não têm no Brasil seu ambiente muito receptivo. Trata-se do golpe do baú, um sórdido fenômeno baseado na forma principal da mulher que se casa com um homem rico para viver da riqueza financeira do marido. As esquerdas identitárias e o brutal feminismo identitarista e pragmático da Era Lula 3.0 acham isso “positivo” e “saudável” e consideram “direito” da mulher de se casar com um homem