LULA E GERALDO ALCKMIN APERTAM AS MÃOS, NA OFICIALIZAÇÃO DA CHAPA EM CONVENÇÃO DO PSB. NO MEIO, O PRESIDENTE DO PSB, CARLOS SIQUEIRA.
A campanha presidencial está constrangedora, quando o tal Movimento pela Democracia atropela a própria democracia para forçar a vitória de Lula na marra, a qualquer preço, em ação predatória contra a Terceira Via.
Uma estranha euforia destoa do Brasil distópico, enquanto a propaganda lulista tenta forçar a ideia de que o nosso país vai migrar do inferno bolsonarista para o paraíso lulista sem escalas. Pular etapas não parece ser o forte de Lula, que não quer muitos debates e, de preferência, quer vitória no primeiro turno a qualquer preço.
Lula, que se comporta como um grande pelego, já começa a deixar a máscara cair: quando evoca os movimentos populares, enfatiza as causas identitárias, quase nunca o proletariado e o campesinato e muito menos o lumpesinato que, aqui em São Paulo, é simbolizado pelos miseráveis que sofrem na Cracolândia.
No entanto, quando a ênfase vai para o empresariado, é aquela alegria maior que a festa. A participação de grandes empresários no Manifesto Pela Democracia e no apoio deles, ainda que condicional, a Lula, foi celebrada com muito estardalhaço, contradizendo o que o petista disse meses atrás, que não iria governar com a Faria Lima.
A palavra "democracia" acaba sendo usada de maneira abusiva e aleatória. Exemplo disso está no caso de um antigo processo que o PT moveu contra Geraldo Alckmin, em 2018, em função da concessão de duas linhas de metrô entregues à iniciativa privada, que teria ocorrido de forma irregular.
Um dos autores da ação, o deputado petista Alencar Santana, apesar do processo movido e em andamento, investiu no mesmo bordão que aqueles que estão direta ou indiretamente ligados à campanha de Lula estão dizendo, usando a palavra "democracia" e suas expressões derivadas:
"Isso passou. O que está em jogo é a democracia. Podíamos ter divergências políticas sobre algumas ações do governo, como essa concessão que nós entendíamos que tinha um problema legal. Mas temos que admitir que o governo Alckmin também era um governo de viés democrático".
Será que podemos definir como "democrática" a repressão policial contra estudantes, proletários e professores que protestavam contra medidas abusivas e antipopulares do governo Alckmin? E a repressão policial, numa manhã de domingo, contra a população de Pinheirinho, bairro de São José dos Campos que foi totalmente demolido a pedido do empresário e especulador financeiro Naji Nahas, também pode ser chamada de "democrática", lembrando que a truculência foi por ordens de Alckmin?
Que democracia é esta que tenta barrar o caminho para a concorrência de outros presidenciáveis? Vemos agora que o candidato da União Brasil (DEM+PSL), Luciano Bivar (União-PE), desistiu de competir para a Presidência da República e foi apoiar Lula, quatro anos após acolher Jair Bolsonaro. Já André Janones (Avante-MG), que desistiu de desistir da candidatura presidencial, está pensando em voltar a desistir para apoiar Lula, com quem anda conversando ultimamente.
Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, que outrora eu costumava ouvir com prazer, infelizmente deu a mentir, alegando que Ciro Gomes desistirá da campanha presidencial. Tudo para forçar a barra de uma vitória de Lula, praticamente sem concorrentes além de Bolsonaro. Ciro ainda não desistiu, e pelo jeito irá competir até o fim, pelo menos no primeiro turno.
As esquerdas estão paranoicas com a obsessão pelo protagonismo histórico artificialmente montado, com um Movimento Pela Democracia comandado pelo empresariado. Temos uma disputa de protagonismos que ocorre desde 2015, e hoje quem quer protagonismo são as esquerdas intelectuais e artísticas e o empresariado da direita moderada, este antes engajado no golpismo de 2016 que abriu as portas para Bolsonaro.
Só que Lula está articulando uma frente ampla demais. Obteve apoio até de Tábata Amaral, antes uma crítica do petista. É uma frente ampla demais que cobrará a conta, e Lula não poderá pendurar a comanda que lhe será cobrada no fim desta "histórica festa da democracia".
A impressão que se tem é que esse movimento todo é sempre aquele papo de "democracia" decidido "de cima", "do alto". Sempre uma "democracia" autorizada pelos ricos, com as elites empresariais brasileiras, a nata da burguesia nacional, decidindo o caminho para a política brasileira e medindo o mérito das necessidades vitais do povo brasileiro conforme as conveniências e os interesses dessas elites.
Temos que chamar a atenção de que Lula está cedendo em suas propostas. Ele terá que criar artifícios para dar a falsa impressão de que seu projeto político de esquerda foi inteiramente preservado ou será ampliado, mesmo com alianças ainda mais conservadoras.
Esses artifícios são adiantados por este blogue há um tempo: a falácia do "Estado forte" manifesta pelos projetos de grife (Bolsa Família, Fome Zero, Cotas Universitárias etc), patenteados pelo PT (PaTenteados?). Ou então pela preservação normal do caráter estatal dos bancos públicos, o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES, como financiadores do crescimento econômico e parceiros estatais da iniciativa privada em muitos projetos. Nada muito além disso.
Há também a preservação do que restou da Petrobras, que Lula pretende fortalecer. E a recriação de ministérios, como o da Cultura, além de outros novos a serem criados visando as causas identitárias. Mas nada que possa fazer do próximo governo Lula um projeto esquerdista, já que haverá o freio dos aliados conservadores, representados pelo vice da chapa, Geraldo Alckmin.
Ontem ocorreu em Brasília a Convenção do PSB que oficializou a chapa Lula-Alckmin, com a dupla posando ao lado do presidente da sigla, Carlos Siqueira. O discurso apela para o mesmo clichê, o de "deixar as desavenças de lado e defender a democracia".
No evento, Lula disse que, a partir de agora, irá "para as ruas mostrar que o povo brasileiro quer democracia", fazendo campanhas em lugares abertos "para ganhar as eleições no primeiro turno". E isso com Lula no colo do empresariado, mas achando que as classes populares estão com ele. Infelizmente, a maioria silenciosa de proletários, camponeses e lúmpens se sente abandonada por Lula, ainda acostumados com a retórica antipetista de anos atrás.
Fora do sonho da "democracia" da frente ampla demais de Lula, a realidade é mais embaixo, distópica e cética, do povo brasileiro que ficou de fora da festa do "esquerdismo de resultados" dos ricaços com Lula.
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