EX-MULHER DE ROQUEIRO, A ATRIZ DÉBORA FALABELLA APARECE NUM INTERVALO DE FILMAGENS DANÇANDO AO SOM DE TERRA SAMBA, GRUPO DE "PAGODÃO" BAIANO.
O Brasil está vivendo aquilo que o saudoso jornalista Mauro Dias chamava de "massacre cultural sem precedentes". Sem as eventuais passagens de pano que seu xará, Mauro Ferreira, faz hoje com a música popularesca, Dias alertava para o império totalitário da música popularesca e a produção em série de ídolos comerciais em várias de suas tendências.
Pois hoje estamos tão cercados de música popularesca que se criou o pseudo-cult e o falso vintage para gourmetizar o saudosismo da mediocridade musical de um passado de, pelo menos, até 50 anos. O pseudo-cult que "ressignifica" ídolos cafonas como Gretchen e tenta glamourizar o antigo fenômeno do É O Tchan, e o falso vintage que vende como "sofisticados" artistas sofríveis como Michael Sullivan e Benito di Paula, dão o tom desse império totalitário da bregalização musical.
A bregalização musical se multiplicou tanto que virou um beco sem saída. A música brasileira virou uma terra de ninguém. Em uma festa, ouvi um sucesso pavoroso de DJ Guuga com participação de Wesley Safadão e Zé Felipe, "Depende", que é terrívelmente constrangedor. Vejam os versos do refrão: "Quer saber se eu tô solteiro ou se eu tô namorando? Depende de quem tá me perguntando". Tente encontrar alguma coisa útil e proveitosa nessas frases e não achará.
Desde que veio o papo do "combate ao preconceito", analisado no meu corajoso livro Esses Intelectuais Pertinentes..., foi amplamente difundido há 20 anos, nas páginas da mídia venal, é que a música popularesca no Brasil cresceu demais que hoje as pessoas recorrem ao que é menos ruim que, agora, é visto como "genial", porque "lembra isso ou aquilo". Vide Sullivan e di Paula, imitadores baratos da soul music estadunidense.
A coisa chega ao ponto de invadir contextos que envolvem personalidades ou fenômenos mais cultos. Como a invasão dos ídolos popularescos em redutos de MPB e Rock Brasil se deu e dá sob os aplausos da intelligentzia "mais legal" do Brasil e a complacência de muita gente boa, hoje emepebistas e roqueiros brasileiros estão perdendo seus próprios espaços e lutando para permanecer naqueles que lhes restam.
A imprensa musical isentona complica as coisas e, em vez de adotar o senso crítico - que segue remanescendo em exemplos eventuais como o comentarista Régis Tadeu - , adota a "imparcialidade" que é apenas um eufemismo para o ato de passar pano na mediocridade, através de análises supostamente "técnicas" e "objetivas", ou falsas críticas do tipo "Se Chitãozinho & Xororó tivessem colocado menos teclados no tributo a Tom Jobim, teria sido um grande disco".
O cenário cultural brasileiro é tão catastrófico que não dá para produzir um temporal de dinheiro e investimentos trovejando do Oiapoque ao Chuí para melhorar esse quadro. No caso da música, injeções constantes e fartas de dinheiro não irão transformar um cantor de chuveiro num guru visionário.
O que se injeta em dinheiro na música popularesca, desde que o primeiro grande ídolo da categoria, Orlando Dias (pseudônimo de Adauto Michiles), foi apadrinhado por Abraão Medina (dono das lojas O Rei da Voz e pai de Roberto Medina, empresário do Rock In Rio), provavelmente ultrapassaria o PIB dos dez países mais ricos do planeta.
Recentemente, tivemos a notícia de Kevin O Chris (que massacrou os Beatles sampleando "Day Tripper" enquanto falava apenas "Senta, senta, senta") comprando um carrão de luxo. Vários nomes do "funk", do "forró eletrônico", do "sertanejo universitário", da pisadinha, da axé-music etc, vivem em mansões. Chitãozinho & Xororó e Zezé di Camargo são latifundiários.
Até o "funk", que persiste no seu vitimismo e na "carteirada" da pobreza e da negritude, recebeu generosos investimentos aqui e ali. Das verbas do crime organizado, no caso dos "proibidões", e nas verbas privadas (inclusive internacionais, via George Soros e Fundação Ford) e estatais (o apoio tendencioso dos funqueiros aos governos do PT), o "funk" tem tanto dinheiro que muito banqueiro que comanda o setor financeiro no Brasil.
A música popularesca tem muito mais dinheiro do que os supostos aristocratas da "velha MPB" de acento pós-Bossa Nova dos anos 1960-1970. Por isso, a música popularesca não é cultura do povo pobre e, nos últimos 20 anos, está sendo tocada com facilidade monstruosa nas festas de gente rica e burguesa. Dizer que essa música é a "trilha sonora das periferias" é ofensivo, porque o povo pobre de verdade não se sente representado por essa música que os trata de maneira caricatural.
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