VIAGENS AO EXTERIOR ESTÃO ENTRE OS PONTOS DECEPCIONANTES DE LULA.
No portal Brasil 247, num espaço para respostas dos leitores, um internauta apelou para "ninguém fazer críticas ao governo Lula", alegando que a mídia corporativa "já faz isso". Indo na contramão da democracia, os lulistas são os que mais têm medo, ultimamente, de questionamentos austeros e cobranças ao presidente do Brasil.
Esse medo chega a níveis surreais. Mesmo considerando que um pelego é o representante dos trabalhadores que se alia a um representante dos patrões, não se pode considerar peleguismo o acordo entre Lula e o presidente dos EUA, Joe Biden - "amigo" dos sindicatos, desde que suas lideranças submetam suas reivindicações aos limites determinados pelo empresariado - , e isso é assustador.
Que jornalismo de verdade os lulistas querem? Estórias da carochinha, contos de fadas, elogios cegos e fora da realidade? Jornalismo não vive de fatos agradáveis. Sou jornalista, lido com fatos e não estou aqui para mentir só para agradar e produzir lacração. Que o pessoal aprenda a ler textos desagradáveis, porque eles mostram fatos.
Lula está fazendo um governo medíocre. As críticas aqui são construtivas. Eu mesmo reconheço que os dois mandatos anteriores de Lula foram bons, até muito bons, embora distantes da grandeza e do impacto da Era Vargas ou mesmo do projeto abortado de João Goulart. Culturalmente o governo Lula foi sabotado e a sociedade tem medo de ver as verdades descritas no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes..., corajoso histórico sobre a mediocrização cultural de nosso país.
Sim, é medo que move muitas pessoas, como, num antigo momento de lucidez, os hoje complacentes Caetano Veloso e Gilberto Gil, através das vozes da falecida Rita Lee e seu então esposo Arnaldo Baptista, escreveram em "Panis Et Circenses", de 1968: "As pessoas a falar de jantar / São ocupadas em nascer e morrer".
Medo de admitir a realidade. Trauma do bolsolavajatismo que boa parte da elite do bom atraso - quando o atraso que defendiam não era tão bom assim quanto o atraso passado a limpo, mas mesmo assim atraso, de hoje - defendeu, trauma do golpismo de 1964 que seus avós apoiaram, e reflexo uma envergonhada continuidade dos privilégios semi-nababescos do "milagre brasileiro" e da Era Geisel.
Só que não dá para ficar calado sempre. Outras pessoas, mesmo à esquerda, agora começam a se decepcionar com Lula, principalmente quando a imprensa divulgou a notícia de que, nas viagens do presidente brasileiro ao exterior, foram gastos, no mínimo, R$ 45 milhões em hospedagens, comitiva, diárias em hotéis e outros benefícios. Mas já se fala de gastos extras de R$ 16,6 milhões.
Aqui se criticou a obsessão de Lula em viajar para o exterior e brincar de fazer façanha histórica, como se a História fosse uma gincana escolar. Mas não se calcula façanha histórica, achando que dizendo coisas previsíveis em discursos no exterior e bancando o pacifista ingênuo sob chacotas discretas das autoridades estrangeiras - o caso Rússia x Ucrânia é ilustrativo disso - , forçando a barra para tentar enganar a posteridade.
Hoje leio comentários falando que Lula fez pouco pelo Brasil. Não se notam efeitos profundos de mudanças. Apenas se voltou a parâmetros medianos do governo Dilma Rousseff, em termos de relativa normalidade institucional. Os preços caíram abaixo do desejado, o emprego não se recuperou nem obteve a plenitude sonhada. O sistema de valores não se transformou e a sabotagem cultural da bregalização obteve uma supremacia tão grande que a cultura brega-popularesca virou o xodó da burguesia de chinelos que é a elite do bom atraso.
As pessoas já desconfiam de que Lula faz um governo de direita, e várias já apontam o atual mandato como o pior dos três. Um mandato ao mesmo tempo grandiloquente e pouco esforçado, com pequenas melhorias, tem que ser criticado. Esperava-se muito do Lula e não vamos fingir que ele fez muito se os fatos dizem o contrário. Gente consumindo mais cerveja e picanha em quantidades industriais a gente via até nos piores momentos de Michel Temer, a coisa só parou com a pandemia, a não ser em festas clandestinas.
Até as supostas pesquisas de opinião refletem essa queda de aprovação. O governo Lula já começa a se preocupar. Mas Lula não é de fazer autocríticas e só obedece a seus impulsos, e infelizmente ele dificilmente irá melhorar por conta de sua teimosia. Lula não é o centro do mundo nem pode ser o centro das decisões humanas. Lula não é o Rei Sol nem o motor que move a humanidade na Terra. E, antes de mais nada, ele tem mais de 200 milhões de habitantes para cuidar. O mundo se deixa para depois.
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