O Brasil está devastado, não só pela resistência do bolsonarismo, mas também pelo quadro cultural e social degradados, que a "nata" dos lulistas não consegue perceber de forma objetiva. Afinal, a pobreza não é linda nem divertida, e os pobres não se sentem confortáveis em viver em favelas, as mesmas exaltadas pelo discurso da intelectualidade "bacana" e pró-brega.
As esquerdas médias também mostram sua hidrofobia quando, hoje em dia, a Bossa Nova e o Rock Brasil passam a ser "vidraça", com Renato Russo e Cazuza rebaixados a sub-Roger mais melosos, e a geração Pasquim ser demonizada como "preconceituosa". E diante da exaltação da mediocridade, há apenas a apreciação protocolar, uma formalidade respeitosa, a nomes como Paulo Freire, Elis Regina e o sambista Cartola, lembrado pelos 115 anos de nascimento ontem, livres da artilharia da burguesia festiva que, no Carnaval do lulismo, se fantasia de "socialista".
Ninguém agora falou que o Brasil está se reconstruindo ou já está reconstruído. O clima é de positividade tóxica, de pretensa felicidade doentia e fanática, e o nosso país parece beneficiar mais as pessoas que passam a madrugada enchendo a cara de cerveja e gargalhando e gritando que nem psicóticos histéricos do que os trabalhadores que precisam dormir cedo não só para acordar para trabalhar no dia seguinte, mas pelo direito de também recarregar suas energias nos fins de semana e feriados.
Nesse cenário problemático, as esquerdas médias, analisando os assuntos do Oriente Médio, que voltaram por causa da tragédia da Faixa de Gaza, em Israel, tratam a causa palestina como se fosse um problema comunitário brasileiro.
É claro que este blogue defende a causa palestina, que entendemos a necessidade do povo palestino de ter seu país, crucial para sua cultura própria, e que o Hamas não representa o povo palestino, que e pacífico e prefere dialogar do que praticar terrorismo.
No entanto, nota-se um exagero de jornalistas de esquerda por tratar a causa palestina como se fosse uma pauta brasileira, e o presidente Lula anda pegando carona nos assuntos estrangeiros, na sua brincadeira obsessiva de ser o "maior líder mundial". Lula tornou-se arremedo de si mesmo, seja como governante ou personalidade internacional, e hoje o presidente se encolhe na proporção em que tenta ser maior com sua grandiloquência.
Esquecemos que o Brasil mantém entulhos culturais que vêm desde a ditadura militar, como a bregalização e toda uma narrativa que só valoriza o povo pobre quando este se comporta de maneira obediente e infantilizada. Essa narrativa, própria do conservadorismo ideológico, foi apropriada pelas esquerdas, devido ao aparato de suposta alegria do povo pobre e da pretensa carga positiva de seus fenômenos, do "brega de raiz" e do "funk" ao Espiritismo brasileiro.
Se reduzirmos os entulhos ao bolsonarismo, enquanto os entulhos mais antigos são tratados como se fossem o nosso maior tesouro, o Brasil continuará degradado e vulnerável a surtos golpistas como o bolsolavajatismo e o "pacote de maldades" de Michel Temer. Nossas esquerdas precisam parar de falar para si mesmas e ver o Brasil além das agendas convencionais de sempre.
É ver que a pobreza brasileira não é o Carnaval permanente que a intelectualidade pró-brega "tão provocativamente" pregou. É ver que, se o mundo estrangeiro explode em eventuais tragédias, há também a tragédia brasileira, que não pode ser relativizada. É ver que nosso país está devastado e que tem que se criticar, sim, o Lula, quando ele torra R$ 45 milhões para se ostentar no exterior, abandonando o povo brasileiro que pode ser novamente seduzido por Bolsonaro.
Enquanto isso, Jair Renan Bolsonaro, o "número 04", anda obtendo visibilidade com seu aparente romance gay, criando confusões e polêmicas que poderão reabilitar seu pai. As esquerdas médias teimam em não suportar o senso crítico, mas é justamente o senso crítico a ferramenta necessária para nos prevenirmos de mais um pesadelo golpista. E Lula não é imune a críticas, ainda mais quando ele se comporta como uma criança mimada que não dá ouvidos a conselhos nem tem autocrítica de seus atos.
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