Diz a piada que niteroiense ultimamente está com os pés sangrando de tanto dar tiro. Afinal, Niterói tornou-se o túmulo das ações estratégicas, raras que são as ações acertadas.
Rio do Ouro e Várzea das Moças não têm rodovia própria de acesso. Dependem da ligação forçada da rodovia estadual RJ-106, atrapalhando o tráfego de quem vai e vem de longe, na Região dos Lagos. O problema é grave mas os niteroienses parecem que estão boiando, ninguém sequer debate o problema.
Os parquiletes (parklets), que se anunciaram como instalações provisórias, se tornam permanentes como terríveis currais para o gado boêmio ficar cantando "Wouin' On The Ribo" (versão balbuciada de "Proud Mary", do Creedence Clearwater Revival) enquanto toma cerveja em quantidades industriais. Menos úteis do que o antigo trampolim da Praia de Icaraí (1937-1964), os parquiletes são instalações que lembram currais que dão um aspecto caricaturalmente "americano" para as ruas das grandes cidades.
O fim do prédio do antigo Rio Decor deixou um vácuo que, dizem, vai dar lugar para um condomínio convencional, um suposto resort cujas únicas instalações comerciais prováveis são um espaço fitness, duas pequenas butiques de roupas, uma farmácia e um monte de bares. De que adianta remover a cracolândia do antigo Rio Decor se põe no lugar bares com fanáticos torcedores de futebol, capazes de agressões e até assassinatos por conta das brigas por times movidas pela embriaguez do álcool?
Se Niterói passou a ser subserviente e provinciana, rebaixando-se a um papel humilhante depois que a ditadura militar impôs a fusão entre os Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara - fusão que ocorreu para fins políticos - , acumulando erros estratégicos diversos, trocando a Fluminense FM pelo pastiche da "Jovem Pan com guitarras" da Rádio Cidade (que, embora operasse no Rio de Janeiro, "nasceu" em Niterói) e trocando o Second Come (banda elogiada por Everett True, jornalista britânico) pelo breganejo João Gabriel, então a coisa está feia.
E agora a icônica Transturismo Rio Minho, aos 62 anos de existência, é extinta por um erro estratégico de dois grupos empresariais que se fundiram , o Grupo Rio Ita e o Grupo Mauá. A frota da Rio Minho foi absorvida pela Expresso Rio de Janeiro, uma empresa surgida em 1979 mas que parece ter surgido uns 15 anos antes e sua primeira pintura dava a crer que era uma empresa tão "portuguesa" quanto a que hoje desaparece de circulação.
Embora oficialmente sediada em Magé, há muito tempo a Expresso Rio de Janeiro é uma empresa de Niterói. O "sabor anos 1960" se dá porque é uma empresa com o nome de Rio de Janeiro mas que é administrada em Niterói, na Av. Prof. Heitor Carrilho, entre São Lourenço e Ponta d'Areia. O único ônibus de alta configuração que teve em sua frota foi um Nielson Urbanus Scania de 1989, mas a Expresso Rio de Janeiro nunca teve um ônibus com motor traseiro.
Em todo caso, a marca não é tão forte quanto a Rio Minho, embora o Grupo Mauá - Rio Ita devesse extinguir, se quisesse reduzir seu patrimônio, empresas locais gonçalenses. Enquanto a Rio Minho tinha identidade e história, mas foi extinta, empresas gonçalenses como Expresso Tanguá e Auto Ônibus Alcântara desperdiçam CNPJ operando como se fossem alter egos da Transportes Icaraí, todas exibindo a mesma pintura padronizada de São Gonçalo. E há rumores de que a Tanguá, embora continuasse existindo, está reduzindo sua frota, com alguns carros transferidos para a Expresso Rio de Janeiro.
Diante de tantos absurdos, e com base no que se fez com a Viação Itapemirim, criamos o blogue Volta Rio Minho, um esforço de reverter a extinção da icônica empresa, dotada de muita história. O endereço é simples - https://voltariominho.blogspot.com/ - e o blogue está apenas no começo, mas pretende bombar, mesmo num momento em que a baixa do Rio Negro só perde para a baixa do senso crítico dos brasileiros, que nunca esteve tão baixo nos últimos 50 anos.
Quem tem cara e coragem pode visitar o Volta Rio Minho e aguardar que novos textos estarão chegando.
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