PLANO DE EXPLOSÃO DO GASÔMETRO NO RIO DE JANEIRO EM 1968 SERIA UMA DAS PIORES CATÁSTROFES MUNDIAIS, FELIZMENTE EVITADA.
É gravíssimo o plano de atentado contra o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Não há como discutir o caráter violento dessa empreitada infeliz. Concordemos ou discordemos deles, mantê-los vivos é sinal de respeito humano e de um mínimo de civilidade possível.
Mas é um exagero o jornalista Tales Faria dizer que esse plano de atentado é mais violento do que o golpe de 1964. Pode parecer coincidência, mas o fato do artigo ter sido escrito para o UOL soa como um esforço do veículo dos Frias em tentar minimizar a gravidade do golpe de 1964 e a ditadura dele gerada, que durou pouco mais de duas décadas. O termo "ditabranda" diz muito sobre isso.
O plano do atentado não foi pior nem foi atenuante em relação ao golpe de 1964. Foi um plano violento no nível de outros planos violentos relacionados à ditadura militar: a Operação Brother Sam, o plano do PARA-SAR e o atentado ao Riocentro.
A Operação Brother Sam está diretamente ligada ao golpe de 1964. O plano já estava pronto, os EUA com recursos materiais e logísticos para iniciar uma guerra contra o Brasil, caso Leonel Brizola comandasse uma ação contrária ao movimento que tirou João Goulart do poder, naquele Primeiro de Abril daquele ano. Possivelmente Brizola seria assassinado pelas tropas na Operação Brother Sam.
Esse plano de guerra seria uma aliança entre as Forças Armadas que derrubaram Jango e seus similares estadunidenses, designados para esmagar qualquer resistência ao episódio que, durante muito tempo, foi chamado de "revolução democrática de 1964". Um dos articuladores dessa operação foi o embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon e o presidente estadunidense da época foi Lyndon Johnson, originalmente vice de John Kennedy, morto por um atentado, até hoje misterioso, em 1963 no Texas.
O plano de guerra seria um grande banho de sangue e, potencialmente, causaria destruições em cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Alegre. Teria causado várias mortes. O próprio João Goulart preferiu se resignar com a deposição do poder, tanto por não querer que aconteçam mortes em conflitos quanto por não ter condições de resistir e combater as tropas golpistas.
Em 1968, uma catástrofe mundial foi evitada quando o sargento Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, o Sérgio Macaco, um dos fundadores do PARA-SAR (Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento), denunciou o plano do brigadeiro João Paulo Burnier de criar uma série de explosões que causariam uma tragédia sem precedentes no Brasil.
Burnier, que tramava também o sequestro de personalidades como Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, Jânio Quadros e até Dom Hélder Câmara, que seriam jogados em alto mar, iria atribuir as explosões a grupos comunistas. O jornalista Franklin Martins, o emedebista e depois fundador do PSDB, Mário Covas e, pasmem, até o general do golpe de 1964, Olímpio Mourão Filho, também estavam na lista dos que seriam sequestrados.
Os explosivos seriam instalados na entrada de uma filial da Sears, na embaixada dos EUA no Brasil, numa filial do Citibank, no Gasômetro de São Cristóvão e na Represa de Ribeirão das Lajes, todos os lugares situados no Rio de Janeiro.
Descontando o Gasômetro (onde será construído o estádio do Flamengo), os atentados causariam um número relativamente pequeno de mortes. Já a explosão do Gasômetro atingiria todo o entorno de São Cristóvão, Benfica e Caju - numa época em que a Ponte Rio-Niterói estava sendo construída - e, o que é grave, poderia atingir toda a rede de gás encanado, o que poderia provocar uma tragédia incalculável, muito pior do que o famoso atentado às torres do World Trade Center, em setembro de 2001.
Sérgio Macaco denunciou a trama, e entre os que se empenharam para cobrar esclarecimentos do caso, estava o brigadeiro Eduardo Gomes, então único sobrevivente da revolta tenentista dos 18 do Forte de 1922 e ex-rival de Kubitschek na campanha presidencial de 1955. O plano não foi executado, mas Sérgio foi condenado à prisão por ordem de Burnier, figurão da Aeronáutica que acusava o denunciante de deturpar suas palavras.
O atentado do Riocentro, no Rio de Janeiro, em 30 de abril de 1981, iria explodir o local onde havia apresentações de MPB com grande presença da plateia. O atentado também seria atribuído a grupos comunistas. Mas o despreparo no manuseio das armas fez a explosão se precipitar duas vezes, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário, que faleceu imediatamente, e o capitão Wilson Dias Machado, que foi ferido gravemente, mas sobreviveu.
Por ironia, a cantora que se apresentava na ocasião da primeira explosão, Elba Ramalho, tornou-se, décadas depois, uma simpatizante do bolsonarismo, fazendo duras críticas ao que ela julgava ser o "comunismo", dentro dos estereótipos moldados pela ultradireita brasileira.
Esses episódios são para reviver a memória das pessoas sobre o caráter violento dos antigos golpismos, dos quais a mídia empresarial e mesmo a "democrática" burguesia dos tempos atuais - hoje associada à "democracia" de Lula 3.0 - tentam minimizar, "diminuindo" os golpes de 1964 e 2016 enquanto "aumentam" os golpes de Bolsonaro.
Bolsonaro é apenas um subproduto dos antigos golpismos, e é uma figura indiscutivelmente nefasta. Mas ele não pode levar nas costas sozinho a culpa de todos os golpismos e outros males das elites brasileiras. Devemos lembrar que muitos dos antigos golpistas, herdeiros das perversas aristocracias escravocratas e genocidas do Brasil colonial, hoje se refugiam sob o paletó azul de Lula (que hoje se rendeu aos aproveitadores), tentando se livrar das culpas de seu DNA golpista.
Daí o negacionismo factual daqueles que promovem o boicote à verdadeira informação. Daí o esforço de promover o "esquecimento" dos antigos golpismos, até porque há muitos golpistas que, por oportunismo, estão apoiando o progressismo político. Há muita gente conservadora se apressando a desembarcar de velhos barcos golpistas a naufragar, e convém tomarmos muito cuidado, pois muitos dos supostos aliados são, na verdade, inimigos internos.
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