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NEGACIONISMO FACTUAL É HERANÇA DA IMPRENSA DO AI-5


O negacionismo factual, que contagia não apenas os golpistas de carteirinha, mas também muita gente "democrática" que fica se achando nas redes sociais, é um fenômeno no qual se manifesta a recusa em saber de fatos verídicos quando eles não agradam nem atendem aos interesses do receptor da notícia.

Em outras palavras, é quando a pessoa não gosta de saber sobre aquilo que lhe desagrada. São pessoas que preferem ler mentiras agradáveis, fantasias delirantes e coisas frívolas e supérfluas, porque são tomadas de uma positividade tóxica - ou negativismo, no caso dos golpistas - que as leva a querer ler apenas aquilo que gostam.

Há um medo muito grande, entre os negacionistas factuais, de sofrer tensões diante de textos que expressam um pensamento crítico ou trazem algum aspecto desagradável que choca suas convicções pessoais, daí a fobia em relação a livros que trazem Conhecimento autêntico ou blogues como este, que apresentam uma visão crítica do mundo em que vivemos.

Esse negacionismo não é de hoje. Primeiro, porque são as classes abastadas que têm mais tempo para usar as redes sociais e, desta forma, desenvolver uma visão dominante e cada vez menos realista do cotidiano. Segundo, porque o negacionismo factual é um hábito que vem de longe, do ano de 1974 que "construiu" o modelo de país que prevalece no imaginário das pessoas mais influentes.

Pois 1974 foi o ano em que, para os olhos da burguesia, o Brasil chegou a "bons termos", exterminando acusados de "subversão à ordem" nos porões da repressão ditatorial e, em contrapartida, criando valores culturais que alternam entre um moralismo e um espiritualismo conservadores e a um hedonismo impulsivo e intelectualmente idiotizado. A cultura brega-popularesca veio como um meio de anestesiar e domesticar as classes populares.

Com isso, tivemos uma imprensa que, a partir de 13 de dezembro de 1968, quando a ditadura decretou o Ato Institucional Número Cinco (AI-5), teria que submeter a produção de seus textos para fiscais da Censura Federal, órgão do governo ditatorial. É certo que isso incomodava a grande mídia, não por combater a "liberdade de informação", mas porque demorava muito para os textos serem avaliados, pois eles chegavam "frios" quando liberados para publicação.

A nossa mídia é conservadora, e isso fez com que o Jornalismo se deturpasse e se transformasse num processo de distorção da realidade, pois a veiculação, ao mesmo tempo seletiva e facciosa das notícias atendia a interesses empresariais das famílias midiáticas e ao bem-estar da única classe que saiu incólume na crise do "milagre brasileiro", a burguesia, hoje repaginada como uma classe "democrática" e "legal".

E aí vemos o quanto o Jornal Nacional, que "fabricava" notícias "positivas" para anestesiar os brasileiros em relação às "boas realizações" dos governos militares, influiu muito na formação de uma maneira de ver a realidade, com os filtros "isentos" de uma sociedade que procura manter os privilégios das classes dominantes, ao longo desses últimos cinquenta anos.

Ler um jornal censurado, ver os fatos fantasiosos do Jornal Nacional - que mostrava um mundo "tenso" enquanto o Brasil "vivia às mil maravilhas" - e querer apenas apreciar a opinião hierarquizada de pretensos especialistas, tudo isso criou um hábito como naquele ditado do cachimbo que faz a boca ficar torta. E aí, do AI-5 do "milagre brasileiro", se chegou ao AI-SIMco da positividade tóxica da "democracia" lulista.

Daí que as pessoas passaram a boicotar textos com pensamento crítico, fugir de livros que apresentem o Saber autêntico e maiúsculo - com a única exceção dos livros indicados para o ENEM e concursos públicos - e desconfiarem de revelações verídicas que fogem do circo da visibilidade fácil das narrativas oficiais sobre qualquer coisa.

Daí o negacionismo factual, reação de recalque de leitores de notícias que predominam nas redes sociais, com o objetivo de manter essas pessoas na zona de conforto das compreensões acomodadas de um mundo que lhes parece estável e cujas narrativas podem ser desprovidas de qualquer veracidade, mas são suficientemente organizadas para produzir sentido e ser compartilhada por um considerável número de pessoas, ganhando um aparato de falsa verdade cuja coerência discursiva é apenas aparência.

O problema é que essa aparência é que garante o sono tranquilo daqueles que dominam as narrativas nas redes sociais e nos espaços de produção de bom senso. Mentiras agradáveis agregam mais do que verdades dolorosas.

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