O recente sequestro da modelo Luciana Curtis, seu marido, o fotógrafo Henrique Gendre, e a filha adolescente do casal, ocorrido na noite do último dia 27, é um aviso para a burguesia de chinelos que tem mais do que precisa e ganha demais sem querer muito.
Não falamos do casal em si, que representa o que há de inofensivo e discreto na burguesia, mas o fato de Luciana, Henrique e a filha terem sido sequestrados por um grupo de assaltantes serve para os chamados "animais consumistas" que empoderaram os anos pós-Covid e pós-Bolsonaro.
A família estava jantando num restaurante no Alto da Lapa, na Zona Oeste de São Paulo, quando, na saída, foi rendida por uma quadrilha que sequestrou os três e os manteve por doze horas em cativeiro em Brasilândia, na Zona Norte, enquanto os assaltantes roubaram o carro do casal, o GWM Haval, avaliado em mais de R$ 200 mil, e transferiram o dinheiro dos dois para as contas dos envolvidos no sequestro. O carto foi achado carbonizado nas proximidades do bairro do cativeiro.
Depois de doze horas, os três foram liberados, sem sofrer qualquer tipo de ferimento. O casal foi fazer boletim de ocorrência numa delegacia de Parada de Taipas, onde a família foi solta pela quadrilha, e a 3ª Delegacia da Divisão Antissequestro está investigando o caso como sequestro, extorsão e roubo.
Luciana Curtis tornou-se famosa no fim dos anos 1990, num momento em que a alta sociedade fashion ainda era um mundo "fechado", sem o apelo pop que existe hoje em dia. Eram tempos em que a revista Caras não era uma revista de fofocas, estando mais próxima a um colunismo social versão revista, como naquelas colunas de jornais que aparecem pessoas ricas que os leitores comuns não tinham ideia de quem quer que fosse.
O episódio é extremamente lamentável e Luciana e Henrique não representam o pior da elite gananciosa que temos, principalmente em São Paulo. Eles destoam tanto do perfil da burguesia "esclarecida" e pseudo-intelectual da Faria Lima, que "governa" a cultura da classe média brasileira, e da burguesia populista da Avenida Paulista, que fuma cigarros e bebe cervejas em quantidades industriais.
Mesmo assim, a modelo, o fotógrafo e sua filha tiveram que servir de "cobaias" para o que pode vir por aí, num contexto em que os "animais consumistas" se ascenderam no contexto pós-pandemia. Chama-se de "animal consumista" aquele indivíduo com dinheiro demais que só pensa em ter grana demais e viver só para consumir e servir aos seus instintos. Infelizmente, até os ex-pobres cuja riqueza é "fabricada" por loterias e promoções de mercadorias se tornam, também, "pobres de alma burguesa".
Esse alerta serve para aqueles que têm dinheiro demais pensar em superar o egoísmo, não se preocupar com tanto supérfluo, abrir mão do dinheiro que não necessita para ajudar o próximo - sem os paliativos demagógicos e vergonhosos da filantropia que não resolve a miséria como um todo - e até preferir comprar produtos com preço mais em conta e, sobretudo, comprar somente o que precisa.
A pandemia do egoísmo não pode deixar eclodir a onda de assaltos que ocorreu do "milagre brasileiro" à Era FHC, um processo causado pela revolta dos pobres que não tiveram a quem recorrer e achavam que o crime iria resolver seus problemas.
Menos cigarros, menos cerveja, menos Bariloche, Cancun, Paris etc. Menos carrões caríssimos. Menos boates caras, divertimentos caros. Menos alimentos caros comprados pelo prestígio da marca. E menos dormitórios de dinheiros que se tornam os depósitos nababescos da burguesia enrustida. É necessário romper com a ganância em ter em vez de ser. Depois a burguesia de chinelos não gosta quando é chamada por este nome.
Ficam aqui nossos pêsames ao que Luciana, Henrique e a filha sofreram e desejamos que eles possam superar o trauma da melhor forma possível.
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