A quantas está a imbecilização cultural no mundo, através do ultracomercialismo pop.
Quanto apareceu no programa The Late Show With Stephen Colbert, o grupo sul-coreano BTS, um dos ícones do k-pop, resolveu "homenagear" os Beatles.
Isso é uma grande galhofa, mas a mídia engoliu e foi logo tratar o grupo como "banda".
Está na cara que os rapazes só cantam e dançam. Se ao menos fossem como nos grupos de soul music, cujos integrantes só cantam e dançam nas performances, mas em estúdio são exímios instrumentistas, é compreensível.
Pelo menos os caras do One Direction e, no passado, do Take That, mostraram que, pelo menos eventualmente, tocam algum instrumento.
No caso do BTS, dentro de um mercado opressivo que é o k-pop, na verdade um derivado do j-pop (pop juvenil japonês), os caras só cantam e dançam.
E isso soa uma galhofa com a homenagem aos Beatles.
Os Beatles eram uma banda de verdade. Tanto que os ingleses cancelaram as apresentações ao vivo porque não suportavam ouvir as fãs gritando e eles não poderem ouvir o que eles mesmos tocavam.
Sabe-se que, entre 1966 e 1970, os Beatles aprimoraram-se como músicos e compositores, virando suas carreiras, além do rock em geral, de cabeça para baixo.
Muito diferente do BTS, um grupo meramente comercial e submisso às regras de mercado.
E há um grande erro, um vício carregado desde os anos 1990, da imprensa chamar grupos vocais de "bandas".
Esse cacoete se deve à tradução equivocada do termo boy band, que na verdade é "grupo de garotos".
É como naquela série de guerra "Band of Brothers" co-produção de Steven Spielberg e Tom Hanks.
O título, em tradução literal, significa "Grupo de Irmãos", ou "Bando de Irmãos", embora o título brasileiro acabou sendo Irmãos em Guerra.
O consolo é que Band of Brothers tem no elenco um membro de boy band, Donnie Wahlberg, do New Kids On The Block.
O que poucos percebem é que band também pode ser conhecido como "bando", "conjunto", "grupo".
"Banda" é um grupo musical que, mesmo vocal, tem sempre integrantes instrumentistas, pelo menos dois.
Não existe banda que não tenha instrumentista.
Além disso, é triste ver esses grupos cantantes e dançantes serem tratados como "músicos", atrapalhando o trabalho da categoria.
Não dá para comparar um sujeito ensaiando horas de guitarra e rapazes ensaiando passos de dança orientados pelo produtor ou empresário.
Além do mais, era empolgante, mas também desafiador que, nos tempos dos Beatles, os jovens tenham vontade de comprar instrumentos musicais e sair formando bandas.
Que graça tem ver rapazes apenas cantando e dançando? Você vai ter vontade de comprar uma guitarra ou um baixo com isso? Não.
Com os Beatles, um sem-número de bandas se formou porque vários jovens tiveram uma baita vontade de comprar guitarras, baixos elétricos, teclados e bateria para formar grupos.
E era cada banda diferente de outra. Só na Grã-Bretanha, grupos como Rolling Stones, Who, Kinks, Animals, Creation, Cream, Yardbirds, Hollies, Led Zeppelin e Deep Purple são diferentes uns dos outros. E ninguém soando como os Beatles.
Enquanto isso, as "bandas" do k-pop e do j-pop soam iguais umas às outras, numa fórmula do pop dançante movido a sintetizadores.
É triste ver que os fãs desses grupos ficam se achando. Sabemos que esses ídolos teen mexem com os hormônios das adolescentes, mas isso não significa que elas fiquem com esse fanatismo que as impede de aceitar as críticas contra seus ídolos.
Mas, desde os anos 1990, o hit-parade virou uma "verdade absoluta" que faz os fãs de seus intérpretes se irritarem à menor crítica.
Paciência, num mundo em que Bee Gees e Whitney Houston têm fãs tão temperamentais e, em muitos casos, tão violentos quanto os nazi punks, qualquer fã de teen pop se enfurece até quando se critica uma espinha de um cantor favorito.
E num Brasil onde tanta gente que parecia normal votou em Jair Bolsonaro, isso se torna ainda mais preocupante. Triste.
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