A MÍDIA VENAL BOTOU O BREGA-POPULARESCO COMO PAUTA PARA DESVIAR O DEBATE SOBRE O ESCÂNDALO DO MENSALÃO.
A intelectualidade "bacana", apesar de seu suposto vínculo com o esquerdismo, teria agido para derrubar Lula entre 2005 e 2007.
Quando, em 2005, estouraram as supostas denúncias do escândalo do "mensalão" do publicitário mineiro Marcos Valério, coincidiu-se que a suposta "cultura popular" da mídia venal passou a ter uma campanha apologética intensa.
Eram pastiches de ritmos populares ou ritmos estrangeiros adaptados para o contexto brega, e que sempre fizeram sucesso nos veículos da mídia hegemônica nacional e na mídia coronelista regional.
O trabalho veio antes, com Paulo César de Araújo e seu Eu Não Sou Cachorro Não tentando desviar o foco da crise do segundo governo Fernando Henrique Cardoso, atingido pelo racionamento de energia elétrica e pela tragédia da plataforma P-36, da Petrobras.
Era uma maneira de desmobilizar as classes populares e tratar o povo pobre feito criança, dizendo: "os problemas do Brasil não são de sua conta, vão brincar com sua cultura brega, vão".
Nessa época o "funk" também tentava ser "mais do que um modismo", através de propagandistas como Luciano Huck e Alexandre Frota (ele mesmo, o ex-ator, hoje político do PSL).
Mas foi o ano de 2005 que a bregalização virou um prato que a mídia venal requentou e fez o que pôde para servir ao cardápio da mídia esquerdista.
A desculpa era o tal "combate ao preconceito" e a breguice era, primeiro, blindada por órgãos da mídia venal, como os da Globo, Folha e Abril, as mais empenhadas no processo.
Só que esse "combate ao preconceito" atuava em prol da própria natureza preconceituosa da bregalização cultural, que os intelectuais abastados não conseguem entender.
Afinal, há uma forma de depreciar o povo pobre sob a aparência de uma suposta exaltação a ele.
A espetacularização da pobreza, da prostituição, do alcoolismo, do mau gosto etc, se deixando valer de alegações supostamente "modernistas" de provocatividade cultural, fizeram com que, sob o pretexto de "exaltar as periferias", defendeu-se a pobreza e não o povo pobre.
E quando o então presidente Luís Inácio Lula da Silva era acusado de receber propina de Marcos Valério, começava a ser atacado pela grande mídia, houve a sutil manobra que soou como uma pegadinha para as esquerdas.
O "funk", que ganhou uma blindagem fora do comum das Organizações Globo, fingiu que estava sem mídia para enganar as esquerdas com seu vitimismo.
Apadrinhado por José Padilha, MC Leonardo foi acolhido por antropólogos ligados ao PSDB mas que haviam se infiltrado nas esquerdas petistas e psolistas e aí virou colunista de Caros Amigos.
Era até estranho, porque um dos editores da Caros Amigos, José Arbex Jr., havia rejeitado o "funk" num artigo para um outro periódico.
Mas eram pressões das conveniências e o imaginário brega do PSDB passou a ser acolhido, de maneira persistente, na mídia esquerdista, que acolheu submissa a falácia da "cultura das periferias".
Esquece-se que a abordagem remetia à Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso, à qual a "cultura popular" deveria ser submetida às regras do comercialismo.
A campanha pelo "combate ao preconceito", que eu sempre achei hipócrita, tinha muitas estranhezas.
Enquanto, nas páginas de Caros Amigos, Fórum, Carta Capital e Brasil de Fato pessoas defendiam o "popular demais" (ou brega-popularesco), nas redes sociais quem defendia eram os sociopatas que, depois, elegeram com gosto Jair Bolsonaro.
Como as esquerdas intelectuais e os fascistas mirins passaram a apoiar as mesmas referências "culturais" é algo que mereceria maiores explicações.
Filmes como o dramalhão Os Dois Filhos de Francisco, sobre Zezé di Camargo & Luciano (supostos esquerdistas que, depois, deixaram a máscara cair apoiando Aécio Neves e Jair Bolsonaro) e o documentário Sou Feia Mas Tô Na Moda, da ex-RBS Denise Garcia, eram lançados.
O propósito é dar um verniz "cultural" ao comercialismo musical brasileiro e a outros fenômenos popularescos, de natureza mais comportamental (como a erotização grosseira das funqueiras).
Havia vários propósitos, dos quais destaco dois.
Um é evitar que a cultura de verdade, como foi a MPB e os movimentos teatrais e de artes plásticas entre 1966 e 1968, voltassem a ter força, desta vez apoiando o governo Lula.
Outro é desviar o foco dos debates sobre a campanha tendenciosa que se fazia de Lula, alvo de um suposto escândalo político.
Muitos intelectuais vindos da mídia venal viraram, da noite para o dia, "amigos sinceros das esquerdas".
Isso lembrava o conto do "amigo dedicado", de Oscar Wilde, quando as elites intelectuais tomavam para elas o rico patrimônio cultural do povo pobre, mas reservava a ele a mediocrização cultural trazida por referenciais comerciais e estrangeiros impostos pela mídia hegemônica.
O trio Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna (este o único dos três a manter vínculo formal com a mídia venal) virou a "santíssima trindade" da intelectualidade "bacana".
Eu Não Sou Cachorro Não virou a "Bíblia" dessa campanha de imbecilização cultural travestida de "luta contra o preconceito".
Outro propósito é fazer o brega-popularesco ampliar espaços e atingir o público riquinho, constituindo nas atuais demandas do Villa Mix, Barra Music, das festas de Carol Sampaio e similares.
"Tudo por dinheiro", fazendo trocadilho com um dos programas de Sílvio Santos, o hoje bolsonarista que foi um dos "papas" da bregalização cultural do Brasil desde os anos 1970.
O falso vínculo da bregalização ao esquerdismo, apesar do passado como propagandista da ditadura militar, foi um mantra exaustivamente tocado para enfraquecer as esquerdas.
E ainda havia o parasitismo dos brega-popularescos sobre a Lei Rouanet, o que fez desmoralizar as políticas de incentivos fiscais.
O inexpressivo Tchakabum - mais conhecido por lançar a ex-dançarina e hoje musa fitness Gracyanne Barbosa - abocanhou uma generosa verba da Lei Rouanet, passando a perna sobre muitos projetos culturais mais relevantes.
E esse "combate ao preconceito" só criou consequências danosas. O "bom esquerdismo" de Pedro Alexandre Sanches, mesmo indiretamente, impulsionou a ascensão dos jornalistas hidrófobos, das passeatas do "Fora Dilma" e da ascensão de Michel Temer e Jair Bolsonaro ao poder.
A intelectualidade "bacana", como o próprio Sanches, foi chorar "lágrimas de crocodilo" com o fim gradual da Lei Rouanet e do Ministério da Cultura.
A mídia alternativa que participou da apologia à bregalização se enfraqueceu.
A Caros Amigos acabou, a Fórum deixou de ter edição impressa (que garantiria mais visibilidade) e a Carta Capital resiste, mas chegou a patinar durante um tempo.
E foi aí que o setor da Cultura saiu enfraquecido.
Tomou-se como "cultura popular autêntica" formas de expressão comerciais e midiáticas que tratavam o povo pobre feito caricatura.
E aí, deu no que deu. Enfraquecimento das manifestações populares e fragilização de nossa cultura.
O "combate ao preconceito" abriu caminho para um Brasil ainda mais preconceituoso.
A intelectualidade "bacana", apesar de seu suposto vínculo com o esquerdismo, teria agido para derrubar Lula entre 2005 e 2007.
Quando, em 2005, estouraram as supostas denúncias do escândalo do "mensalão" do publicitário mineiro Marcos Valério, coincidiu-se que a suposta "cultura popular" da mídia venal passou a ter uma campanha apologética intensa.
Eram pastiches de ritmos populares ou ritmos estrangeiros adaptados para o contexto brega, e que sempre fizeram sucesso nos veículos da mídia hegemônica nacional e na mídia coronelista regional.
O trabalho veio antes, com Paulo César de Araújo e seu Eu Não Sou Cachorro Não tentando desviar o foco da crise do segundo governo Fernando Henrique Cardoso, atingido pelo racionamento de energia elétrica e pela tragédia da plataforma P-36, da Petrobras.
Era uma maneira de desmobilizar as classes populares e tratar o povo pobre feito criança, dizendo: "os problemas do Brasil não são de sua conta, vão brincar com sua cultura brega, vão".
Nessa época o "funk" também tentava ser "mais do que um modismo", através de propagandistas como Luciano Huck e Alexandre Frota (ele mesmo, o ex-ator, hoje político do PSL).
Mas foi o ano de 2005 que a bregalização virou um prato que a mídia venal requentou e fez o que pôde para servir ao cardápio da mídia esquerdista.
A desculpa era o tal "combate ao preconceito" e a breguice era, primeiro, blindada por órgãos da mídia venal, como os da Globo, Folha e Abril, as mais empenhadas no processo.
Só que esse "combate ao preconceito" atuava em prol da própria natureza preconceituosa da bregalização cultural, que os intelectuais abastados não conseguem entender.
Afinal, há uma forma de depreciar o povo pobre sob a aparência de uma suposta exaltação a ele.
A espetacularização da pobreza, da prostituição, do alcoolismo, do mau gosto etc, se deixando valer de alegações supostamente "modernistas" de provocatividade cultural, fizeram com que, sob o pretexto de "exaltar as periferias", defendeu-se a pobreza e não o povo pobre.
E quando o então presidente Luís Inácio Lula da Silva era acusado de receber propina de Marcos Valério, começava a ser atacado pela grande mídia, houve a sutil manobra que soou como uma pegadinha para as esquerdas.
O "funk", que ganhou uma blindagem fora do comum das Organizações Globo, fingiu que estava sem mídia para enganar as esquerdas com seu vitimismo.
Apadrinhado por José Padilha, MC Leonardo foi acolhido por antropólogos ligados ao PSDB mas que haviam se infiltrado nas esquerdas petistas e psolistas e aí virou colunista de Caros Amigos.
Era até estranho, porque um dos editores da Caros Amigos, José Arbex Jr., havia rejeitado o "funk" num artigo para um outro periódico.
Mas eram pressões das conveniências e o imaginário brega do PSDB passou a ser acolhido, de maneira persistente, na mídia esquerdista, que acolheu submissa a falácia da "cultura das periferias".
Esquece-se que a abordagem remetia à Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso, à qual a "cultura popular" deveria ser submetida às regras do comercialismo.
A campanha pelo "combate ao preconceito", que eu sempre achei hipócrita, tinha muitas estranhezas.
Enquanto, nas páginas de Caros Amigos, Fórum, Carta Capital e Brasil de Fato pessoas defendiam o "popular demais" (ou brega-popularesco), nas redes sociais quem defendia eram os sociopatas que, depois, elegeram com gosto Jair Bolsonaro.
Como as esquerdas intelectuais e os fascistas mirins passaram a apoiar as mesmas referências "culturais" é algo que mereceria maiores explicações.
Filmes como o dramalhão Os Dois Filhos de Francisco, sobre Zezé di Camargo & Luciano (supostos esquerdistas que, depois, deixaram a máscara cair apoiando Aécio Neves e Jair Bolsonaro) e o documentário Sou Feia Mas Tô Na Moda, da ex-RBS Denise Garcia, eram lançados.
O propósito é dar um verniz "cultural" ao comercialismo musical brasileiro e a outros fenômenos popularescos, de natureza mais comportamental (como a erotização grosseira das funqueiras).
Havia vários propósitos, dos quais destaco dois.
Um é evitar que a cultura de verdade, como foi a MPB e os movimentos teatrais e de artes plásticas entre 1966 e 1968, voltassem a ter força, desta vez apoiando o governo Lula.
Outro é desviar o foco dos debates sobre a campanha tendenciosa que se fazia de Lula, alvo de um suposto escândalo político.
Muitos intelectuais vindos da mídia venal viraram, da noite para o dia, "amigos sinceros das esquerdas".
Isso lembrava o conto do "amigo dedicado", de Oscar Wilde, quando as elites intelectuais tomavam para elas o rico patrimônio cultural do povo pobre, mas reservava a ele a mediocrização cultural trazida por referenciais comerciais e estrangeiros impostos pela mídia hegemônica.
O trio Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna (este o único dos três a manter vínculo formal com a mídia venal) virou a "santíssima trindade" da intelectualidade "bacana".
Eu Não Sou Cachorro Não virou a "Bíblia" dessa campanha de imbecilização cultural travestida de "luta contra o preconceito".
Outro propósito é fazer o brega-popularesco ampliar espaços e atingir o público riquinho, constituindo nas atuais demandas do Villa Mix, Barra Music, das festas de Carol Sampaio e similares.
"Tudo por dinheiro", fazendo trocadilho com um dos programas de Sílvio Santos, o hoje bolsonarista que foi um dos "papas" da bregalização cultural do Brasil desde os anos 1970.
O falso vínculo da bregalização ao esquerdismo, apesar do passado como propagandista da ditadura militar, foi um mantra exaustivamente tocado para enfraquecer as esquerdas.
E ainda havia o parasitismo dos brega-popularescos sobre a Lei Rouanet, o que fez desmoralizar as políticas de incentivos fiscais.
O inexpressivo Tchakabum - mais conhecido por lançar a ex-dançarina e hoje musa fitness Gracyanne Barbosa - abocanhou uma generosa verba da Lei Rouanet, passando a perna sobre muitos projetos culturais mais relevantes.
E esse "combate ao preconceito" só criou consequências danosas. O "bom esquerdismo" de Pedro Alexandre Sanches, mesmo indiretamente, impulsionou a ascensão dos jornalistas hidrófobos, das passeatas do "Fora Dilma" e da ascensão de Michel Temer e Jair Bolsonaro ao poder.
A intelectualidade "bacana", como o próprio Sanches, foi chorar "lágrimas de crocodilo" com o fim gradual da Lei Rouanet e do Ministério da Cultura.
A mídia alternativa que participou da apologia à bregalização se enfraqueceu.
A Caros Amigos acabou, a Fórum deixou de ter edição impressa (que garantiria mais visibilidade) e a Carta Capital resiste, mas chegou a patinar durante um tempo.
E foi aí que o setor da Cultura saiu enfraquecido.
Tomou-se como "cultura popular autêntica" formas de expressão comerciais e midiáticas que tratavam o povo pobre feito caricatura.
E aí, deu no que deu. Enfraquecimento das manifestações populares e fragilização de nossa cultura.
O "combate ao preconceito" abriu caminho para um Brasil ainda mais preconceituoso.
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