Quando a situação no Brasil, nos últimos dias, caminhava para tensões extremas, Jair Bolsonaro recuou.
Já havia uma manifestação de caminhoneiros pelegos ligados ao agronegócio, em várias rodovias federais.
Já estava preparado um plano de invasão do Supremo Tribunal Federal. Um golpe estava em curso.
De repente, porém, Jair Bolsonaro recuou e disse que não vai dar golpe, pediu aos caminhoneiros que encerrassem o protesto e disse que "nunca teve intenção de agredir os poderes". Ele também disse que os ataques aos poderes "decorreram do calor do momento".
Nesse morde-assopra, o presidente contou com a ajuda do seu antecessor, Michel Temer, que se reuniu com ele e bolou o texto do recuo a ser lido pelo atual chefe da República.
Temer prometeu negociar até com o ministro do STF que nomeou, Alexandre de Moraes, para ver se ele "maneira" com os inquéritos contra Bolsonaro.
Até o momento, Moraes não divulgou sua posição, mas tudo indica que ele não irá se render ao apelo de Temer.
Jair Bolsonaro voltou a ser, aparentemente, o "Jairzinho Paz e Amor", num cenário sócio-político muito, muito estranho.
É um cenário no qual as esquerdas, antes uma força viável de opção político-ideológica, se perde na fantasia e na cegueira de, ao mesmo tempo, se isolarem e se acovardarem, achando que já estão com o jogo ganho.
O ex-presidente Lula fez um pronunciamento no dia 06 de setembro, mas, no dia 07 de setembro, ele "sumiu".
Também as manifestações anti-Bolsonaro no Sete de Setembro foram um fiasco. Nem a mídia de esquerda se encorajou a noticiar com destaque, a não ser por notas tímidas e breves.
Até o âncora da Globo News, César Tralli, sentiu isso e veio com uma ironia para um repórter que estava no Vale do Anhangabaú, espaço dos esquerdistas aqui em Sampa. O marido de Ticiane Pinheiro pediu ao repórter que retomasse a transmissão "se houver alguma novidade".
Não bastasse isso, o movimento Fora Bolsonaro deu continuidade à sua gafe: marcou mais uma manifestação para uma data distante, 15 de novembro.
Eles poderiam, ao menos, marcar um protestocontra Bolsonaro no dia 12 de outubro, porque aí estaria de acordo com o infantilismo que contamina as esquerdas perdidas na sua memecracia.
Até em pedidos de impeachment a direita moderada, que já começa a se despertar, teve dianteira depois da crise política dos últimos dias. PSDB e o ex-esquerdista PDT formalizaram os primeiros pedidos. Sem protagonismo, o PT foi atrás, como coadjuvante.
A princípio, o recuo de Jair Bolsonaro decepcionou seus violentos seguidores. A palavra-chave "Arregou" (que significa "fugir da luta") virou destaque nas redes sociais.
Bolsonaristas se demonstraram decepcionados com a reação do presidente. Acharam que o presidente se acovardou.
Creio que Bolsonaro foi estratégico. Quando a pressão pelo impeachment se intensificou contra ele, o presidente resolveu recuar.
Era uma tentativa de abafar o impeachment, quando Bolsonaro passou a vestir a capa do "democrático tolerante e respeitador das leis e das instituições".
Se as tensões pareciam ter diminuído, o Brasil continua mergulhado numa grande confusão, o que traz insegurança e fragilidade.
E as esquerdas pagam o preço caro de sua passividade e sua má vontade em protestar nas ruas.
No próximo domingo, o MBL (aka Movimento Me Livre do Brasil) vai fazer um protesto contra o Bolsonaro que criaram, horrorizados com o Frankenstein político lançado no calor golpista de 2016.
As esquerdas não vão participar, e por um lado é bom não ver petistas e psolistas abraçados a Kim Kataguiri, Renan Santos e Fernando Holiday.
Mas, por outro lado, as esquerdas permanecerão isoladas, cantando uma vitória que não existe e achando que Lula vai afugentar até o peixe invasor de Fernando de Noronha e a tartaruga aligátor com mordida pior que a de um leão.
Triste Brasil.
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