BRITNEY SPEARS E MIRANDA COSGROVE - O CASO MAIS GRAVE FOI O QUE GEROU MENOS INDIGNAÇÃO.
Fiquei extremamente chocado com a indiferença das pessoas quanto a uma "discreta" campanha ofensiva contra Miranda Cosgrove, estrela do seriado iCarly e do programa educativo Mission Unstoppable.
Eu escrevi duas postagens, cuja repercussão foi muito fria. Divulgava os textos e o Blogger divulgava um acréscimo medíocre de número de leitores, em boa parte de má vontade de saber do problema.
Uma das postagens descrevia originalmente o problema: Miranda Cosgrove foi comparada, de maneira bastante pejorativa e claramente ofensiva, ao falecido ícone da música pop, Michael Jackson, através de uma suposta semelhança facial.
E o mais grave: um canal chamado "Músicos Cínicos", hispano-americano, lançou dois vídeos baseados numa teoria conspiratória horrorosa, de que a cantora, atriz, apresentadora e produtora havia "morrido" e teria sido "subsituída" pelo "Rei do Pop".
Um vídeo mostrava Miranda no estúdio, mas o som era uma hipotética versão acústica de "Billie Jean", feita por uma mixagem.
Outro vídeo fazia uma paródia muito grotesca e de extremo mau gosto da abertura de iCarly, usando imagens de Michael Jackson.
Os vídeos foram mantidos, apesar de usar, sem autorização, material de propriedade da Nickelodeon / CBS Viacom, o que vai contra as diretrizes do YouTube.
Não dá para entender por que os dois vídeos foram mantidos no ar até hoje. Principalmente quando o YouTube chega a tirar do ar vídeos mais respeitosos que, supostamente, foram apontados como violadores de direitos autorais, apenas por reproduzir imagens de canais de TV para fins de informação.
Em outra postagem, eu reforcei os argumentos e, levando em conta que Michael, durante um tempo, foi "dono" das letras das canções dos Beatles, depois de se aproveitar de parcerias com Paul McCartney, disse que Miranda não era o "Billy Shears" do Michael.
Para quem não sabe, Billy Shears teria sido um hipotético sósia que, segundo uma lenda plantada supostamente pelo próprio Paul, o teria substituído depois de sua "morte" num acidente de trânsito.
Vale lembrar que, na teoria conspiratória do Billy Shears, muitos atribuem ao próprio senso de humor de Paul a invenção da lenda.
Não é o caso de Miranda, cuja teoria conspiratória foi feita à revelia dela.
O choque que eu tive com a indiferença em torno das ofensas dos "Músicos Cínicos" contra Miranda Cosgrove é terrível.
Isso porque, na América Latina, Michael é visto como "Deus", se esquecendo que, no país de origem, nos EUA, o cantor era considerado decadente nas últimas décadas de vida e, então, se alimentava com factoides e escândalos.
Por outro lado, Miranda é uma mulher sem escândalos em sua trajetória de vida e seu jeito considerado "carola" por muitos, o que faz com que a sociedade marcada pela sordidez do show business hoje esculhambe com a intérprete da Carly Shay.
Miley Cyrus, conhecida pelos escândalos e pelo vazio da fama, é respeitada por estar de acordo com os padrões ridículos do "gente como a gente", eufemismo para a gourmetização do hedonismo idiotizado e obsessivo dos mileniais que predominam nas redes sociais.
Ninguém vai dizer que Miley Cyrus tem "cara de Muppet"ou falar que ela "morreu" e foi "substituída" pelo urso Fozzie, que teria se "depilado" e virado "transgênero". E se os "Músicos Cínicos" ou similares fizessem isso, o pessoal que fica indiferente ao caso Miranda Cosgrove iria deixar passar?
E onde entra Britney Spears nessa?
É por causa do escândalo recente no qual o pai de Britney, Jamie Spears, controlava ela como se a estrela pop tivesse sido "interditada", ou seja, incapaz de viver de maneira independente.
Claro que isso é um problema sério. Mas, comparado com o que Miranda Cosgrove sofre pelas costas, é um problema pequeno.
É claro que sou a favor do #FreeBritney e fiquei feliz quando Jamie declarou que desistiu de controlar sua filha. Mas vejamos o nível das coisas!
Mais grave é uma atriz juvenil, que já sofreu ameaças de estálquer (stalker), ainda ser dada como "morta" e ter sido "substituída" por um problemático ídolo marcado por escândalos e por uma vergonha de sua origem negra que o forçou a querer ter um visual andrógino e "eternamente jovem".
Ninguém percebe isso, e eu identifiquei algumas desculpas usadas para tamanha indiferença.
Os que pouco se incomodam com os vídeos que ofendem Miranda Cosgrove e agridem sua reputação se dividem em duas tendências principais.
Primeiro, os que acham os vídeos "divertidos" e imaginam que eles "não são ofensivos". Neste grupo, predominam aqueles que parecem mais se identificar com o "Rei do Pop" (uma "divindade" para o viralatismo cultural latino-americano) do que com "aquela menina chata do seriado Drake & Josh".
Segundo, os que acreditam que, por Miranda Cosgrove "não se sentir atingida" pelas ofensas, não é necessário agir contra os dois vídeos grotescos.
Há também aquela mania solipsista das pessoas que "selecionam" sua indignação conforme as regras da espiral do silêncio.
Na boa, os vídeos ofensivos não foram divulgados por um TMZ da vida, a imprensa estadunidense simplesmente não noticiou e, por isso, os dois vídeos, apesar do alto teor depreciativo contra Miranda Cosgrove, não causam choque.
É consequência da sociedade hipermidiatizada que temos, que produz a indignação seletiva que frequentemente comete injustiças.
Ninguém se empenhou em colocar e divulgar no Twitter e em outros portais de redes sociais a hashtag #RespectMirandaCosgrove.
Fica parecendo que a pessoa só se revolta quando a imprensa autorizar alguma indignação.
É chocante ver que Miranda Cosgrove é agredida por dois vídeos completamente sem graça, grosseiros, claramente ofensivos e que chegam a ter 66 mil curtidas contra apenas 2,6 mil curtidas.
Se fossem brasileiros, os "Músicos Cínicos" seriam bolsonaristas e se enquadrariam no perfil dos "mascus" descritos pela professora Lola Aronovich. Mandei recado a ela neste sentido no Twitter.
O fato de Miranda não ter se sentido abalada pelos vídeos ofensivos, se é que ela tomou conhecimento dos mesmos - eu já mandei mensagens para a Paramount+, que transmite a nova fase de iCarly - , não é desculpa para que os vídeos sejam mantidos, porque eles agridem e ofendem da mesma forma.
É até pior, ver a adorável Miranda fazer sucesso e ser esculhambada pelas costas por um canal de falsos humoristas, tão sem graça e machista quanto qualquer Batoré ou Carioca da vida.
Isso é gravíssimo de todo jeito. E não significa liberdade de expressão. É ofensa do mesmo jeito, ainda mais que são "pedras atiradas do escuro" contra uma atriz talentosa e admirável que é Miranda.
Quem se sente indiferente às comparações ofensivas que "Músicos Cínicos" fazem contra Miranda Cosgrove, com base em suposta semelhança com Michael Jackson, deveria SENTIR VERGONHA de sua falta de sensibilidade humana.
Miranda Cosgrove merece respeito, até pela pessoa batalhadora e competente que ela é.
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