"Lula e PT devem ter aprendido lições com os erros do mensalão, corrupção e a incompetência da Dilma", disse o empresário Lawrence Pih, que foi um dos primeiros a apoiar o PT e Lula em 1980 e rompeu com eles em 2006, até recentemente voltar a defender sua candidatura.
Eu, como jornalista, costumo ter como "passatempo" juntar peças de quebra-cabeças, e normalmente vejo figuras que a maioria das pessoas não vê, acostumada em ver só peças soltas.
No hiato que representou seu tempo de rompimento com PT, Lula e Dilma Rousseff, Pih afirmava que os governos petistas deveriam "cortar os gastos" e "aumentar a eficiência do Estado".
Pih ainda menciona preconceitos antipetistas, mesmo quando volta a apoiar Lula e dizer que o petista "está, virtualmente, com a mão na taça" (leia-se "Lula já tem ganha a campanha presidencial").
Já desconfio muito desse clima de "já ganhou" de Lula, como também desconfio da queda de sua conduta, deixando de lado o lúcido sábio dos tempos em que esteve preso e durante o começo da pandemia da Covid-19.
Sou de juntar as peças de quebra-cabeças, me desculpem. E, repetindo, geralmente vejo figuras desagradáveis a muita gente se formando com as peças unidas.
Vejamos. Houve golpe político em 2016, Dilma Rousseff foi expulsa do poder por conta de umas fofocas reacionárias, o vice Michel Temer a traiu e realizou seu maligno governo.
A burguesia queria retomar o poder, e se consolidou apertando o "botão de emergência" do fascismo, utilizado como "cão de guarda" das elites capitalistas quando estão em perigo.
O golpe político fez cinco anos, o que, em termos historiográficos, significa "ainda há pouco".
Foi como se, na ciranda do tempo, o golpe contra Dilma tivesse acabado de ocorrer.
Não se muda uma coisa rapidamente. Mas, de repente, Lula é o "favorito invicto", ganhando todas assim de bandeja?
Ainda "ontem", Lula estava preso e os neoliberais festejaram a prisão do ex-presidente. Hoje Lula faz acordo com os mesmos que o queriam ver atrás das grades.
As esquerdas infantilizadas e enclausuradas nos seus quartinhos digitais das redes sociais, brincando com sua memecracia, piram e acham que Lula pode ganhar uma eleição exibindo sunga na praia.
Arrogantes, as esquerdas cada vez mais decepcionam como forças progressistas, perdidas num identitarismo ridículo que não faz sequer cócegas no neoliberalismo, que é o que mais quer ver identitários comprando seus produtos e enriquecendo o empresariado.
Enquanto isso, vejo trabalhadores, desempregados e sem-teto sendo abandonados pelas esquerdas que parecem viver em ritmo de festa no Instagram, Twitter, WhatsApp e Facebook.
As esquerdas, vejam só, estão felizes porque "faltam 12 dias para a histórica passeata de Dois de Outubro"! Ficam sempre procrastinando protestos de rua, com intervalos distantes de uma manifestação e outra.
As tribos indígenas manifestam todo dia até que seus povos tenham suas reivindicações atendidas. As tribos não esperam intervalos entre um protesto e outro.
E as esquerdas "civilizadas"? Elas não aguentam fazer micaretas em sábados consecutivos, embora Jair Bolsonaro, no lado oposto, é capaz de ir a duas cidades num mesmo dia de manifestação bolsonarista.
E Lula acabou sendo domesticado, sepultando o antigo líder operário dos áureos tempos e hoje dando entrevista como se fosse uma celebridade vivendo uma vida cor-de-rosa.
E o Lula de hoje é muito pior do que o "Lula Paz e Amor" de 2002, que tinha lá sua relativa razão de ser, com todos os equívocos das alianças que fez. Hoje o Lula está muito pior no seu apetite de fazer alianças às cegas, querendo repetir 2002 diante de um Brasil sucateado.
A declaração de Lawrence Pih trouxe algumas questões.
Que "lições" Lula "teria aprendido" com os "erros do passado"? E que história é essa de "corte de gastos" e "eficiência do Estado"?
Lula parece ter cedido e desconfio muito que seu projeto político está em grande parte comprometido.
Temo que ele não vai realizar sua prometida regulação da mídia, assim como não vai revogar o teto de gastos públicos mas, por outro lado, vai dar o "beijo da morte" na Petrobras, na Eletrobras e nos Correios.
Lula deve ficar só no Auxílio Emergencial de R$ 600 e em limitadas medidas de fortalecimento da economia, apenas criando empregos nos limites exigidos pelo empresariado.
Lula enfatiza demais o acordo com empresários. Ele está domesticado, em nada lembra o histórico torneiro-mecânico que atraía multidões.
Vejo, entristecido mas realista, o antipetismo reacender, e a Folha de São Paulo, a imprensa-mestra do identitarismo cultural, pegando pesado nos ataques contra Lula.
Lula e as esquerdas acabam fazendo o jogo da própria direita moderada que os combateu entre 2002 e 2018 e se esqueceram que houve golpe.
As esquerdas ficam felizes quando a direita moderada e suas instituições "funcionando" arrumam as camas para os esquerdistas deitarem, incluindo uma suíte presidencial para o Lula.
As esquerdas nada fazem, cruzam os braços, e acham que está com o jogo ganho.
A terceira via, com seus milhões de senões, é que age, trabalha, discute projetos e, creio, poderá ter relativas surpresas nas propostas de governo para os trabalhadores.
Não virei reacionário e continuo esquerdista, mas meu realismo num contexto complexo do Brasil de hoje leva a essa constatação.
Afinal, que moral têm as esquerdas, cujo maior ídolo religioso é um "médium espírita" reacionário de Minas Gerais que mais apoiou a ditadura militar do começo ao fim, em quererem recuperar o protagonismo?
Érika Kokay mordeu a isca e deixou que um deputado bolsonarista enrustido colocasse o tal "médium de peruca" como suposto "herói da Pátria", emporcalhando o Livro de Aço com o acréscimo de tão infelizes, vergonhosas (e mentirosas) páginas.
Assim como desconfio que as esquerdas na Bolívia "compraram" sua retomada política com gás e lítio entregues para Elon Musk e companhia, Lula teria "comprado" sua vantagem eleitoral entregando o pré-sal e outras riquezas brasileiras para as "grandes irmãs petrolíferas".
Não confio nessa vitória fácil das esquerdas hoje em dia, acho que há uma grande armação por trás.
Não me chamem de reacionário. É porque em junto peças de quebra-cabeças que acabam formando figuras desagradáveis.
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