POLÍCIA É ACIONADA PARA PRENDER ALUNO QUE MATOU PROFESSORA E FERIU OUTRAS PESSOAS NA ESCOLA TOMAZIA MONTORO, NO BAIRRO DE VILA SÔNIA, EM SÃO PAULO.
A situação do Brasil é complexa e dizer isso parece chover no molhado. Mas se explicarmos por que essa situação está complexa, aí a obviedade dá lugar ao conhecimento de problemas diferentes do que o chamado senso comum está acostumado a saber
O atentado de ontem, na Escola Estadual Tomazia Montoro, na Vila Sônia, na Zona Oeste de São Paulo, conetido por um estudante de 13 anos que planejava realizar massacres, é apenas um dos casos de violência diversos que oxorrem em várias partes do Brasil. Mas ele choca pela pouca idade do rapaz e pelo calculismo com que pretendia exterminar outros alunos e professores.
O menor matou a facadas a professora veterana Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, por represália pelo fato dela ter apartado uma briga com outro aluno, devido ao comentário racista daquele que depois cometeu o crime. Na ocasião do ataque de ontem, o garoto usava uma máscara neonazista e se inspirava nos massacres de Suzano (SP) e Aracruz (ES) - lembremos de outro massacre escolar que ocorreu bem antes, em Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011 - para realizar o atentado. Uma outra professora teve que conter o rapaz para evitar tragédia maior.
Temos um culturalismo que legitima as desigualdades sociais sob diversos aspectos. Preconceitos de esquerda e de direita, e preconceitos vindos até de gente "sem preconceitos". Um país perdido entre o hedonismo infantilizado que dá o tom do Lollapalooza Brasil e o obscurantismo religioso que promove cantorias evangélicas dentro de um supermercado de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro ,ou permite realizar filmes "espíritas" que mais parecem rascunhos de telenovelas de décimo escalão.
Um culturalismo que implora de joelhos para não ser definido como viralatismo cultural - oficialmente restrito a um "culturalismo sem cultura" do noticiário político, da propaganda governamental e da educação familiar ou, quando muito, da etiqueta social ou do humorismo sociopata - , herança do conservadorismo sociocultural da Era Geisel transmitida acriticamente de geração em geração, cria essas neuroses, por vezes liberada ou consentida, por outras sufocada por um não-raivismo que aposta na fraternidade religiosa da raposa com a galinha.
Esse não-raivismo que defende a precarização da cultura popular, o obscurantismo religioso, a manutenção de paradigmas sociais problemáticos - como limitar as paqueras a bares, boates ou, quando muito, por aplicativos nas redes sociais - , faz do Brasil uma panela de pressão prestes a explodir.
Tudo acabou ficando "tóxico", desde os ambientes profissionais de muito assédio sexual e colegas piadistas até a positividade tóxica da dançarina de "pagodão" supostamente "empoderada". Se temos até a misericórdia tóxica que, perdoando demais o algoz e criminalizando a vítima, não aceita que feminicidas possam morrer um dia - já existem alertas, na Internet, de que o cantor brega Lindomar Castilho e o jornalista Pimenta Neves estão a poucos passos de seus túmulos - , então nosso Brasil está doente.
A necessidade de mudanças de valores, sem dispensar a urgência de combater o ódio bolsonarista, vai além desses limites, pois os "brinquedos culturais" das esquerdas médias remetem a valores, simbologias e personalidades promovidos pela ditadura militar e próprios de um contexto sociocultural bastante conservador.
O erro das esquerdas em acolher esses "brinquedos culturais" da direita não pode ser justificado pelo pretexto da democracia nem pela presunção de fazer o povo pobre sorrir. Até porque são valores que, mesmo positivos, sufocam e tentam abafar neuroses e preconceitos que, em dado momento, abrem caminho para ações como a do adolescente que tentou realizar o massacre numa escola em Vila Sônia ou num homem que matou duas pessoas na festa beneficente em São Carlos, no interior paulista. Gente envolvida em conflitos e tensões diversos, num sistema de valores injusto de uma sociedade que eventualmente produz seus "monstros" por omissão ou perversidade. Ainda que estes "monstros" sejam alunos de formação social e familiar problemática, como o criminoso mirim da escola da Vila Sônia.
O não-raivismo, tendência baseada numa cega apreciação da alegria e dos aparatos de paz e de amor, é uma farsa na qual se mede o maniqueísmo pelo humor, se esquecendo que se pode ofender os outros usando o aparato da alegria e, na noitada alegre e divertida dos bares, feminicidas futuros se escondam sob a conduta descontraída e simpática de estranhos bem aparentados. Os piores venenos têm sabores deliciosos e os animais mais venenosos possuem aparência adorável. Devemos usar o bom senso para saber o que é bom ou mau e não nos deixarmos levar pelo aparato do humor.
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