Pular para o conteúdo principal

O BRASIL AINDA NÃO ESTÁ MELHOR

 

JAIR BOLSONARO RETORNANDO AO BRASIL.


O Brasil ainda não começou a se reconstruir. Até porque o governo Lula, infelizmente, tapeou ao falar tanto em urgência na reconstrução do país para depois tratar as coisas como se tudo já estivesse bem. Uma "reconstrução" que não chegou a começar e já é dada como "concluída".

Na verdade, a reconstrução é mais complexa do que se imagina, pois o "desenho" sociocultural brasileiro remete aos tempos da ditadura militar, entre o fim do governo de Emílio Médici e o fim do governo de Ernesto Geisel.

Nossos "heróis" religiosos remetem a esse tempo. Como eles causam muita polêmica mas lembram os bons tempos do vovô e da vovó ou do papai e da mamãe mostrando esses "heróis", junto a outros que a gente via no Programa Sílvio Santos, no Jornal Nacional e no Globo Esporte, o apego a taia ídolos faz muitos de nós evitar a ruptura, guardando nosso lixo simbólico nos porões do nosso inconsciente. Muitos de nós até nos esquecemos desses "heróis", mas nunca os abandonamos.

Digo "nós" por formalidade, pois eu faço minha parte, abandonando ou não aderindo ao entulho culturalista "positivo", que até agora não é reconhecido como parte do patrimônio maligno do viralatismo cultural. Até agora, viralatismo cultural é reconhecido somente pelo noticiário político ou por paradigmas socioculturais em que o raivismo é tão escancarado que soa vilania de comédia de ficção, como pastores neopentecostais e humoristas sociopatas.

Ninguém quer admitir o alto custo de seu "bom" culturalismo, considerado "saudável" por não ter a raiva como linguagem e por supostamente representar "coisas boas". O "funk", a axé-music, o Espiritismo brasileiro, o Big Brother Brasil, os campeonatos de futebol, o "pagode romântico", o erotismo obsessivo de Mulher Melão e Geisy Arruda, tudo isso é tão culturalmente vira-lata quanto o ódio bolsonarista, mas como são coisas "positivas", muitos preferem enquadrá-los nas "boas coisas da vida".

Mas não são. Esses valores são velhos, mofados, supérfluos. Não se alcança o Primeiro Mundo por meio deles, muito pelo contrário. Como também não é endeusando o Michael Jackson como o gênio supremo que vamos virar potência, porque, enquanto tratamos o astro pop como coisa de outro mundo, no seu país de origem, os EUA, ele nunca foi o gênio supremo e nos últimos 20 anos de vida ele agia como uma subcelebridade.

O grande problema é que muitos brasileiros guardam esses entulhos culturais no armário, quando eles causam problemas. Quando não causam, são tratados como "patrimônios" e exaltados como se fossem a "identidade" e "motivo de felicidade" dos brasileiros.

O que se fez, salvo em raras ocasiões, é ressignificar o velho culturalismo da Era Geisel como se isso fosse acima dos tempos, das pessoas e das tribos. Dar um verniz de novo a coisas velhas e obsoletas ou ressignificar de maneira forçadamente progressista ou moderna ícones da música, do esporte e da religião que sempre foram extremamente conservadores, quase tanto como um bolsonarista de carteirinha.

Romper com tudo isso seria um primeiro passo para um longo caminho para o Primeiro Mundo. Mas esses entulhos culturais ainda soam agradáveis para muita gente que uma ruptura seria como partir o coração. Infelizmente nosso país está atrasado demais e nossa sociedade é escrava da mídia e do mercado, de forma tão intensa que poucos conseguem perceber, como alguém que pisa em fezes sem se dar conta disso.

O bolsonarismo é fruto de parte desse inconsciente culturalista mas não é o único, pois há muita coisa "legal", da gíria "balada" à ilusão de que só bares e boates são cenários para paquera, há muita coisa que precisa ser incluída no escasso dicionário do viralatismo cultural. 

Até mesmo o Tribunal da Internet de internautas malcriados que não aceitam quem discorde do "estabelecido", é também viralatismo cultural, na medida em que a defesa cega de coisas medíocres ou mesquinhas leva muita gente a ofender e agredir o outro à toa, sem medir as consequências nefastas e o papel de ridículo que terão depois esses trogloditas virtuais.

Temos que rever esses valores e denunciar a hipocrisia dos que permanecem nesse viralatismo cultural que não quer ser assim reconhecido. É esse culturalismo, que mostra o provincianismo travestido de globalismo da "boa" sociedade brasileira, que trava o desenvolvimento pessoal do Brasil.

O bolsonarismo está decadente, mas não está morto. E fora de seu perímetro, há um culturalismo não assumidamente vira-lata que persiste de dorma preocupante. E assim a sociedade "tudo de bom" que "só vê HBO e Netflix" fica o tempo todo ouvindo Jovem Pan, lendo Folha de São Paulo e prestando devoção ao "frei" Galvão Bueno da religião da bola.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

OS CRITÉRIOS VICIADOS DE EMPREGO

De que adianta aumentar as vagas de emprego se os critérios de admissão do mercado de trabalho estão viciados? De que adianta haver mais empregos se as ofertas de emprego não acompanham critérios democráticos? A ditadura militar completou 60 anos de surgimento. O governo Ernesto Geisel, que consolidou o Brasil sonhado pelas elites reacionárias, faz 50 anos de seu início. Até parece que continuamos em 1974, porque nosso Brasil, com seus valores caquéticos e ultrapassados, fede a mofo tóxico misturado com feses de um mês e cadáveres em decomposição.  E ainda muitos se arrogam de ver o Brasil como o país do futuro com passaporte certeiro para ingressar, já em 2026, no banquete das nações desenvolvidas. E isso com filósofos suicidas, agricultores famintos e sobrinhos de "médiuns de peruca" desaparecendo debaixo dos arquivos. Nossos conceitos são velhos. A cultura, cafona e oligárquica, só defendida como "vanguarda" por um bando de intelectuais burgueses, entre jornalist

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

TRINTA ANOS DE UMA NOVELA DA PESADA

A PRIMEIRA VERSÃO DE A VIAGEM  "PRESENTEOU" OS FUNCIONÁRIOS DA TV TUPI COM A FALÊNCIA DA EMISSORA. Triste país em que executivos de TV e empresários do entretenimento montam uma falsa nostalgia, forjando valores e fenômenos falsamente cult  para enganar as novas gerações, que levam gato por lebre com esse pseudovintage feito para lacrar nas redes sociais. Vide a gourmetização da mediocridade musical com, por exemplo, Michael Sullivan, Chitãozinho e Xororó e É O Tchan, nomes que deveriam cair no esquecimento público, pelas obras deploráveis que fizeram. Na dramaturgia, a coisa não é diferente num país em onde Caio Ribeiro, Luva de Pedreiro e um tal de Manoel Gomes (do sucesso "Caneta Azul") são considerados cult  e hit-parade  é confundido com vanguarda, qualquer coisa pode ser alvo dessa "nostalgia de resultados " que transforma o Brasil no Olimpo da idiotização cultural. A coisa chega ao ponto de uma novela infeliz, com temática mais medieval do que Game