A preguiça combinada com pretensiosismo do público brasileiro médio causa sérios problemas, ao avaliar seus ídolos musicais pelo juízo de valor ou pelo achismo, sempre tomado pela cegueira emocional.
Há inúmeros exemplos, descritos aqui neste blogue, em que os jovens substituem o cérebro pelo umbigo na hora de avaliar as músicas que gostam de ouvir. Daí o terraplanismo musical que define como "anti-comercoal" o sucesso comercial do momento, só porque supostamente fala do cotidiano do ouvinte. Vá entender que um conjunto de dançarinos cantantes do pop sul-coreano cante coisas do "cotidiano" de jovens da Barra da Tijuca ou de Nova Iguaçu.
Agora, temos o exemplo da banda britanica Coldplay, comandada pelo carismático Chris Martin, que é até o tipo do galã boa praça. O grupo é constantemente definido como "rock alternativo", o que é um erro bem grosseiro.
O Coldplay nunca foi, nem é e nem será rock alternativo. Há razões de sobra para isso. Seu som é um pop romântico com verniz "roqueiro", assim como o grupo de soul britânico Maroon 5. Ambos, aliás, sempre foram o mainstream do mainstream, algo como o Jota Quest, o Jovem Dionísio e o KLB aqui no Brasil.
Até o primeiro LP, Parachutes, de 2000, é mainstream até a medula. Um pop romântico bem no clima da ressaca melancólica dos anos 1990. E o Coldplay sempre esteve dedicado a um som convencional que o fez fazer tanto sucesso que se esquece que o Coldplay é inglês e não uma nanda dos EUA, apesar de Chris Martin ter sido marido de uma atriz estadunidense e hoje namorido de outra.
O grupo lota plateias com facilidade. Está nas paradas de sucesso com facilidade, também. O Coldplay já tocou com Beyoncé, tem versões de seus sucessos para as pistas de dança. É o tipo de grupo que se apresenta até nas arenas do Super Bowl, evento esportivo myito popular bos EUA.
Musicalmente, o Coldplay não tem a complexidade melódica daa bandas de rock alternativo. É um som mais pop, mais convencional, que no Brasil penetra fácil no público medíocre das redes sociais, desses que pensam que o som do É O Tchan é "sofisticado".
O Coldplay penetraria fácil nas hoje extintas trilhas coldplay é uma banda de pop novelas da Globo, é capaz de unir, tanto quanto os Mamonas Assassinas, as FMs Jovem Pan e 89 FM A Rádio Rockefeller e influencia até o "sertanejo universitário" e o pop popularesco existentes no Brasil. Luan Santana, que canta em cruzeiro marítimo, deve muito ao Coldplay pela forte influência no som do brasileiro.
Na sua turnê no Brasil, o Coldplay está cumprindo um total de 11 apresentações, algumas com ingressos esgotados nas primeiras vendas. Nada menos alternativo. E Chris Martin é o tipo do cantor que atende os pedidos do povão, não faz o tipo do cantor mensageiro à maneira do Morrissey nos tempos dos Smiths.
Um grupo que faz uma música pomposa como Viva La Vida não pode jamais ser definido como rock alternativo. Aliás, o Coldplay é alternativa a quê? A si mesmo? Ao MC Créu? Ao Jair Bolsonaro? Ao Amado Batista? Ao Nelson Piquet? Ao Pokémon?
Não. Sabemos que aqui o pretensiosismo burro faz com que até Chitãozinho & Xororó e Michael Sullivan virem cult e Leandro Lehart e Luís Caldas, tão comerciais quanto Paulo Guedes, se vendam como "artistas alternativos". Mas isso não quer dizer que se permita chamar o Coldplay de "rock alternativo". Devemos combater a burrice em vez de ampliá-la.
Afinal, sons realmente de vanguarda ou sofisticados ou alternativos não são curtidos pelo público brasileiro em geral. E a breguice ou o pop convencional que são rotulados com tais qualidades só refletem a total desinformação e estupidez arrogante das pessoas, num país como o Brasil, em que um artista mediano como Michael Jackson virou "gênio supremo" às custas de uns meros videoclipes nem tão geniais como se dizem por aí. Em terra de cego, quem tem um olho míope é rei.
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