FAVELA SOL NASCENTE, EM BRASÍLIA, É CONSIDERADA A MAIOR DO BRASIL.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) adiantou dados a respeito das favelas existentes no Brasil, e divulgou que a Rocinha, situada no bairro de São Conrado, no Rio de Janeiro, não é a maior favela do Brasil, pois seus 30,955 domicílios foram superados pelos 32.081 da favela Sol Nascente, em Brasília.
Não são dados para comemorar. A única coisa comemorável é o começo da redução de áreas caraterizadas como favelas em todo o Brasil, de 13.151 para 11.403. Mas, apesar dessa redução, infelizmente há setores da sociedade brasileira, inclusive entre as esquerdas identitárias, que definem as favelas como "instituição", incluindo até mesmo "centrais únicas" e realização de campeonatos.
Num país em que, por outro lado, começa a combater a escravidão, tendo ocorrido o recente caso do resgate de 212 trabalhadores de um conjunto de propriedades da região de Itumbiara, Goiás, empregados vindos do Maranhão, Rio Grande do Norte e Piauí, deveríamos perceber que as favelas são um problema, não um estilo de vida nem uma identidade sociocultural.
É também uma época em que moradores de São Sebastião, no Litoral Norte paulista, se queixam de abandono, semanas depois do trágico temporal. Eles não foram assistidos prlo poder público e as promessas de novas residências não foram cumpridas. E isso quando a Defesa Civil aponta novas áreas de risco no município litorâneo.
Pobreza não é identidade. É uma situação de inferioridade social. É muito triste ver que pessoas que vivem nessas áreas arriscadas, perigosas, insalubres, sem sequer acessibilidade, sejam menosprezadas pela narrativa que "carnavaliza" as favelas, uma retórica trazida por muita gente considerada prestigiada e influente, verdadeiras "unanimidades" dentro do seu meio.
Não temos sequer 150 anos em que a "boa" sociedade deixou de defender de maneira explícita o trabalho escravo. Os tataranetos da Casa Grande, que são antropólogos, cineastas de documentários, jornalistas culturais, cantores de música "provocativa" e outros famosos ou "bacanas", burgueses dissimulados por um aparato "hippie" ou coisa parecida e por um certo vitimismo cultural, não podem se achar mais povo que o povo.
É lamentável que esse pessoal todo, de gente que vai de acadêmicos, como Paulo César de Araújo e Rodrigo Faour, a nomes recentes como o "provocativo" Rubel, a "sensação" do momento e sósia do Murilo Benício, se ache "mais povo que o povo" sob o pretexto de que essa classe média, mais herdeira da Casa Grande do que o conscientizado cineasta Waltinho Salles é herdeiro do Itaú, "entende mais de pobre" porque o pobre, supostamente, não tem direito de conhecer a si mesmo.
Não, meus caros. Favela não é instituição. Prostituição não é empoderamento feminino. Breguice cultural não é vanguarda. Não podemos nos deixar levar por esse etnocentrismo cordial de uma elite burguesa que, só porque toma cerveja num botequim de subúrbio, fica se achando a "nata" do povo pobre por esse Brasil adentro.
São os tataranetos da Casa Grande, que com suas narrativas celebram as favelas como se estas fossem os "paraísos", os habitats naturais dos pobres, os cenários permanentes de hipotética prosperidade sociocultural.
Na nossa mídia - felizmente a mídia progressista recuou de acolher essa burguesia festiva fantasiada de "pobre", agora se contentando com o entrincheiramento na mídia corporativa (Globo, Folha ou mesmo portais de Internet como Yahoo! Brasil e Terra Brasil) - , a pobreza, ao ser convertida em "identidade" e não uma tragédia social, permite que políticas sociais se tornem menos eficientes, contribuindo mais para a manutenção do que o combate à pobreza, à escravidão, a outros problemas relacionados.
Problemas dos sem-teto? Resolve-se com paliativos tipo oferecer marmitas e barracas de acampamento. Favelas? Ponha-se saneamento básico, energia elétrica e Internet banda-larga, e medidas paliativas como financiar atividades de entretenimento. São coisas que não interferem no sistema de classes e deixam os miseráveis em sua situação inferior, em certos casos dramática, mas minimizadas por algumas medidas assistencialistas que só diminuem os efeitos drásticos desses sofrimentos.
Não há como a intelectualidade "bacana" ser meritória ao celebrar, como se fosse o Guiness Book, as "maiores favelas do Brasil", Sol Nascente - surgida numa Brasília outrora planejada pela dupla Oscar Niemeyer e Lúcio Costa - e Rocinha (um problema social nada resolvido depois que Carlos Lacerda removeu duas favelas da Zona Sul e transferiu moradores para as então novas comunidades Cidade de Deus e Vila Kennedy, através de medida controversa, mas de certo modo necessária).
Não. Respeitemos os favelados. Não podemos confundir solidariedade com os favelados com solidariedade com as favelas. Cenários e ocupações não são pessoas. Respeitemos favelados e prostitutas, mas combatamos as favelas e a prostituição. Devemos defender, assim como o fim da escravidão resistente no interior do Brasil, a desfavelização e todo tipo de amparo social aos pobres, para evitar o trabalho precário, a miséria, a desolação e outras tragédias vividas pela multidão miserável.
Reduzir as favelas é uma necessidade, e a diminuição do total de favelas, de 13.151 para 11.403, é um avanço, mas é um índice pequeno. Deve-se pensar a reurbanização do Brasil, para dar ao nosso povo moradias dignas, trabalhos humanizados com boa remuneração e outras ações para promover a qualidade de vida para nosso povo. Sem retóricas políticas nem ações paliativas, talvez com muita ação e pouco alarde, pois o que importam são os resultados. Nosso povo merece respeito.
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