No último dia do festival The Town, no último domingo, repetiu-se o número de John Fossit, tecladista de Bruno Mars, que, no intervalo em que o cantor se retirava momentaneamente do palco, executava a composição do brega bolsonarista José Augusto, "Evidências", sucesso na voz da dupla breganeja Chitãozinho & Xororó. Desta vez, Xororó com a esposa Noeli e o filho e também cantor Júnior apareceram na plateia, com o integrante da dupla cantando o referido sucesso.
Não custa repetir que não se pode exigir do The Town um posicionamento cultural mais relevante, mas mesmo num evento marcado pela mediocridade musical da qual pouca coisa se salva, até o sucesso "Evidências" soa mais deslocado do que descolado.
Se fosse em Woodstock, a música "Evidências" seria rejeitada severamente, pois seria encarada como um dos hinos da mais gosmenta e mofada caretice, não sendo aceita de forma alguma pela juventude mais engajada que primava pela qualidade musical.
Lembremos que Chitãozinho & Xororó são o suprassumo da caretice, da breguice e do conservadorismo cultural que só a juventude confusa que consome redes sociais, fala gírias decadentes como "balada" (© Jovem Pan) - que já devia cair em desuso; lá fora a turma da descolândia investe no bom e velho party (festa), sem forçar a barra na gramática-lacração daqui - e confunde hit e lacração com "vanguarda".
Tudo isso se dá porque temos uma ordem social velha, em que o entretenimento está nas mãos de empresários conservadores em diversos setores, gente que, da música popularesca aos festivais internacionais de música, da mídia corporativa ao futebol, manipula o imaginário da sociedade brasileira para que ela seja domesticada, padronizada e inofensiva (mas violenta em ocasiões que vão do "tribunal de Internet" a brigas de torcidas, fratricídios e feminicídios), dentro do espírito ao mesmo tempo conservador e reacionário concebido em 1974, auge da ditadura militar.
Por isso temos um Brasil velho que precisa inventar uma gíria falsamente moderna, como "balada", para soar "diferente do mundo", e criar um vintage postiço através de breguices irritantes como Chitãozinho & Xororó, Michael Sullivan e É O Tchan, a "santíssima trindade" dessa canastrice musical que o viralatismo cultural cultua como falsas relíquias.
Devemos avisar que "Evidências" não se tornou a "Garota de Ipanema" da vez e, portanto, esta música nem de longe se tornou um sucesso mundial. Ela nem fôlego tem para ser a nova "Feelings", só para citar um sucesso brega de Morris Albert que foi um dos raros a furar a bolha brasileira.
Por enquanto, temos que suportar essa megalomania dessa juventude hedonista que pouco está aí para o mundo, o que ela quer é impor suas convicções e exibir sua arrogância na defesa dessa "cultura de massa" que pensam ser vanguarda. É um monte de terraplanismo cultural que nem o cenário lulista resolve. Muito pelo contrário, vide a complacência dos lulistas com a bregalização musical, parte dos "brinquedos culturais" que as esquerdas receberam de presente da direita comportada.
Todavia, o tempo vai passar e o que parece moderno hoje vai parecer antiquado no futuro. Não vai colar o vitimismo que os bregas sempre adotam para se passarem por modernos quando sofrem um desgaste de sucesso. Gírias como "balada" também não farão mais sentido e até o mercado publicitário desistirá da ideia de usar essa gíria imbecil, devolvendo a palavra para a tradicional definição de música lenta e história triste.
Mas, neste caso, talvez o fantasma de Agostinho dos Santos passe a assombrar a turminha do "Eu Odeio Acordar Cedo", que com seu "tribunal da Internet" tentou me destruir quando eu questionei, no Orkut, a validade da gíria "balada". Os violinos e violoncelos dramáticos e a voz chorosa do saudoso cantor, falecido há 50 anos, irão martelar nas mentes dessa juventude hedonista e arrogante, grudando em suas mentes embriagadas de tanta mediocridade.
"Balada Triste", sucesso de Agostinho dos Santos em 1958, será o tema dessa ressaca inesperada que o Brasil medíocre será obrigado a ouvir, depois de saber da impossibilidade do nosso país alcançar o Primeiro Mundo. Afinal, citando Deoclécio Luz, não se faz revolução com o breganejo de gente como Chitãozinho & Xororó. "Evidências" apenas mostra as evidências do viralatismo cultural que assola nosso país.
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