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LULA LANÇA PROGRAMA DE COMBATE À FOME COM NOVE MESES DE ATRASO

 LULA E JANJA ABRAÇAM APOIADORA DURANTE LANÇAMENTO DO PROGRAMA BRASIL SEM FOME, ONTEM, NO PIAUÍ.

O governo Lula teria sido melhor se o presidente não tivesse colocado o carro na frente dos bois. As maiores prioridades de seu governo ele deixou para depois: os programas em favor dos trabalhadores, para o quinto mês do atual mandato. Já o combate à fome, em que pese o anúncio de uma comissão para analisar o problema da fome em março, somente foi anunciado ontem, praticamente no nono mês de governo.

Lula não poderia ter enfatizado a política externa. Sei que essas viagens empolgam os lulistas porque estes são de classe média abastada, passeiam de SUV e viajam para a Europa como os moradores do Baixo Gávea se deslocam para a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Assim, sob o ponto de vista de quem vai para Los Angeles como quem vai para a casa da tia, é ótimo Lula ficar viajando.

Essa "boa" elite, descendente politicamente correta da Casa Grande e dos golpistas de 1945, 1964, 1968 e tendo aprontado das suas em 2016, é que não sabe o que é um país devastado, pois seu ativismo é marcado por alegria maior que a festa - que não deveria haver, num contexto de revolta, diga-se de passagem - e a "boa" sociedade fica brincando de memecracia achando que, com isso, vai mudar o mundo.

Lula deveria passar o ano inteiro apenas dentro do Brasil. Sua prioridade absoluta e rigorosa deveria ser implantar, no primeiro dia, uma série de medidas para combater desemprego, fome e miséria. Não se viu um sinal dessas medidas em janeiro.

Não podemos fingir que tudo estava acontecendo desde o primeiro dia. Confesso que fiquei chocado quando o lulistas faltaram com a verdade e passaram a fugir de textos questionadores ao atual governo publicados aqui e ali. De repente, essa sociedade em fuga deixou a máscara cair, sendo a pequena burguesia que, na sua hipocrisia, passou a ver a pobreza humana não como um problema crônico, mas como uma "identidade cultural".

Ontem Lula lançou, em Teresina, no Piauí, terra do ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, o programa Brasil Sem Fome. Caprichando na exploração do sentimentalismo, Lula, contradizendo o que disse antes sobre o Bolsa Família, definido como o "mais completo programa de combate à pobreza do Brasil", admitiu desta vez que o programa "não é definitivo", mas uma iniciativa feita como "quase urgência" e mantida até que os brasileiros mais pobres "arrumem definitivamente a casa".

Lula disse preferir a expressão "cuidar do povo" do que "governar". Mas passou vários meses viajando, coisa que só empolgou mesmo a classe média que praticamente monopoliza as narrativas nas redes sociais. Por isso a baixa repercussão dos textos contestatórios, já que os deserdados da festa lulista quase não têm voz e vez na Internet, forçado a comer das migalhas e os ossos da vaquejada bolsonarista. 

É vergonhosa essa confusão toda, que só a elite do bom atraso aprova. Um Brasil que ainda não se reconstruiu e se vê festejos realizados antes da hora. Não se pode reclamar. Mesmo jornalista conservadores, como William Waack, andaram com relativa lucidez e criticaram a ideia de Lula se achar "dono da verdade" e ter obsessão por um projeto político de 20 anos atrás. Os lulistas infantilizados saíram por aí com aquele enjoado esnobismo de quem só quer despejar ironias nas redes sociais.

Ninguém quer falar a verdade. A "boa" sociedade está feliz com Lula, porque Lula é só "uma ideia". Se Lula passasse o ano todo fora do Brasil, curtindo uma praia em Saint Tropez e Cote D'Azur, junto com sua Janja, a elite do bom atraso, neta do golpistas de 1964-1968 agora convertida a "comunista desde criancinha", acreditaria que Lula estaria "cuidando do povo" só porque é Lula.

Os preços dos alimentos ainda não baixaram de maneira satisfatória. O mercado de trabalho, salvo exceções, se divide entre o setor privado que contrata comediantes e o setor público que contrata resmungões, e até a taxação dos super-ricos deve atingir apenas gente do nível de Roberto Campos Neto, Paulo Guedes, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e a família Bolsonaro, tal a micharia de R$ 11,3 bilhões por ano que serão arrecadados pelas cobranças.

Alguma coisa melhora aqui e ali, mas s a "boa" sociedade não suporta ouvir ou ler críticas realistas ao governo Lula, num momento de reconstrução do Brasil em que senso crítico e cobranças são ferramentas necessárias, um aviso: o que se evita ler nos questionamentos descritos em textos será apresentado pela realidade e sentido a carne daqueles que preferem o Brasil da positividade tóxica. Reconstruir o Brasil não é viver no mundo da Barbie. 

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