Os recentes óbitos, supostamente por suicídio, da jogadora de vôlei Walewska Oliveira, do servidor público que viralizou com o meme "Cadê meu Green (Card)?", Luís Carlos Pereira de Lima, e de Rafael Puglisi, o "dentista dos famosos", independente dos possíveis motivos das respectivas tragédias, têm como ponto comum, de certa forma, a sociedade tóxica que se tornou a brasileira.
Isso é apenas parte do preço muito caro cobrado de um Brasil que não sabe se já reconstruiu ou vai ainda ser reconstruído. Temos uma velha ordem social da elite de privilegiados que derrubou Jango, pediu a ditadura e o AI-5 e consolidou seu poder durante o "milagre brasileiro" e a Era Geisel, mas que hoje se fantasia de "esquerdista" e quer parecer bem na fita apoiando cegamente o governo Lula, não tolerando crítica alguma contra ele, nem mesmo uma vírgula.
Temos gente que ganha demais e não sabe o que gastar, e gente com dinheiro se esgotando e acumulando dívidas e gastos necessários mas impossíveis de serem feitos. Pessoas doentes querendo se curar, sem poder, e pessoas saudáveis buscando a doença, através de um hedonismo egoísta e cego. Ambientes profissionais marcados pela toxicidade dos assédios morais e sexuais. Temos até mesmo feminicidas que levam a melhor na conquista de novas mulheres do que muito rapaz de índole boa e generosa.
O clima de tensão social continua forte, apesar de haver o outro lado das ações positivas. É porque o progresso brasileiro está pequeno, realizado mais como exceção à regra e para fazer funcionar de novo o relógio da democracia. Nada de muito revolucionário, diga-se de passagem.
Afinal, temos o outro lado de uma sociedade que defende a desigualdade e finge ser contra. Os netos dos golpistas de 1964 que viraram tietes de Lula, o que não é difícil pois, a ver que o presidente foi feliz da vida negociar com o neoliberal Joe Biden um "plano de valorização do trabalho", nota-se que o esquerdismo do petista cada vez mais se reduz à fachada, com o presidente do Brasil cada vez mais à vontade no seu peleguismo.
O medo de muita gente ler textos com senso crítico reflete, entre outras coisas, num mercado literário cada vez mais divorciado com a missão de transmitir Conhecimento. E temos um contexto em que o mercado de trabalho, salvo eventuais exceções, prefere contratar pessoas "divertidas" do que talentosas, num extremo oposto da meritocracia que vê mais a esperteza do que o talento.
É essa a sociedade que tomou conhecimento dos possíveis suicídios, que aqui não vou comentar no que se refere aos aspectos pessoais, mas que, muito provavelmente, ocorreram pela pressão das circunstâncias, mostrando o lado sombrio de um contexto social em que até a alegria torna-se tóxica, com cargos de jornalismo tomados por comediantes, com pessoas se enriquecendo para estocar cigarros, cerveja e carrões e pessoas que passam a madrugada rindo alto e histericamente de suas piadas sem graça.
Há um medo muito grande das pessoas em tomarem noção dos problemas do Brasil. Preferem apenas "admitir" superficialmente os problemas, naquela atitude vira-lata do pretenso "gente como a gente" dos quenuncas. É como se estivesse passando pano nos desastres cotidianos, achando que a espécie humana vive bem com isso.
Mas encarar os problemas, questionar, verificar o que está errado, poucos se encorajam. Há um medo muito grande, além de uma preguiça em atribuir o erro unicamente ao bolsolavajatismo, como se o mal estivesse somente em Jair Bolsonaro e Sérgio Moro e não nas "boas coisas da vida" que compuseram o culturalismo da Era Geisel e seus derivados posteriores.
A sociedade brasileira não curou de seu conservadorismo. E a velha ordem social só recebeu uma dose de maquiagem, de botox, banho de loja, uma repaginada na aparência, e até um verniz "esquerdista" que a própria elite do atraso nunca imaginou utilizar e agora utiliza com gosto, para parecer "avançadinha".
Se até o presidente dos EUA, Joe Biden, que chegou a ser um dos artífices internacionais do golpe contra Dilma Rousseff, agora posa de "esquerdinha" para os "marxistas de butique e de boteco" do lulismo atual se derreterem - infelizmente, eles sempre arrumam um "direitista" para chamar de seu, associado a valores positivos como a "paz" e a "alegria de pobre" - , então nosso Brasil tenta pintar de rosa o vermelho socialista, ou melhor, deixa desbotar esse vermelho para que ele fique bem rosadinho.
Enquanto o sonho confuso do Brasil mal reconstruído não resulta em pesadelo imprevisto - devemos lembrar que grande parte dos pesadelos começam como sonhos bons - , as pessoas tentam jogar as tragédias aqui e ali debaixo do tapete, e vão para o boteco mais próximo beber o rodízio de cerveja para comemorar um Lula que fala até bonito no exterior, mas pouco faz para merecer a grandeza que seus apoiadores falam tanto do presidente. Até aqui o Brasil continua muito, muito tóxico.
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