Ser solteiro, no entretenimento que rola solto na mídia e nas redes sociais, é sinônimo de ser livre e feliz, é mesmo? Na verdade, não. A própria liberdade, neste contexto de um lazer hedonista sem limites e sem escrúpulos, é deturpada pelo poder midiático, pois poucos percebem que "liberdade" é apenas um produto oferecido por algumas famílias midiáticas, da família Frias à Abravanel, passando pelos Mesquita, Marinho e alguns outros clãs.
Nesta sociedade hipermidiatizada e hipermercantilizada que é a brasileira, o entretenimento não surge com a naturalidade do ar que respiramos. Até porque esse "ar livre" vem dos escritórios dos executivos de mídia, que através de um entretenimento consumido primariamente pela classe média abastada, que influi na aparente popularização, com a responsabilidade toda atribuída ao povo brasileiro em geral.
E aí temos uma cultura imbecilizante, marcada não só pela mediocridade como também por uma grande e grave hipocrisia. Como a forma de ver os fenômenos popularescos como "anti-comerciais" ou até mesmo "vanguardistas", o que se trata de uma ilusória insanidade, porque esses fenômenos são o contrário do que se pode chamar de "anti-comercial" ou "vanguarda".
E isso reflete na imagem lúdica das pessoas solteiras, que sofrem todo tipo de preconceito, mesmo aquele considerado "positivo". Há o solteiro 'hedonista", o idiota que só quer se divertir sem que use sequer o ócio como algo proveitoso na vida. Há a solteira erotizada, que acha que seu corpo é "livre", mesmo que ele siga as diretrizes do machismo estrutural, que promove a objetificação da mulher.
Temos também a solteira beata, a celibatária mística e "espiritualizada", como há também a solteira fanática por futebol. São posturas defendidas de maneira exagerada, ainda que eventual, que acabam criando um incômodo exotismo, que torna essas mulheres, mesmo bonitas, repulsivas de toda maneira.
Por outro lado, todavia, essa idiotização da mulher solteira ou do homem solteiro são defendidas por argumentos pseudo-racionais de internautas "politicamente corretos", que entendem o que é normalmente idiota como "naturalmente livre", ou seja, eles não percebem a idiotização, pois a veem na forma de "felicidade" e de "livre curtição das boas coisas da vida".
Essas posturas exageradas, como o sexo, a religiosidade e o fanatismo pelo futebol, são trabalhadas para transformar a imagem da pessoa solteira numa pessoa fora da normalidade, num compulsivo, numa pessoa dotada de um certo retardamento mental e desprovida de responsabilidades na vida.
Mas há também um homem solteiro "do contra", o "celibatário involuntário" que é conhecido pela sigla em inglês, "InCel", que é alvo de um terrível preconceito. Pois é o "mau solteiro" que, em vez de se divertir na embriaguez alcoólica da vida noturna, fica em casa comendo biscoitos ou bebendo líquidos como Nescau, bebida láctea em geral ou refrigerante.
E isso é gravíssimo e é aí que entra a solteirofobia. O "solteiro-problema", adulto que ainda vive com os pais, o "ressentido" que não se encoraja a ir, nas noites de fins de semana, para a casa noturna, mesmo que as ruas estejam perigosas de madrugada, as boates sejam caras, os frequentadores pouco confiáveis e o lazer com álcool e farra sejam desprovidos de qualquer proveito humano.
Pior: mesmo as esquerdas criam uma imagem surreal do InCel, um aberrante "terrorista" que "planeja massacres" jogando Paciência no computador ou quando come biscoitos com Nescau oferecidos pela mãe ou pela avó. Uma pessoa fora da realidade, que as esquerdas boêmias e festivas inventam, com claro objetivo de passar uma imagem preconceituosa, sem pé nem cabeça, distorcendo estereótipos de psicopatas ou sociopatas trazidos por seriados de televisão.
O mais vergonhoso e constrangedor é que essa narrativa do InCel esbarra em fatos de jovens mimados "flagrados" agredindo namoradas que "surgiram do nada", pois eles, em tese, tinham dificuldades extremas de arrumar namoradas. Uma narrativa cheia de insanidade, diga-se de passagem.
Vamos combinar que a maioria dos feminicidas é de homens que são os "piadistas do bar". Ser violento não significa necessariamente ficar de mau humor o tempo todo, infelizmente pessoas violentas podem se dissimular, com mais frequência e facilidade do que se pensa, em pessoas "divertidas".
A vida noturna, cheia de pessoas indignas de confiança, é que se torna reduto de homens perigosos, que enquanto tudo parece alegre e animado, são simpáticos, bem-humorados e divertidos, naquele lazer regado a muita cerveja. A mídia também lança muita propaganda enganosa de bares e boates, até para atender a interesses comerciais de donos desses estabelecimentos, e muita gente cai nessa. As mulheres caem na lábia de um homem "divertido" e mal sabem que acabam levando um inimigo para casa.
Quanto aos solteiros e solteiras, a idiotização acaba fazendo com que as pessoas "sérias" prefiram a vida de casados, mesmo que seja para maridos e mulheres se comportarem como meros amiguinhos vivendo uma relação sem graça, para obter a segurança da vida conjugal em detrimento da vida idiotizada das pessoas solteiras, que são sempre alvos de preconceitos e estereótipos cruéis trazidos pela "sociedade do espetáculo" à brasileira.
Comentários
Postar um comentário