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"FUNK" REPRESENTA O POBRE QUE A BURGUESIA GOSTA

TURISTA OBSERVA A FAVELA DA ROCINHA, NO RIO DE JANEIRO, COMO UM EXEMPLO DE COMO ESSAS ÁREAS VIRARAM PAISAGENS DE CONSUMO E CENÁRIOS DOS SAFÁRIS HUMANOS NO BRASIL.

Em declaração recente, a funqueira Valesca Popozuda, ao agradecer sua confirmação no elenco de cantores que se apresentarão na posse do presidente eleito Lula, o evento Festa do Futuro (sic), investiu mais uma vez na famosa carteirada vitimista do "funk", com aquele papo de que o gênero "conquistou seu reconhecimento". "É do povo", disse a funqueira.

Essa narrativa chorosa, que dura vinte anos, é na verdade uma pretensa unanimidade forjada por uma classe média abastada e confortável que se acha dona da verdade, dona do povo, dona do mundo e dona do bom senso. Só a burguesia do Projac e da Faria Lima, da Barra da Tijuca e do Alto de Pinheiros, julga o que quer e o que pode o povo pobre. Daí a choradeira em torno de um gênero musical tão grotesco, medíocre e idiotizante que é o "funk".

O "funk" é tão ridículo que, enquanto as elites acadêmicas cheias de Doutorado falam que o gênero é "herdeiro direto dos batuques africanos introduzidos no Brasil", seu som, sempre com uma batida eletrônica invariável a cada temporada, hoje se limita a reproduzir, com bateria eletrônica, a batida de uma lata de ervilhas imitando o som de percussão indiana. 

Desmascarado pelo meu corajoso livro Esses Intelectuais Pertinentes..., o "funk" é a trilha sonora do pobrismo. O estilo aborda a pobreza de maneira gourmetizada, fazendo com que a miséria deixe de ser um problema social para se transformar numa "identidade" e até mesmo, pasmem, num "ideal de vida". 

O ufanismo das favelas, uma narrativa vinda de uma classe média "filha" do "milagre brasileiro" da ditadura, mas hoje tendenciosamente alinhada às esquerdas hoje domesticadas pela chapa Lula e Geraldo Alckmin, é o ingrediente principal desse pobrismo musical que representa o "funk" e sua narrativa ora vitimista e chorosa, ora triunfalista e arrogante.

O "funk" discrimina a figura do músico, sempre movido pela relação hierarquizada do DJ, este o "cérebro" da performance funqueira, e o MC, este o porta-voz, quase um "assessor de Comunicação" do gênero. Além disso, o "funk", além de gourmetizar a pobreza, glamouriza a ignorância humana e passa pano nos valores retrógrados que assimila, como o machismo, culpando, da boca para fora e sem agir frontalmente contra, a "sociedade em geral" por tantas baixarias.

O "funk" é o pobre que a burguesia ilustrada da "classe média de Oslo", que prevalece no Brasil, tanto gosta. Um pobre de novela das 21 horas da Rede Globo, ela própria propagandista maior do "funk" junto à Folha de São Paulo (a Globo populariza e a Folha cria um discurso "intelectual" para tornar o ritmo "mais valioso").

Essa imagem "autêntica" do povo pobre pela narrativa do "funk" é difundida de maneira persistente frente às paixões paternalistas da elite do atraso agora convertida em "elite consciente", "democrática e cheia de amor para dar". É o "humanismo de resultados", idiota!!

E para quem acha que eu estou sendo direitista com estes questionamentos, está enganado. Sou mais esquerdista que muito petista de carteirinha, se eu fosse candidato à Presidência da República teria evitado colocar um neoliberal da gema como vice na minha chapa.

Eu vejo o problema das favelas saindo da visão etnocêntrica da Casa Grande. A visão ufanista das favelas é difundida pela "iluminada elite brasileira" como se fossem supostos quilombos privatizados pela simbologia paternalista das instituições burguesas.

O pobre não vive em Carnaval permanente. O pobre não é esse idiota coitadista querendo ser levado a sério. É muito diferente do "pobre de boutique" do imaginário funqueiro. O pobre vive seus dramas, viver na favela não é essa maravilha toda, e os problemas vão além da violência policial.

E quem acha que as críticas ao público do "funk" partem de hipotéticas madames hidrófobas, é bom deixar claro que muitas mães se afligem quando veem suas filhas irem para um "baile funk", retornando, muitas vezes, grávidas por rapazes que, de repente, desaparecem no dia seguinte, depois da aventura sexista da diversão funqueira.

A favela não tem acessibilidade, suas construções são arriscadas, e, às vezes, ocorrem deslizamentos, incêndios e outras tragédias. Recentemente, um incêndio ocorreu próximo a uma favela no Morro dos Cabritos, em Copacabana, no Rio de Janeiro, tirando o sono de quem morava próximo. Detalhe: o incêndio teria sido causado por fogos jogados para saudar a Seleção Brasileira de Futebol. Um preço caro pelo fanatismo doentio e tóxico que contamina os torcedores de futebol no Rio de Janeiro.

Os favelados, em São Paulo, sofrem muito com incêndios, que destroem comunidades inteiras, acordando muita gente de surpresa. Pessoas perdem tudo, e isso é muito ruim. É um pesadelo que, lamentavelmente, não cabe na narrativa feliz da burguesia intelectual que se acha "mais povo que o povo" mas só vê a favela de longe, achando que ela é o "paraíso com tijolos nus em suas casas".

E o que vemos, por trás desse discurso "generoso" sobre o "funk" e seu ufanismo das favelas? Simples. Favelas viram "paisagens de consumo", cenários para um fenômeno aberrante chamado "safári humano", em que os pobres são vistos como se fossem "animais exóticos", num racismo estrutural mascarado pelo politicamente correto, essa postura tão criticada que, no Brasil, agora se traduz pelo suposto combate ao ódio, que de forma generalizada combate todo tipo de "contrariedade".

Afinal, a onda do "humanismo de resultados", desse "amor" condicionado pela "democracia do sempre dizer 'sim'", agora só prega o acordo, a concordância, o "deixa pra lá". Geraldo Alckmin mandou destruir o bairro de Pinheirinho, em São José dos Campos? Deixa para lá. O "funk" trata o povo pobre como um imbecil? Bota tudo debaixo do tapete. O "pagodão" baiano trata o negro pobre como se fosse um tarado debiloide? Faz-se vista grossa.

O pobre tem que ter a aparência asséptica da narrativa "generosa" dessa intelectualidade "bacana" que conduz o imaginário ideológico da "sociedade do amor", desse amor que mais parece um "amordaçar" sem raiva, uma recomendação para que fiquemos calados porque um Brasil em silêncio promete levar o país ao Primeiro Mundo, bastando apenas sermos obedientes a essa "classe média de Oslo" cheia de si, a essa "elite do atraso" agora convertida no principal fã-clube do Lula de hoje, o golfinho a nadar alegremente com os tubarões da Faria Lima.
 

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