SUBCELEBRIDADES SE DIVERTEM NA PISCINA, DURANTE A FAROFA DA G-KAY.
O "novo" Brasil é um país qualquer nota, que apenas eliminou a raiva como motor comportamental. Mas é um país medíocre, que prefere deixar tudo como está, apenas jogando fora o lixo bolsonarista, mas sem deixar a essência de um viralatismo cultural enrustido.
Há a chamada "guerra cultural" não só nos hidrófobos de plantão, mas da "boa sociedade" dita "progressista", "democrática", "livre" e "cheia de amor para dar". O "humanismo de resultados" requer condições de pura mediocridade, combinando assistencialismo barato ao povo pobre e hedonismo desenfreado na "classe média de Oslo", a classe média medíocre, a classe média remediada.
Deixem os "funks", os falsos sambas, os pseudo-artistas, as subcelebridades, e que se brinquem de fazer socialismo de mãos dadas com o empresariado da Faria Lima. E esse "humanismo de resultados", esse "amor incondicional" condicionado pela aceitação e pela conformidade, mostra o quanto esse "novo" Brasil não é mais do que uma reciclagem do Brasil de 1974 da Era Geisel, quando a bregalização crescia como uma bola de neve. E o Brasil de 1974 já era uma repaginação do velho Brasil colonial do século XVII, só que com todas as devidas adaptações de contextos.
A "classe média de Oslo" não quer Semana de Arte Moderna. Quer a Farofa da G-Kay. Ela não quer Bossa Nova, quer "funk". Não quer Tom Jobim, quer Michael Sullivan. Não quer qualidade de vida, mas consumismo, não quer dignidade, mas hedonismo. Não se quer um Brasil desenvolvido, mas um Brasil que sirva aos interesses de uma pequena elite que se acha "a mais legal do planeta", a própria "classe média de Oslo".
A "liberdade" é menos livre, porque é regulada pela mídia. Não se regula a mídia, a mídia é que regula a liberdade humana, que é um produto, uma franquia de umas poucas famílias midiáticas, que decidem até a gíria que todos devem falar. Vide "balada", a gíria da juventude festeira da Faria Lima patenteada pela Jovem Pan e popularizada a partir da Rede Globo, por meio de Luciano Huck.
Esse "novo" Brasil velho quer "amor", mas quando lhe convém parte para o valentonismo, termo que uso como forma abrasileirada de bullying, para lembrar a todos que essa triste prática não foi inventada pelo Estado do Colorado, nos EUA, nos anos 1990. O que se entende oficialmente como bullying aparece até em obras como O Ateneu, que Raul Pompeia lançou em 1888, só para citar um exemplo.
Daí que os triunfantes desse "novo país", a "galera que só quer amor", parte para humilhar quem estiver fora da linha. Na campanha presidencial, os lulistas humilharam, feito valentões de escola, a Terceira Via e mesmo o bolsonarismo. Na Copa do Mundo, torcedores brasileiros humilham as seleções eliminadas da Alemanha e da Espanha.
Os humilhadores se acham injustiçados, mas são os valentões com mania de triunfalismo. O Brasil é o único país em que valentão posa de "nerd" e, agora, com o novo governo Lula, os pseudo-esquerdistas dos "tribunais de Internet" de 2005-2007 voltarão em ação, com o sentimento fascista jogado para dentro do armário enquanto fingem que suas humilhações contra quem está "fora do sistema" só são "manifestações de alegria saudável e de amor". Então tá.
Trata-se de uma arrogância sem limites, um esnobismo terrível, na qual uma elite que se julga "alegre" prefere fazer chacota com a fraqueza do outro. Um Brasil arrogante, que se acha triunfante, que não tem um pingo de humildade e quer alcançar o topo da geopolítica mundial através do arrivismo, sem medir meios nem escrúpulos, mas tendo sempre o objetivo de vencer e alcançar o topo na marra.
Tudo isso é megalomania. Um Brasil que se autoproclama predestinado em dominar o mundo. Um Brasil vira-lata mas quer ter pedigree. Um Brasil que tenta ser o dono do mundo, mas não o Brasil de todos, do verdadeiro povo, mas de um "povo" que aparece nas redes sociais, na mídia, na "sociedade do espetáculo" enrustida, mascarada pela "admirável liberdade" liderada pelas subcelebridades hedonistas.
As esquerdas brasileiras entraram nesse clima e impuseram um protagonismo que não passa de uma miragem, num contexto em que, na vizinha Argentina, a vice-presidenta Cristina Kirchner é condenada por suposta corrupção, uma pressão das elites em afastar, quando não pode domesticar, políticos de esquerda. Por enquanto dá para domesticar Lula, o ursinho de pelúcia da Faria Lima, "entusiasmado" em falar com Joe Biden, presidente dos poderosos Estados Unidos da América.
Sim, porque o Brasil não está próspero para a volta das esquerdas ao poder. E não está. O que vemos é Lula abandonando o projeto esquerdista e tendo que realizar projetos sociais dentro do mínimo denominador comum tolerado pelo neoliberalismo. Lula até pensou em tolerar o orçamento secreto, mas voltou atrás, mas já mantém cautela com o teto de gastos e desistiu de revogar a temerosa reforma trabalhista.
No mês passado, perdemos, só da MPB, pelo menos cinco artistas: Paulo Jobim, Rolando Boldrin, Bebeto Alves, Gal Costa e Erasmo Carlos. Não são pouca coisa. Para um Brasil culturalmente pior do que em 1963, quando a ideia de "vintage" hoje está associada a mediocridades como Michael Sullivan, É O Tchan e todo o "funk", a situação é de fazer careca arrancar os cabelos que não tem de tanto desespero.
Esse "novo" Brasil, apegado à breguice e alternando hedonismo desenfreado com obscurantismo religioso, mas sempre sem a estética do raivismo nem a gramática do hidrofobês, só serve a uma classe média abastada que se julga "a humanidade por excelência", com sua megalomania que a coloca pretensamente acima de tudo e de todos. Acima dos super-ricos, dos pobres, dos brasileiros, do mundo, da verdade, da inteligência, das ideologias.
É a elite do atraso movida pela Síndrome de Dunning-Kruger e pelo Complexo de Superioridade que faz os medíocres vira-latas se acharem os reis da cocada preta. E todo mundo disfarçando a arrogância por um senso de humor mais sorridente, afinal agora todo mundo diz que "só quer amar". Até que o "amor" desse "novo" Brasil, diante de futuras tensões sociais, se transforme em "amordaçar".
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