Que 2022 terminou bastante complicado, isso é verdade. Pelo menos no Brasil, um país marcado por muita confusão, já que é um país comandado por uma elite do atraso que acha que tem a verdade em suas mãos.
Mas a situação não está mole para todo mundo. 2022 terminou sem o craque Pelé, vítima de câncer aos 82 anos, tragédia que se repetiu nesse começo de ano, quando o futebol também perdeu Roberto Dinamite. Os dois óbitos são um alerta de que o futebol glorioso é coisa do passado e hoje temos o futebol-mercado da emotividade tóxica e de seu fanatismo perigoso que há muito perdeu a esportiva.
No popularesco, dois nomes dos anos 1990 também se foram, a compositora Rita de Cássia, autora de um dos sucessos do forró-brega "Meu Vaqueiro, Meu Peão", do grupo Mastruz com Leite, e Renatinho Bokaloka, do grupo de "pagode romântico" Bokaloka.
Enquanto isso, ocorriam os preparativos para a posse de Lula, que em seu novo mandato mandou embora o esquerdismo, trocado por um projeto "qualquer nota" sob o eufemismo de "democracia", desculpa usada para combinar o que restou de inofensivo nas políticas populares com a essência do Estado burguês a decidir "de cima" o que o povo pobre merece ganhar ou não.
A posse teve os clichês esperados trazidos pela recente campanha de Lula, convertido em um ursinho de pelúcia da Faria Lima, embora consagrado, ainda, com um mito imaginário que faz palpitarem os corações de seus adeptos, combinando o antigo sindicalista que não existe mais com o presidente de dois mandatos anteriores que já era moderado, mas tinha a proximidade com as causas progressistas que o Lula 3.0 não tem mais, apesar das promessas conhecidas.
Afinal, do antigo projeto progressista, só restou aspectos que não contrariam os interesses das elites: combate à fome e o desemprego, dentro dos limites do neoliberalismo. Lula até faz encenação, fingindo brigar com o "mercado", mas a verdade é que o "novo" governo Lula mais parece um crossover entre José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e o que restou dos mandatos anteriores de Lula.
A cerimônia de posse foi de uma pieguice exemplar, embora houvesse o temor de um atentado. Houve armamento apreendido de um bolsonarista e um drone destruído por um tiro dado por um membro da segurança, e Lula conseguiu concluir a cerimônia de posse e abrir caminho para o tal Festival do Futuro, um evento que começou MPB e terminou bem popularesco.
O governo começou com a posse dos ministros, que receberam destaque personalizado, pois cada ministério realizava a posse do seu titular, em lugar da antiga cerimônia unificada com os ministros empossados juntos. O vice-presidente Geraldo Alckmin acabou obtendo um cargo ministerial, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
O que chamou a atenção, nos últimos dias, foi a reunião de bolsonaristas combinada vários dias antes, com a presença anunciada de ônibus estacionados em Brasília. Era uma manifestação ainda mais forte do que os protestos de bolsonaristas em rodovias, a manifestação dos caminhoneiros solidários à causa fascista e os acampamentos que, em maior parte, ocorreram próximos a quartéis do Exército.
No último dia 08, uma tentativa de golpe ocorreu cerca de dois anos após a invasão do Capitólio por apoiadores de Donald Trump, nos EUA (06 de janeiro de 2021) e um ano após a queda de um cânion (tipo de formação rochosa muito comum nos EUA) em outro Capitólio, uma cidade do interior de Minas Gerais, que matou 10 pessoas, parte delas num barco chamado Jesus (08 de janeiro de 2022).
Apoiadores de Jair Bolsonaro, indignados com a vitória eleitoral de Lula - devemos lembrar que os bolsonaristas ficariam menos revoltados se seu ídolo político tivesse perdido a reeleição derrotado por um político da direita moderada - , invadiram o Congresso Nacional e o prédio do Supremo Tribunal Federal, causando vandalismo e desordem.
Os apelos desses golpistas foram os mesmos: intervenção militar para a derrubada do governo Lula e a revisão das urnas eletrônicas, acusadas de fraude. Os bolsonaristas alegam que Jair Bolsonaro venceu as eleições e que uma parte das urnas teria sido sabotada para forjar a vitória de Lula.
A revolta bolsonarista envolveu, pelo menos, 1.200 manifestantes, que tentaram fazer contra Lula o que o Movimento Fora Bolsonaro teve medo de fazer contra Bolsonaro, pois os anti-bolsonaristas preferiram fazer manifestações sazonais, com longos intervalos entre um evento e outro, e o clima estava mais para carnaval de rua do que para protesto político. Fracasso total.
Até a edição deste texto, começam as investigações sobre os responsáveis pela invasão em Brasília, seus financiadores e até mesmo quem facilitou o ingresso dos golpistas nos dois prédios. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, decretou a suspensão do mandato do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), por três meses. Seu secretário de Segurança, Anderson Torres, corre o risco de ser preso. No Congresso, há uma mobilização pela abertura da CPI do Golpismo, que já conta com o total de assinaturas necessárias para sua realização.
Lula nomeou o interventor Ricardo Cappelli, que é secretário-executivo do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, para cuidar do Distrito Federal. Forças federais e distritais foram acionadas para impedir a volta de novas manifestações golpistas.
Enquanto isso, o presidente da República se reuniu com governadores dos Estados da nação para discutir as punições aos bolsonaristas e as medidas preventivas para atos semelhantes. Na Avenida Paulista, em São Paulo, houve manifestações em favor da "democracia". Acampamentos bolsonaristas foram desmontados, pouco depois de, no mesmo dia da invasão em Brasília, golpistas se juntaram na marginal do Rio Tietê bloqueando o trânsito, queimando pneus e soltando fogos.
Aparentemente, a crise política começa a ser resolvida. Mas os fatos mostram que o Brasil começou o ano em situação bastante complicada.
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