Mais um nome do rock se foi e, desta vez, foi o cantor e guitarrista Tom Verlaine, fundador e líder da banda novaiorquina Television, que eu curto bastante. Ouvi as faixas da banda através da saudosa Fluminense FM, que também tocava faixas solo do vocalista, jogando na programação normal sem ter garantia alguma de lançamento de discos no Brasil.
As única chances de ter Television lançado no Brasil foram os discos Marquee Moon e Adventure, de 1978, do qual eu tive uma cópia comprada em sebo nos anos 1990. Estes dois álbuns originais do Television só tiveram prensagens pela WEA brasileira no fim dos anos 1970, mas não houve novas cópias em vinil, chegando aqui apenas os CDs importados. O grupo retornou em 1992 para lançar um novo disco de estúdio, chamado apenas Television. Fora isso, coletâneas e álbuns ao vivo foram lançados ao longo do tempo.
O falecimento de Verlaine, de 74 anos incompletos , depois de uma "breve doença", foi divulgado pela filha da cantora e compositora Patti Smith, Jesse Paris Smith. Patti era parceira de Verlaine em alguns discos. Nascido Tom Miller na cidade de Denville, Nova Jersey. Iniciamente Tom queria ser músico de jazz, aprendendo piano e saxofone e apreciando o som de John Coltrane e Stan Getz. Mas ele iniciou a carreira no rock depois de ouvir "19th Nervous Breakdown" dos Rolling Stones.
O sobrenome Verlaine foi escolhido para homenagear um poeta muito admirado pelo músico, Paul Verlaine. E isso encontra um paralelo com outro saudoso músico surgido na ascensão do punk, Pete Shelley, dos Buzzcocks, outro nome que faz muita falta para o cenário alternativo de hoje. E vale citar uma curiosidade, tanto Buzzcocks quanto Television tiveram a saída de outros membros importantes, respectivamente Howard Devoto e Richard Hell, para formarem, respectivamente, Magazine e Richard Hell and the Voidoids.
O Television - deve ser coincidência, mas a abreviatura de Television, TV, remete às iniciais de seu líder e fundador - foi uma banda que, ao lado de Ramones, Blondie e Talking Heads, atuou no cenário musical punk de Nova York, no meio dos anos 1970.
Com um som altamente melódico, o Television era inspirado fortemente no Velvet Underground, o que dava um cento pós-punk já na época do punk, pois era evidente a influência que a poesia de Lou Reed trazia para Verlaine, além da preocupação melódica e dos experimentos instrumentais que iam além das fronteiras punk. Outras influências de Verlaine foram Ventures, Dick Dale, 13th Floor Elevators, Love e Buffalo Springfield.
Tom Verlaine fez também uma produtiva carreira-solo, com dez álbuns, tendo sido o último lançado em 2006. As reuniões esporádicas da banda ocorreram para apresentações ao vivo, sendo que em 2011 a banda se apresentou no Brasil, no festival Beco Music 203, em São Paulo, no dia 07 de julho. Em 2020, a banda confirmou que havia gravado um novo álbum, que permanece inédito.
Verlaine também fez parte do grupo Million Dollar Bashers, com dois membros do Sonic Youth, Lee Ranaldo e Steve Shelley, os guitarristas Nels Cline e Smokey Hormel, o baixista Tony Garnier e o tecladista John Medeski.
A influência de Tom Verlaine e do Television coloca a banda nova-iorquina como um nome seminal do rock, influenciado quase todo o rock alternativo dos anos 1980, nos EUA e na Grã-Bretanha. A influência de Tom Verlaine é notória em bandas como Weather Prophets de Peter Astor, e também refletiu no som das bandas do subestimado movimento shoegazer, através de nomes como Ride e My Bloody Valentine.
Mas o som do Television também ecoou no cenário do rock dos anos 2000, em grupos como Strokes, o que mostra o quanto os roqueiros de hoje têm uma dívida com o legado de Tom Verlaine, mais um músico a nos deixar, depois de Jeff Beck e David Crosby. Se estes estavam relacionados ao rock clássico, Tom Verlaine está relacionado ao rock alternativo de vanguarda e ao rock independente dos últimos anos, e será mais um que parte, nos deixando um legado que será para as futuras gerações, lá no exterior.
Aqui, com a erosão cultural que temos e com o rock brasileiro só agora começando a se reativar - e ainda dentro do cenário mainstream com a volta da formação clássica dos Titãs - , ainda há gente achando que vanguarda é, por exemplo, os decadentes Backstreet Boys que estão se apresentando no Brasil. Brinca-se de "cultura alternativa" nos quintais do mainstream mais abjeto, através do pop comercial estrangeiro e do brega gourmetizado dos últimos 50 anos. Aqui a "televisão" de Tom Verlaine tinha dificuldades para ser sintonizada além das bolhas juvenis mais alternativas.
Comentários
Postar um comentário